Educacionismo: uma boa ideia?

Wilson Correia

Em um artigo intitulado “Como funciona a máquina da desigualdade no Brasil”, Tânia Bacelar, da Universidade Federal de Pernambuco, argumenta que a concentração dos meios de produção, a orientação do mercado para a exportação e o consumo de luxo, a atuação oligopolizadora do Estado e a mentalidade senhorial das classes altas brasileiras estão na base de nossa “sociedade fraturada, marcada por enormes diferenças de padrões de vida e de oportunidades entre seus habitantes”.

Ao longo do século XX, período em que o Brasil passou de predominantemente agroprodutor para majoritariamente urbano-industrial, aqueles fatores estiveram sustentando a mentalidade desenvolvimentista que por aqui prevaleceu e que ainda comanda nossa visão de presente e futuro. Mas, desenvolvimentista em que sentido se tornou nosso país?

Bacelar entende que o Brasil se fez desenvolvimentista na perspectiva material apenas, esquecendo-se de promover, pari passu, a potencialização de nosso patrimônio humano. Por isso, entregamo-nos a fazer estradas, pontes, prédios e assemelhados, enquanto que a educação nunca recebeu a atenção devida de norte a sul, de leste a oeste brasileiros. De fato, entre nós, educação nunca foi prioridade.

Nessa linha, argumenta Bacelar: “Em pleno século XXI, a revolução educacional ainda está por ser feita no Brasil. As elites nacionais não têm essa sensibilidade e o Estado sempre se negou a assumir a tarefa. Ele fez estradas, produziu energia, concedeu subsídios, financiou investimentos, mas não fez a revolução educacional que o Estado capitalista japonês promoveu”. Nem promoveu o desenvolvimento educacional que a Coréia executou.

Na esteira dessa constatação, talvez valha lembrar a defesa da tese do “educacionismo” que Cristovam Buarque fez e continua a fazer. Segundo Buarque, nem capitalismo nem socialismo deram conta de criar condições a que o humano vivesse em situações existenciais de mais e melhor qualidade, o que demonstra que o caminho para uma sociedade mais igualitária, justa, livre, democrática e plural não passa pelo viés econômico, mas, sim, pelas trilhas da educação.

Buarque argumenta: “Na hora que todo mundo tiver uma escola igual, os filhos das classes médias e altas terão que disputar com os filhos dos pobres”. Daí o lema: “O filho do trabalhador na mesma escola do filho do patrão; o filho do eleito senador, deputado, prefeito, na mesma escola do eleitor. Na escola pública”. O que se quer: “Escola igual para todos”, porque “Educação é progresso”.

Nossa visão de mundo ainda é consubstanciada por aquela ideia de que desenvolvimento e progresso devem ser materializados na base concreta das coisas, quando deveriam se voltar para o lado humano de nossa nação. Mudar essa visão de mundo não parece fácil. Porém, não estamos aqui diante de algo impossível.

Bastam decisões humanas, políticas e ideológicas pertinentes a esse novo ideário para que essa nova forma de encarar a urgência da educação se concretize entre nós. E a sociedade precisa acordar para isso, e mais ainda aqueles que fazem e sofrem a educação em nosso país. Nesse sentido, o educacionismo não é uma má ideia.

Fontes:

Bacelar: http://www.viomundo.com.br/politica/tania-bacelar-como-funciona-a-maquina-da-desigualdade-no-brasil.html

Buarque: http://youtu.be/6S4WISt4D1M

Vale conferir!