Elegantes e emergentes

ELEGANTES E EMERGENTES

“Emergente” hoje é um verbete com trânsito nas atividades humanas e na conceituação sociológica de determinados grupos que compõem o quadro de uma sociedade. Na verdade, o termo emergente designa que ou quem se encontra em ascensão econômica e social. Ou, pelo menos quem quer demonstrar essa ascensão, impondo, muitas vezes uma falsa imagem de abonado.

Os grupos sociais se aglutinam mais ou menos como as castas das sociedades orientais, embora sem o hermetismo daquelas, formando estamentos em geral organizados por critérios econômicos. Quando alguém consegue experimentar uma mudança social, que alguns chamam de “escalada”, diz-se que emerge para outra classe acima. Por isso se usa a expressão emergente.

O emergente, quando melhora socialmente, tenta aparentar sinais externos de riqueza, como carro novo, roupas adquiridas nos lugares mais descolados do fashion world, aprendem inglês para usar expressões importadas, freqüentam restaurantes da moda e até mudam seus círculos de relações. Embora não leia nada, o emergente assina revistas e compra livros para uma biblioteca que ele nunca vai ler. O emergente pode ter dinheiro, mas falta-lhe o glamour.

Você vai a uma festa ou a uma recepção e lá é possível distinguir quem é elegante e quem é emergente. Enquanto o elegante se veste com roupas boas, porém discretas, sem espalhafato, sem querer aparecer demais, o emergente faz questão de mostrar que está de roupa nova, chegando, em alguns casos reportar-se à marca que veste. Enquanto o elegante não faz questão de exibir sua situação, o emergente se alimenta da admiração dos demais.

Com as mulheres emergentes a coisa fica mais complicada. Elas exageram a partir das visitas ao shopping, na maquiagem, no penteado, na indumentária, nos arranjos da casa e demais adereços da árvore-de-natal. As garotas, chamadas de “patricinhas”, usam a “moda cabide”, isto é, vão colocando uma roupa por cima da outra, em combinações ilógicas, pouco estéticas e – não-raro – ridículas.

A diferença entre uma pessoa elegante e uma emergente se desloca, muitas vezes, do aspecto comportamental, para o psicossocial. O elegante não precisa provar nada; ele sabe onde pisa e é o que é. Enquanto isso o emergente precisa, faz questão, necessita se mostrar como a celebridade que ele não é.

Quando se vai a um lugar público não é difícil distinguir a elegância inata e autêntica pessoa, contrastando com a grosseria de outros, que comem sagu e feijão co massa.

Quando viajo ao exterior, por razões práticas, não perco tempo almoçando: só faço lanches. É preciso conhecer lugares pitorescos e pontos turísticos. Um conhecido, “novo rico”, criticou esse meu hábito. Ele gosta de almoçar e jantar em restaurantes, com mesa posta, guardanapos, pratos e copos. E ainda fotografa tudo em câmera digital. Coisa de emergente...