Não pode haver divindade no sofrimento humano

Quando podemos imaginar que um grande dilúvio possa estar chegando de novo

Quando eu vi na TV aquele atleta chutando aquela coruja no gramado verde de um campo de futebol, talvez eu tenha me convencido nesse instante de que, existindo um deus, a gente possa imaginá-lo criando o mundo e todas essas coisas que existem sobre, e que no final das contas, após ver a inutilidade que proclamou (um ciclo de vida meio louco) seres desiguais, egoístas, sobrevida por instinto, uns devorando os outros, e outros geralmente humanos, ou supostamente sim, explorando a força bruta dos semelhantes, possa estar o mesmo até se divertindo, com o seu olho gigante de Tandera.

Perplexo com esse quadro trágico e cômico urinou pra não dizer mijou nesse minúsculo planeta, um cisco galático de um universo comprovadamente sem fim, para demonstrar o seu desprezo pelo seu erro fatal ou simplesmente para gritar com um eco cruel de sua própria voz de pai, filho e criador (por supuesto), o seu desprezo por quem o ativou e que insiste a todo tempo em materializá-lo e moldá-lo. Nós mesmos o criamos e o moldamos de acordo com os nossos anseios e consoante nossos medos.

A imagem que os meus olhos viram, registraram o som que se fez ouvir simbolicamente:

O gemido dos deuses saindo da güela de uma coruja indefesa. Não pode haver divindade na crueldade humana, do mesmo pé que “chuta o balde”, que chuta uma santa, que chuta uma bola, que chuta um pássaro indefeso é igual a mesma mão que recolhe o dinheiro dos dízimos dos humildes que recebem de volta a promessa de que deles será o reino do céu.

Como não pode haver divindade nos tsunames, nos estrondos que se seguem do choque da água com a inteligência humana em forma de energia atômica. A mesma água que nos mata a sede, que abriga os peixes e que lava toda nossa sujeira, que lava nossa alma e que afoga nossas magoas e que invade a composição do nosso frágil corpo. Aprendemos tudo isso por instinto e não faz diferença alguma se se trata de uma dádiva ou se é um acaso ou um ocaso em forma de tédio ou de uma beleza esfuziante.

A mesma água, instrumento do batismo e da catequese, mata por afogamento provocando catástrofes e a sensação horrível de que o mundo está por acabar. Explodem tonéis de cézio 137 em pleno século 21.

Fizemos ou fazemos muito pouco, para merecer a culpa de tudo, a não ser que estejamos pagando pelo crime horrível que cometemos ao assistirmos passivamente cristãos sendo comidos por leões nas arenas de Roma e assim acumulamos dois séculos de pecados mortais ou quem sabe o hilariante pecado de Adão, bem distante, que de suas frágeis costelas, teria fornecido o veneno sem antídoto que castiga a humanidade indefesa, nas mãos de frágeis apóstolos que com a sua esperteza, nos livraram apenas do pecado original, por eles mesmo inventados, seguido de um ritual estranho, mas chic.

Sodoma e Gomorra, o fim do império de Cezar, a primeira, a segunda guerra mundial e o desabrochar da Rosa de Hiroshima, os extermínios de Coreanos e Vietnamitas, e enfim, todas as guerras de extermínio que se seguiram, não foram penitencias suficientes para que a humanidade ficasse livre das catástrofes naturais ou chamadas assim.

Somos culpados e ponto final. Já nascemos com o complexo da culpa e o saquinho de plástico nesse momento é o grande vilão em forma de confete e serpentina para realizar os sonhos dos terroristas dos tempos modernos que apostam tudo na insignificância da bolinha verde, além de estarmos perdendo nosso precioso tempo, desperdiçando e acariciando insumos que antigamente serviam para fabricar sabão.

Não somos mais os mesmos. Estamos perdendo os nossos instintos de sobrevivência e as redes sociais na internet, substituem com extremada e eficiente inteligência os arcaicos textos bíblicos.

Não somos mais caçadores de nossos próprios sonhos. Somos bonecos de uma sociedade hipócrita que mostra alguns paralelepípedos em alguns pedaços de ruas, como se estivesse mostrando os dentes num largo sorriso sarcástico repleto da mesma ironia de um lava-pés na beira de uma ponte qualquer pintada de branco, no inicio de uma ladeira.

E assim, talvez, não exista divindade também na crueldade humana.

Do pó viestes, ao pó retornarás (alguns precocemente e de forma violenta, não retornam, vivem dele e permanecem como zumbis, sangrando aos poucos para servir de alimento aos morcegos que descem dos morros)

Não pode, ou não poderia haver divindade no sofrimento humano, mas ao que parece, existe sim. Se negarmos isso, é como se estivessemos negando Deus.

Luiz Bento (Mostradanus)
Enviado por Luiz Bento (Mostradanus) em 08/03/2012
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