Educação... caso de piada?*

A piadinha circula na internet e chega à minha caixa de e-mail. Criativa, sinto não poder indicar a autoria aqui, pois a versão que me chega não a indica. Confira!

“1. Ensino de matemática em 1950: O carro de lenha vale R$ 100,00. O custo de produção dessa mercadoria é igual a 4/5 do preço de venda. Qual é o lucro?

2. Ensino de matemática em 1970: O carro de lenha vale R$ 100,00. O custo de produção dessa mercadoria é igual a 4/5 do preço de venda, ou R$ 80,00. Qual é o lucro?

3. Ensino de matemática em 1980: O carro de lenha vale R$ 100,00. O custo de produção dessa mercadoria é R$ 80,00. Qual é o lucro?

4. Ensino de matemática em 1990: O carro de lenha vale R$ 100,00. O custo de produção dessa mercadoria é R$ 80,00. Circule o valor que corresponde ao lucro: R$ 20,00; R$40,00; R$60,00; R$80,00; R$100,00.

5. Ensino de matemática em 2000: O carro de lenha vale R$ 100,00. O custo de produção dele é R$ 80,00. O lucro é de R$ 20,00. Está certo? Sim ou não?

6. Ensino de matemática em 2009: O carro de lenha vale R$100,00. O custo de produção dele é R$ 80,00. Se você souber ler, circule o R$ 20,00. R$ 20,00; R$40,00; R$60,00; R$80,00; R$100,00.”

É caso de rir? O ditado latino dizia: “Ridendo castigat mores”. Quer dizer: É rindo que se castiga o costume. Será? Se for certo que rir faz bem ao corpo e à alma, não é tão seguro que ele tenha o poder de castigar e corrigir os costumes. Há tempos, ouvimos piadas sobre a má qualidade do ensino em nosso país, e, no entanto, nada acontece. Tem gente que nem se toca com o nosso “riso” e continua levando vantagem sobre a ignorância fabricada. Nesse caso, nem choro adianta alguma coisa. Vai ver não é o riso que educa o costume; são os homens e mulheres que riem que podem, ou não, mudar os costumes, sobretudo aqueles cristalizam injustiça, desigualdade e exclusão em nossa sociedade, incluindo, claro, a contribuição que a educação escolar oferece para essas ocorrências que, de resto, nada mais são do que negação da cidadania.

O que a história conta é que não é de hoje que as classes populares brasileiras vem derramando muito suor para conquistarem o direito de estudar. O direito universal à educação e à busca de educabilidade formal parece inclusa no conjunto de direitos sociais que sociedades capitalistas, liberais, iguais à nossa não tem condições estruturais de garantir aos menos afortunados. Da classe média para cima, parece que os privilégios satisfazem os brasileiros. A associação entre cinismo perante direitos sociais legítimos e a desfaçatez na açambarcação de privilégios resulta nisto a que estamos assistindo: a educação se transformando em ocasião para piadas. Estruturalmente falando, o sistema de ensino e os profissionais da educação se veem vencidos face ao não saber que legitima a existência de estudantes e de escolas entre nós.

Faz alguns séculos, Francis Bacon (1561-1626) asseverou que “Saber é poder”. De repente, essa é a dica para que possamos entender a razão pela qual a educação escolar está em frangalhos e se torna tema de chistes generalizados, ao arrepio daquilo que poderia instituir a legitima dignidade cidadã.

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* Artigo publicado no Diário da Manhã, dia 31/01/2009, página 23.