Criar! Num estalo o processo.



É um momento incrível o de criar...Sem a pretensão de o ser, uma ideia, um insight, um estalo?
Não há coerência.Pura divagação, seja o caminho percorrido qual for. Surpreendente sempre a cada concepção: seja de uma busca, de uma necessidade que se abre, uma atitude provocada por uma ideia, um olhar, uma leitura, um percepto no cotidiano, um instante, uma imagem ao vivo ou virtual, natural, uma experiência vital, uma paixão momentânea, algo instigante mesmo. Vem como um raio, se instala por meandros da consciência e de imediato se esvai se não o toma em competente momento acontecendo em comportas abertas onde jorram fertilizadas ondas em vibração energética. Algo assim de agônico e epifânico !Bela ansiedade se abre em possibilidade...
E esteja onde estiver há que despertar , correr, se agarrar à anotação, por no papel seja qual for o espaço (já anotei muito em papel higiênico no banheiro, com lápis de sobrancelha, baton , na falta de caneta ou algo de anotar). Até no escuro já escrevi, tudo torto, sobrepondo letras e frases só pra não acender a luz, não me acordar de vez e ao João, meu marido.
Quantas vezes perdemos momentos reveladores por preguiça de levantar no meio da noite.
No trânsito então, sempre estaciono o carro e o coração na guia mais próxima pra melhor me apropriar do momento de contemplação.
Quantas vezes me extasio com o céu, a paisagem do poente, no lusco-fusco da tarde, uma música inspiradora de melancólicos bemóis cadentes, um filme, o gesto de uma criança, a infância, um idoso, uma dádiva inesperada, quase impossível de um fato social, como a maestrina que se doa ao ensino musical em canto lírico ou música erudita numa cadeia, para assassinos perdidos, desiludidos...Comovente! Ao coração do vazio, no mistério de existir.
E a cor, a luz projetada numa obra de arte em alguma exposição num museu como o MUBE onde encontrei Sérgio Lucena e me petrificou ...E os vendavais de Turnner em Copenhagen...
Epopeia provocativa ininterrupta também é terminar um livro...Não dou conta de ler o que eu gostaria, jamais! O bom é que nunca se sabe quando vai ser e chegar. E premeditar, nem pensar. Seria forçar um processo que não se prevê ...no paradoxo de viver.
Quantas vezes tento preservar a forma, imaginar, visualizar, criar mecanismos de retenção conjugando verbos, nomenclaturas, adjetivando nomes. Enfim, cada momento é único, sensível emoção desde que apreendida e assimilada, pois pode escapar , fugir, e sabe-se lá pra onde e se...quando, irá voltar...