Mexilhões a la Dona Menô

Existem duas facções no mundo quanto a moluscos: os que gostam e os que detestam. Da mesma forma que não gostam de ostras, também odeiam mexilhões, polvos, lulas, escargots ou qualquer coisa mole que se apresente. Uns dizem que é o aspecto dos mexilhões, pois lembram genitais femininos; outros justificam a ojeriza pelo cheiro de maresia, e outros simplesmente têm raiva de coisas molosconhentas. Deve ser algo que Freud explique...

Lembro de quando Juju, minha filha, quando tinha uns 10 anos de idade e foi a um restaurante com a família, teve seus cinco minutos de fama. Junto a nós estava um menino mais velho que ela. Eu pedi mexilhões para a entrada e Juliana gritou: "Clitóris! Isto é clitóris! HAHAHA!".

Eu queria esconder a minha cara embaixo da mesa, pois todos no ambiente ouviram o que uma criança falava em alto e bom som, sem o menor constrangimento - afinal, ela é filha de uma ginecologista, e a palavra “clitóris” foi ensinada para que ela não dissesse sinônimos feios!

O menino não entendeu o que era a tal palavra e Juju deu de rir. Os dois esqueceram imediatamente do fato e logo a seguir comeram o prato. Eles gostaram, uma vez que não tinham nenhum parâmetro de comparação ou influência externa para o que era bom ou ruim. Adoraram o sabor.

Eu sempre vivi no mar e fui acostumada a comer peixes e crustáceos quase vivos, direto do mar ou da pedra. Quem come camarão vivo ou uma lula dançante, não pode deixar de legado pratos sofisticados, mas, sim, coisas naturais, certo? Entretanto, fui um pouco menos natural com as crianças, já que os mares de hoje não estão pra peixe...

Isso chegou a ser um problema para mim, uma vez que eduquei todos da família a comerem essas coisas "exóticas". Até que um dia, um sobrinho que nos acompanhava num almoço em um restaurante muito simples, pediu de entrada caviar. Ele achava que era comum - como um patê de fígado de galinha - haver caviar em antepastos de restaurantes em beira de estrada.

Mexilhões também fazem pérolas, que podem ter tanto valor quanto o das ostras. São saborosos e ricos em cálcio (bom para os ossos), zinco (bom pro cérebro), vitaminas, como a C (bom pra imunidade) e ferro (bom pra anemia). O problema dos moluscos é o lugar onde vivem. Precisam ser criados em cativeiro ou pescados em mares limpos, pois absorvem toda a poluição das águas - e eles sobrevivem bem em águas contaminadas.

Onde há mexilhões na natureza, há estrelas do mar, uma vez que eles são alimentos para elas. Portanto, só confiem em mexilhões onde estrelas do mar vivem, certo? As estrelas do mar não moram em águas sujas, pois não sobreviveriam. Fora isso, é preferível comprá-los congelados, mas se certifiquem da procedência do cativeiro procriador.

MANDO A RECEITA DE DONA MENÔ DO MEXILHÃO DA HORA:

Mexilhões devem ser lavados um a um. Precisamos retirar as impurezas e areia que ficam em suas barriguinhas. Ou seja, cada mexilhão tem que ser aberto, para serem retirados os detritos alimentares. Os que têm cabelinhos, devem ser "depilados" com os nossos dedos. 

São muito feios, não é?... Mas como dizem os homens (hoje em dia, poucos), é feio, mas gostoso.

O trabalho de limpeza vai desanimar qualquer cozinheira preguiçosa. Tá pensando que a coisa é fácil, é?! Não é não! Pensem no seguinte: o prazer vai valer o sacrifício. Isto é aplicado em muitas coisas na vida, certo?

Depois cozinhem-os em água, sem nenhum tempero, muito bem fervidos.

Façam um refogado com alho amassado, cebola picadinha e podem colocar tomates picados (ou um pouquinho de molho de tomate), além de folhas de coentro. Se quiserem pimenta, usem a do Reino.

Tudo deve ser frito no azeite - de preferência, virgem. O mexilhão tem baixo teor de colesterol ruim, e muito do colesterol bom, por isso deve-se usar menos de fritura possível. Assim estarão comendo algo que faz bem pra saúde.

Depois do tal refogadinho básico, acrescentem leite de côco (infelizmente não existe um verdadeiramente diet...) e mais nada. Quem desejar mais azeite, que coloque na porção que for comer.

Misturem o molho ao mexilhão. Se quiserem salgar mais do que o sal natural do bichinho, é só colocar nos seus pratos, e não no prato principal, pois sal demais faz mal!

Cortem pedacinhos de limão e deixem numa tigelinha, ao lado de cada convidado. Assim, quem gosta pode temperar com o suco.

Mexilhão a la Dona Menô cai bem com arroz branco, com macarrão ou com pão. É só escolherem. Pode ser entrada de algum prato mais sofisticado também, mas que por si só faz a cena, isso faz..

Leila Marinho Lage
Rio, 12 de outubro de 2010
http://www.clubedadonameno.com 

 

Leila Marinho Lage
Enviado por Leila Marinho Lage em 11/10/2010
Reeditado em 12/10/2010
Código do texto: T2551427
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