A falta de crítica mata a política

Wilson Correia

O dia-a-dia brasileiro é osso. Há que se ter estômago e uma cesta de Sonrisal à goela para que suportemos a violência cotidiana.

É tanta falcatrua, tanto malfeito, tanta desfaçatez que os jornais e as informações circundantes mais parecem jugular perfurada.

A cidadania estrebucha. Desalmados e arruaceiros da cidadania nossa deitam, rolam e enchem a pança, certos de que permanecerão incólumes.

O espanto maior é a conivência, a boca silente e o medo de criticar. Chego a suspeitar que tudo isso poderia ser resumido em uma palavra: covardia.

É! Salvando “o meu” e “o dos meus”, a destrutividade pode se agigantar ao meu lado que nem uma palha moverei.

A idiotia, o individualismo e o sentimento egóico deitam e rolam. “Havendo uma bolsa para mim, porque ei de me preocupar com a justiça que deveria abastecer a carteira de todos nós?”

Resignação ao toque de silenciar, imperativo ditado por nulidades nulas que prosperam e arrocham a decência, a cultura, o respeito, o lídimo proceder.

Nunca Ruy Barbosa foi tão atual. E “a vergonha de ser honesto” torna-se “modus operandi” à safadeza, à gatunagem, ao “meu pirão primeiro”.

Mas se a política vive também do debate, onde o embate? Onde a indignação com toda essa baderna, que deveria servir para robustecer a política do bem, comum e justamente compartilhado?

A vista grossa da palavra e da ação consequente está a tungar nossas consciências, abrindo vãos monumentais para que as nulidades nulas continuem na bestialidade simbólica de não sei que, porque e para que.

Que tempos, não?!

Uma nação emparelhada, espartilhada, vendida e comprada. Paga ao preço do que é pequeno, inútil, chulo, rasteiro e, pior, cego do verbo.

Quando estaremos frente a frente com a palavra liberdade e a liberdade da palavra, essa que cria, inventa, ousa e conserta?

Talvez quando nos descobrirmos homens. Talvez quando nos detivermos nos valores da soberania cidadã.

Ando sequioso de críticas pra viver. É a falta de crítica aquele veneno ignaro que nos mata como sujeitos e faz da política um verdadeiro zumbi.