Nossa linguagem, nosso mundo

Wilson Correia

Tenho feito seguidas e intencionais referências ao fato de 70% dos brasileiros encontrarem-se na condição de alfabetismo funcional, sendo 38% deles em ativa vida universitária de nossas universidades, longe da vida cidadã desejável.

Eis que agora me chega outro indicador relativo ao desempenho de nossos egressos universitários: 92,8% dos bacharéis em direito recém-saídos dos bancos de nossas faculdades, também eles cidadãos pela metade, foram reprovados em língua portuguesa no exame da Ordem dos Advogados Brasileiros de São Paulo, sinal relevante de que, talvez, nos demais entes confederados brasileiros a situação não seja diferente.

Isso me trouxe à memória o que disse Wittgenstein: “Os limites de minha linguagem denotam os limites do meu mundo” (Tractatus, 4.003), frase que pode inspirar breve atividade de pensamento sobre nossa vida cotidiana: à luz desse dito, como ficam os “analfabetos funcionais” e, também, os bacharéis brasileiros referidos acima?

De modo geral, ser protagonista na cultura letrada requer o emprego significativo da língua: saber ler e escrever com sentido, significado. Para quem cursa ou cursou a universidade esse estado desejável para todos se torna um dever, ainda mais quando sabemos que desses sujeitos é requerido o emprego do padrão culto da língua portuguesa.

E é aí que entram as críticas ao nosso sistema de ensino e aos nossos estudantes. Sim, ambos, para o bem geral da nação, têm de conjugar esforços rumo à superação de nosso raquitismo linguístico.

Se às nossas escolas, colégios e universidades cabe a tarefa de desempenhar a contento, e com qualidade, o seu papel de oferecer instrumentos eficazes de acesso e apropriação das ferramentas da língua portuguesa, aos brasileiros e aos nossos estudantes é reservado o compromisso de fazerem competentemente o seu “dever de casa”.

Assim, ler e escrever tornam-se atividades inadiáveis para quem almeja plena inserção em nossa sociedade ativa. Não é, pois, congelando potenciais cidadãos e estudantes reais no padrão informal da oralidade cotidiana que alcançaremos autonomia e autodeterminação relativas que a vida social, profissional e pessoal requer de todos nós.

A sociedade da informação na qual estamos inseridos pede que todos saibam codificar e decodificar os diversos e diferentes discursos nela elaborados mediante complexos processos intercomunicacinais.

À parte os estudos formais requeridos dos escolares, ler um jornal diário por dia, uma revista semanal por semana e pelo menos um livro a cada mês passa a ser um bom programa para enfrentarmos essa realidade. E isso precisa ser feito porque é por meio dessas práticas que sujeitos sociais podem aprender a pensar bem e claramente.

Até quando vamos admitir que o não ler, o não escrever e o não pensar qualificados continuem tais como anteparos intransponíveis entre nós, brasileiros em geral e estudantes, e o exercício da plena cidadania? Ou será que estamos fadados à sina dos “meio-cidadãos” nesse “meio-mundo” obscuro da “não-comunicação”?