A Hidra de sete cabeças


O mundo está em convulsão social. Estamos enfrentando uma crise de relacionamento, onde se percebe que os interesses pessoais e as vaidades estão acima do bem estar coletivo. As Nações incorporam também esse pensamento e surgem os mecanismos de defesa e a muralha da China, pode renascer na fronteira dos EEUU com o México. E vários “muros de Berlim” já existem e o “concreto” cedeu espaço aos acordos ou imposições de grupos armados ou econômicos. Escudos anti-mísseis, leis protecionistas, subsídios criminosos e restrições para imigrantes advindos de paises sub-desenvolvidos, justificam o ditado antigo de que “quem semeia ventos, colhe tempestade”, embora haja aqueles que fazem tempestade num copo d´ água e motivos fúteis, sempre são ou serão motivos de guerra.

Criamos várias hidras de sete cabeças ou mais, no entanto, cada uma delas com tentáculos e cabeças burras e de ação limitada. A internet não é propriamente o oceano imenso dessas manifestações “democráticas”, mas um enorme caldeirão que ferve com temperatura controlada e enormes termômetros que regulam torneiras que se abrem e fecham sem que ninguém perceba. Essa rede universal de conhecimentos e de intrigas não é propriamente a origem dessas hidras, muito bem identificadas pelos autores do livro Peter Linebaugh e Marcus Rediker, mas tornou-se uma sala de cinema, onde o livro se materializa de forma espetacular e o que é mais interessante, sem intenção clara e deliberada. E todo esse raciocínio sugere uma suspeita interessante: A de que teria sido a Internet uma enorme bomba de efeito devastador que teria acordado sem o menor propósito deliberado, a maior e mais terrível hidra de todos os tempos.

Ficou mais difícil controlar a humanidade e estabelecer códigos de ética e limites e dessa forma essas hidras com sub-tentáculos que cantam “samba de uma nota só”, crescem agressivas e burras. Não percebem que os holofotes que fazem o seu brilho, em muitos casos é o reflexo de sua própria imagem num espelho criado para simular a ilusão do sucesso de suas ações covardes e de vandalismo.

Pensam que estão afinadas com as necessidades do mundo e nessa manifestação de egocentrismo exacerbado, mostram o que é realmente um “samba de uma nota só”. O que eu quero dizer é que a internet ampliou e desdobrou o campo de ação dessas hidras que se reproduzem em forma de blogs e sites sem conteúdo político e social, são blogs- camarins de pavões do tipo “GL” (movimento de gays e lésbicas). Fazem muito barulho, para dizer a todos, tudo aquilo que já estamos cansados de saber. E “morrem” de tédio também, porque ficam asfixiadas e engasgadas com as próprias palavras.

Recomendo a leitura dessa obra, uma espécie de história não identificada no tempo certo, de um sentimento oculto de trabalhadores braçais (teoria relevante) e que inexplicavelmente passa de geração a geração. Interpretações diversas podem ser dadas e colhidas e que podem justificar mutações no comportamento humano contemporâneo, como apregoa o livro nas entrelinhas; Trata-se uma obra inteligente e de autores visionários.

A classe trabalhadora após os descobrimentos ou mais especificamente a partir do Novo Mundo, sempre foi multi-étnica (uma obviedade desnecessária no livro) e os conflitos a partir daí foram naturais e permanecem até hoje. Seremos todos, reflexo desse comportamento? Alguns se identificam como opressores de outrora e outros pela cor da pele se identificam como oprimidos. (Surge o auto-flagelo escandaloso e pirotécnico) A pirotecnia se manifesta “atrás de um trio elétrico” ou na ação predadora com técnicas de guerrilha eletrônica, via e-mails ou demonstrações pálidas e de abrangência familiar.

Como resultado disso, o mundo perdeu o encanto. Cada um de nós vê aquilo que quer ou precisa ver. A lua de São Jorge o Guerreiro, não é a mesma lua dos namorados e muito menos daqueles que acreditam em lobisomens que andaram perambulando pela rua do vai e volta, ou na curva perigosa da “volta do gato”.
A humanidade nesse momento, apresenta um desequilíbrio e uma pergunta fica no ar: No balanço geral, um cortador de cana não seria muito mais útil do que aquele mutante que se transforma num combatente feroz de pequenos feudos como se fosse uma dessas cabeças barulhentas dessas hidras desgarradas?

Será que estamos finalmente bem no centro da larva quente de um vulcão onde os mutantes não querem definitivamente, nunca mais ouvir dizer essa frase:

“Manda quem pode, obedece quem tem juízo”.

É exatamente aí, onde todas as hidras nervosas, células de “auto-flagelo” da sociedade, se arrebentam e se esticam e morrem por saberem que seu campo de ação é limitado pelo tamanho padronizado de seus tentáculos. Essa é a diferença entre os “Tinicas” daquele tempo e os “Beneditinos” de hoje. Eu nunca afirmei que isso é genético, pois como “um pequeno burguês” (ou apesar disso) sempre quis acreditar que o “homem é fruto do meio”. E ironicamente, sempre tentando reforçar essa hipótese, custo a crer também naquilo que sou e naquilo que me transformei. Sou apenas o instrumento da orquestra fantástica da demagogia e da ironia e com essas duas notas posso comandar uma hidra de sete cabeças, onde os “chutadores de baldes” são a matéria prima do meu laboratório. Sobreviver deixou de ser uma mescla de atitudes sensatas e sentimentos. Passou a ser um ato de guerra.

Evidente que, partindo do pressuposto que tendo sido acordada essa hidra gigante, (via internet) estejamos todos retornando ao campo das idéias (ideogenia) e reiniciando a era dos bárbaros bem dotados tecnologicamente com efeitos imprevisíveis.
Luiz Bento (Mostradanus)
Enviado por Luiz Bento (Mostradanus) em 27/03/2012
Reeditado em 17/09/2012
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