Você acredita em "olho-grande"? - SERMO XXXVII

VOCÊ ACREDITA EM “OLHO-GRANDE”?

A nossa proteção está no nome do Senhor

que fez o céu e a terra!

Geralmente, quando se fala em inveja logo vem, de uma forma aderente, uma ideia das pessoas que a associam com o “olho-grande”, isto é, aquele desejo negativo dos que cobiçam os bens, os carismas e o sucesso que os outros tem.

Segundo alguns especialistas, por ser o espírito da alma, o olho humano tem um potencial oculto e emite energias que podem revelar emoções e intensificar as palavras ditas. Um olhar penetrante e bem dirigido pode reforçar muito uma mensagem ou um ensinamento. E, muitas vezes, sozinhos já conseguem passar toda a informação necessária.

O curioso é que todas as culturas, desde as antigas até as atuais, possuem suas crenças no mal centradas na inveja, no mau-olhado e em tantas superstições que pululam por aí. Em algumas são atribuídas razões a sortilégios espirituais e em outras a origens físicas e até metafísicas, todas apontando para o desejo de prejudicar alguém ou de possuir algum dom ou propriedade dos outros.

A verdade é que, embora haja menções entre os celtas, os egípcios, os gregos e os bretões, a cultura do olho-grande chegou a nós, de forma mais forte através das crenças africanas, radicadas nas religiões dos escravos que vieram para cá nas etapas da colonização. Foi a partir das senzalas que começou a aparecer o efeito do quebranto e do mau-olhado.

Como explicar a morte repentina, por exemplo, de uma samambaia ou pimenteira após ter sido bastante admirada por uma visita? E como explicar o cancelamento de um grande negócio praticamente fechado e certo depois de contar ao seu colega de trabalho? E aquela sensação de mal-estar quando uma determinada visita chega em nossa casa? Os nossos avós definiam esse estado de coisas: “isto só pode ser olho gordo!” Mas, afinal o que é olho grande e como detectá-lo?

Segundo alguns postulados espiritualistas e esotéricos, o universo conspira a favor de pessoas cuja força mental, espiritual e econômica desafia os limites da credulidade psicológica, parapsicológica ou religiosa, e simplesmente adquirem o poder, voluntário ou não, de prejudicar a terceiros.

Hoje, o olho-grande é uma expressão popular, quase um sinônimo de inveja. Deste modo, ter olho-grande exprime o desejo incontrolável que certas pessoas tem de serem o que não são, de possuírem o que não têm. É mais do que a inveja normal, porque investe contra a pessoa, alvo de sua diferença, sendo capaz até de interferir em sua vida ou felicidade.

Muitos consideram o fenômeno do olho-gordo uma mera superstição. No entanto é bom que se observe que o tema já era tratado pelo filósofo chinês Lao-Tsé, criador do taoísmo, que viveu 350 anos antes de Cristo. Igualmente nos escritos de Confúcio que viveu 600 anos antes de Cristo, há referências à pestilência desses tipos de inveja.

O olho-grande, que também é chamado de olho-gordo ou olho-grosso, segundo os que acreditam nessas manifestações, nada mais é do que a canalização, através dos olhos, de uma energia mental, interna, gerada pelo desejo maldoso e descontrolado de possuir o que é dos outros e pela inveja, que não deixa de ser um roubo de energia.

As religiões africanas, diante da ameaça do mau-olhado criaram instrumentos de “proteção”, como figas, amuletos, fitas, galhos de vegetais, etc. É comum ver que as madrinhas colocam figas, galhos de arruda e outros objetos no pescoço, atrás da orelha ou no pulso dos recém-nascidos a fim de protegê-los das maldades dos invejosos. Tem gente que acredita nessas coisas.

Os invejosos em geral são pessoas em permanente estado de descontentamento e que têm complexo de inferioridade (mesmo que camuflado), uma vez que não se julgam capazes de conseguir por si mesmos o objeto de sua cobiça. Seguem a vida lamentando-se de sua má sorte, mas nada fazem pra construir uma vida mais feliz e próspera.

Poderíamos considerá-los vampiros de energia que estão ligados aos baixos desejos, à mesquinhez, ao egocentrismo e a uma série de assuntos psíquicos mal resolvidos. Gostam de estar sempre por perto e sabedores dos acontecimentos, são solícitos e companheiros, utilizando-se do recurso da aproximação. Quem inveja sente-se inferior ao invejado.

Deus dá seus dons às pessoas. É herético e pecaminoso invejar os dons que ele deu a alguém. Cada pessoa tem seu conjunto de dons que são suficientes para sua felicidade, edificação e salvação. Invejar os dons alheios é dizer que Deus foi injusto na distribuição. Isto é heresia e, como tal, pecado.

Os evangelhos no revelam que Judas, entre outros defeitos, teve olho-grande, ciúme, inveja de seus companheiros, os apóstolos e discípulos, a ponto de evadir-se do grupo, traindo o Mestre e rejeitando a amizade de Deus.

Em alguns lugares do Brasil o indivíduo invejoso é chamado de “olho-de-secar-pimenteira”. Aquele tipo de vegetal, segundo os entendidos, é extremamente resistente, além de bonito e cheio de cores, e quando chega a secar só pode ser por causa de um ataque muito forte. Embora seja fruto do folclore, essa alusão se refere à virulência com que alguns lhe dedicam olhares invejosos. O mau-olhado é o olhar ao qual são atribuídos poderes de causar malefícios, infortúnios, etc.

Uma mulher contou em um programa de tevê que a sogra esteve na casa dela e ficou louca por uma samambaia que ela tinha pendurada na varanda. Inesperadamente, a samambaia morreu em dois dias. O mesmo aconteceu em outra casa, com um pé de “comigo-ninguém-pode”. Outro falou que o seu cão morreu (ele tinha sete meses, bem cuidado, com pedigree) após uma visita suspeita.

Algumas pessoas creditam tais coisas à coincidência, enquanto outros preferem atribuir esses percalços ao mau olhado dos outros, mesmo. Só não admitem que o autor do mal pode ser elas mesmas. Uma pessoa amiga falou que sempre que uma determinada parenta vem à sua casa e se encanta com uma determinada planta, a coitada morre. Ela disse que, mesmo sendo cristã, ficou em cima do muro, afirmando que nunca deixou de ter plantas e animais, pois segundo dizem, desviam a maldade da inveja. Será?

É comum ver as pessoas recorrendo às Igrejas, seitas ou outras entidades, em busca de bênçãos, libertação ou “segurança” contra feitiços e quebrantos. Geralmente tais pessoas se confessam “amarradas”, deprimidas, com problemas de saúde, sem perspectivas de vida. Tudo atribuído ao mau-olhado dos outros. Será que os invejosos tem tanto poder assim?

Conheci uma família que imaginava que um vizinho, sem filhos, tinha inveja deles, pelo fato de o filho do casal ser uma criança linda. Toda vez que se encontravam, a criança adoecia ou se machucava. Outro homem, uma pessoa com algum estudo, usava galinhas como “pára-raios” contra o olho-grande. Semanalmente morriam duas ou três galinhas, de causas ignoradas, e ele dizia que os animais foram vítimas de algum mal que fora endereçado a ele ou seus familiares.

Nas culturas afro-brasileiras se fala muito em ziquizira, que é uma espécie de má sorte no que se faz ou intenta; é sinônimo de azar ou urucubaca. Será que esses olhados podem prejudicar as pessoas a ponto de trazer-lhes tantos problemas?

Até pode! Não pelo poder do invejoso, mas pela pré-disposição do invejado, que subjugado psiquicamente, tem dificuldade em elaborar o fato. O olho grande, pode ser entendido como o sentimento nocivo de inveja e despeito daquelas pessoas que compensam as suas incapacidades ou limitações,se incomodando com o sucesso alheio.É aquela história, em que há muitas pessoas que se não estão bem ou felizes, acham que os outros também não têm o direito de estar. A parapsicologia explica

Hoje, olho-grande é uma expressão popular, quase um sinônimo de inveja. Desta feita, ter o olho-grande exprime o desejo incontrolável de certas pessoas de serem, terem ou quererem o que não são, têm ou querem. É mais do que uma inveja normal. Há quem fale até na “santa inveja”, quando alguém ambiciona a piedade ou a fé de outra pessoa.

Na verdade, o olho-grande se trata de uma atividade de superstição, do tipo feitiçaria. A pessoa se sente enfeitiçada. Os feitiços não têm a mínima força. São incapazes de, por si mesmos, fazer o bem ou o mal, mas a pessoa atrai esses contratempos para si, como um elemento psíquico negativo, do qual vou falar depois.

Para essa compreensão há que se colocar aí um ingrediente (para)psicológico, chamado subjugação psíquica. A pessoa que tem uma fé distorcida ou vacilante, e que é impressionável, realiza – ela mesma – o mal que tanto teme. No caso do menino que adoecia e das galinhas que morriam, a superstição, dos pais e do dono das aves, é que materializava – formando um aporte telérgico (ou telecinético) – de seus temores. Isto só acontece para pessoas impressionáveis, negativistas e que não tem uma fé verdadeira na providência divina.

Antigamente – hoje diminuiu muito – falava-se muito em mau-olhado (ou quebranto) que algumas pessoas ao admirar tanto uma criança bonita, colocavam nela. Diziam que até os pais, admirando tanto o filho geravam um “quebranto”, que seria um esmorecimento, um langor físico, uma quebreira da vontade que toma conta do corpo, qual uma febre. Pode dar em qualquer pessoa, ou mesmo em animais. Tem também sido atribuído à força do olhar de invejosos ou mal-intencionados. Acontece também que algumas pessoas isentas de inveja tem olhar forte, condição desconhecida ás vezes até do próprio dono do olhar.

Nas sociedades primitivas, os invejosos, pessoas de olhar forte, eram sempre rejeitados (alguns até banidos), porque influíam no animo das pessoas. Os antigos diziam conhecer quando acontecia o mau olhado. Se ao olharem para alguém, a pessoa começasse a espirrar, ou abrir a boca em longos bocejos, sem parar, era sinal de que fora atingida pelo mal.

Não é de hoje que se temem os efeitos do mau-olhado. Demócrito mencionava já entre os povos mediterrâneos essa crença, da qual não conseguira determinar as origens. Aristóteles comentava que o olhar de algumas pessoas podia causar perturbação funesta no corpo e na mente das pessoas. A história de Medusa, cujo olhar petrificava as pessoas é uma história de mau-olhado.

Os povos antigos conheciam a figa, símbolo sexual e amuleto, para afastá-lo. Entre nós, usa-se a figa feita de duas plantas mágicas: de arruda e de guiné para o mesmo fim. Eu conheci uma senhora bem idosa, já deve ter falecido, que temente aos maus olhados, usava sempre um ramo de arruda atrás da orelha e, de tanto em tanto, para afugentar o mau-olhado exclamava: “salsa, guiné e arruda: comigo ninguém se gruda!”.

Segundo os “entendidos”, o mau olhado é uma força mais branda do que o feitiço e na maioria das vezes não é premeditado. Contra ele, além da figa que colocam no pulso ou no pescoço das crianças, usam as plantas mágicas: a arruda, a guiné, comigo-ninguém-pode e outras; fazem-se os ensalmos e cumprem os rituais das simpatias. A crença no mau-olhado é universal. A língua dos povos atesta a sua difusão e persistência. E o mal-occhio, o evil eye, o mal de ojo. Entre nós é chamado além de mau-olhado, olho de seca-pimenteira, olho de inveja, olho-mau, maus-olhos.

No IX livro das Noites Áticas, o escritor latino Aulio Gélio conta que as pessoas da Ilíria (uma província da Bretanha) podiam matar, estando irritadas, apenas olhando fixamente para o adversário. (In: Dicionário de Folclore Brasileiro, de Luís da Câmara Cascudo).

A mágica de proteção contra o mau-olhado na antiga Grécia era desenhar ou gravar olhos nos objetos, para defender das forças invisíveis do mal. Talvez reminiscência da maga Medusa, uma das Górgonas, de olhos tenebrosos e cujo olhar fazia se transformarem em pedra as pessoas que os fitavam. A figa é o mais usado e o mais antigo dos amuletos contra o mau-olhado.

Sabe-se também que o temor ao olho-grande já existia entre os etruscos. A figa de proteção é mencionada por Dante e por Shakespeare. Entre os povos da Antigüidade, ela surge como um símbolo fálico, ligada aos cultos da fertilidade e da fecundidade. Em Roma era usada no pescoço das mulheres e das crianças, o que provocou o desaprovador reparo do tribuno Varro.

Foram encontradas inúmeras figas nas ruínas de Herculano e de Pompéia. Hoje ela vive um pouco nos folclores de toda a Europa de onde passou para as Américas. Na prática, o olho-grande retrata a incompetência de lidar com suas limitações. É a incapacidade de ser feliz, de realizar(se). A frustração do invejoso é como que uma homenagem à capacidade do invejado. Quem inveja se sente mal com a felicidade do outro.

Por falar em felicidade recordo que na minha infância conheci uma mulher, velha, feia e pobre que tinha inveja de todo mundo. Coitada, talvez por isso nunca tenha ido pra frente. Ela não podia ver ninguém bem que logo jogava suas frases infelizes: “Ah, como você é feliz!”. Depois de falar assim, exclamava em voz baixa: “Mas não vai mais ser feliz!”. Não há notícias de que sua inveja tivesse feito um mal efetivo a alguém, mas suas frases causavam temor e desconforto.

Até agora foi feita uma visão popular e folclórica da inveja e do olho-grande. Vamos à visão teológica! Como todos conhecem, existem as virtudes e os vícios capitais. No contraponto do estudo sobre as virtudes, pode-se ver que é possível adquirir na nossa alma uma força habitual, enraizada e má, chamada vício.

Esses vícios empurram a alma a praticar atos contrários às virtudes, ou seja, atos pecaminosos, pelos quais ofendemos gravemente a Deus e aos nossos irmãos. No estudo de cada virtude em particular se vê também os vícios contrários às virtudes, ou seja, os pecados que cometemos contrariando as virtudes.

Há, porém, na alma, alguns vícios enraizados não porque cometemos pecados e fomos adquirindo esses vícios, mas que são cicatrizes do pecado original. Vamos explicar um pouco o que isso significa. Sabemos que o Sacramento do Batismo apaga o pecado original.

Isso é uma verdade de fé, na qual acreditamos com todas as forças da nossa alma. Porém, mesmo tendo sua alma limpa do pecado original, o homem vive nesta vida sempre inclinado para fazer o mal. Há no ser humano uma propensão natural ao desajuste. É necessário sempre lutar contra essas tendências más, sua inclinação a faltar à Lei de Deus, a procurar satisfazer as paixões, o conforto, a esconder dos outros os atos maus que fazemos, etc.

Essa inclinação má que encontramos dentro de nós explica-se pelo fato de que nossa sensibilidade não aceita mais se submeter à razão; nossa vontade não tem mais forças para impor a verdade e o bem. Com isso, estamos sempre procurando satisfazer a sensibilidade. A vida de virtudes e dos dons do Espírito Santo nos salva desta revolta, pela força que adquirimos na luta contra as paixões desregradas.

Ora, a inclinação para fazer o mal se realiza na nossa alma através dos chamados vícios capitais. E a luta para vencê-los é feita pela prática das virtudes opostas a esses vícios ou pecados. Chamam-se capitais porque são como que a cabeça, a fonte de todos os pecados. Dessas inclinações originam-se todos os atos maus que cometemos. Ao estudá-los, aprenderemos a vigiar nossas almas no sentido de fugir desses vícios e assim evitarmos muitos pecados.Os vícios ou pecados capitais são sete:

1) Soberba

2) Avareza

3) Luxúria

4) Inveja

5) Gula

6) Ira

7) Preguiça

A inveja é um vício pelo qual nós olhamos tudo que há de bem no nosso próximo como sendo mau, porque diminui nossa grandeza e nossa glória. Ou seja, não gostamos de ver alguém ser elogiado e nós não, não suportamos que tal pessoa tenha um objeto que nós não temos. No fundo, queremos ser sempre os mais notados e festejados. Vemos assim que a inveja nasce da soberba, que é aquela cegueira sobre nós mesmos. Pela inveja procuramos sempre atrapalhar o outro e nos alegramos quando o vemos atribulado.

Como a inveja nos leva a desprezar o próximo, ela é a origem de muitos pecados graves contra a virtude da caridade, a qual nos leva a um sentimento de alegria pelo bem que vemos no outro. Ao contrário, a inveja provoca:

• ódio – foi o ódio nascido da inveja que levou Caim a matar

Abel

• murmúrio – a alma passa seu tempo a pensar mal dos outros.

• detração – ela já não pensa só contra seu próximo, mas

tenta quebrar a reputação do outro. É o que

chamamos de calúnia ou fofoca.

A inveja se vence pela prática de duas virtudes: a humildade, que combate a origem da inveja que é a soberba; e a caridade fraterna, que combate as conseqüências da inveja. Na Bíblia há muitas referências à inveja. O rei Saul tinha inveja de Davi por causa do sucesso deste, e por sua amizade com Jônatas, filho do monarca.

Num programa humorístico da televisão, levado ao ar no sábado à noite, tem a figura de um indivíduo de olho-grande, um homem autêntico invejoso, sempre vestido de preto, de óculos escuros, que aparece perguntando: “Está tudo mais ou menos?”. Ele não pergunta se está tudo, mas mais ou menos. O homem diz que veio apenas para “dar uma olhada” nos projetos dos amigos, sempre lhes causando problemas. Quando ele tira os óculos e arregala os olhos, a coisa pega. É uma imagem de humor, mas que se aproxima de alguns casos da realidade do cotidiano.

Política e economicamente, o olho-grande é um sinônimo de cobiça: “os americanos estão de olho-grande na Amazônia”; “os europeus tem olho-grande pelo urânio brasileiro”, etc.

Na verdade quem consegue aprofundar sua visão de fé vai concluir, como nós, que toda essa coisa de olho-grande não existe. Tudo não passa de fantasias e superstições de pessoas que não conseguem discernir a realidade da vida. Tem gente que deseja o mal dos outros? Tem! Mas nem por isto elas são tão poderosas a ponto de realizar este mal. Se alguma coisa acontece é porque nós mesmos damos uma abertura psíquica para que tais coisas aconteçam.

Ora, se um invejoso tem tanta força a ponto de realizar mentalmente um mal contra outras pessoas, por que ele não usa esse poder para fazer o bem a si próprio, construindo sucesso e prosperidade em sua vida? Às vezes, quando vejo pessoas afirmando que determinado vidente ou médium enxerga coisas, passadas, presentes e futuras, da vida daqueles ingênuos que vão consultá-los, eu logo pergunto: “Quantas vezes ele acertou sozinho na loteria?” Como a resposta, invariavelmente é “nenhuma” eu logo concluo tratar-se – como diria o padre Quevedo – de um charlatão.

Só as pessoas fracas na fé, mal catequizadas e sem um mínimo aprofundamento doutrinal é que são capazes de acreditar em olho-grande, mau-olhado, quebranto ou coisas do gênero. Tem gente que, para não reconhecer o senhorio de Deus prefere acreditar em coisas esotéricas ou mediúnicas, como “poder do pensamento”, “lei da atração”, “energia cósmica” e outros quejandos, que ao invés de facilitar a compreensão dos fatos da vida, só servem para confundir e criar um embaraço mental em muitas cabeças despreparadas.

Aqui cabe a grande questão que São Paulo levantou: Se Deus está a nosso favor, quem (se atreverá) será contra nós? (cf. Rm 8,31). Querer o bem do outro equivale a ser justo. Nesse particular, a justiça, continua o apóstolo, se consolida através da fé (cf. Rm 3,28). Ao contrário, os injustos, os que praticam as chamadas “obras da carne” (entre elas a inveja e o olho-grande), esses não entrarão no Reino dos céus (cf. 1Cor 6,9).

A Bíblia não fala em mau-olhado, mas refere-se, em muitos textos, à inveja, como veremos mais adiante. Hoje é moda acreditar em gurus, videntes, terapeutas holísticos, mestres ascensos, avatares e outros bruxos. São Paulo adverte:

Não se amoldem aos modismos do mundo, mas transformem-

se pela renovação da mente, a fim de distinguirem a vontade

de Deus: o que é bom, o que é agradável a ele, o que é

perfeito (cf. R, 12,2).

Ninguém pode colocar em sua vida um alicerce diferente

daquele que já foi posto: Jesus Cristo (cf.1Cor 3,11).

Em outro momento o apóstolo escreve ao amigo Timóteo alertando contra esses modismos:

Vai chegar o tempo em que não se suportará mais a doutrina;

pelo contrário, com a comichão de ouvir alguma coisa, os

homens se rodearão de mestres a seu bel-prazer. Desviarão

seus ouvidos da verdade e os orientarão para as fábulas (cf.

2Tm 4,3s).

É salutar que a gente adquira o hábito de rejeitar essas idéias tolas que aparecem por aí, como “poder da mente” e do “mau-olhado”, perigo do olho-grande e da materialização da inveja. Não nos cansemos de proclamar que só Deus tem poder, e que sua energia, que é puro amor, tem a capacidade de nos fazer felizes e defender de todos os males.

Muitas vezes, certas pessoas, para nos provocar ou aliciar prosélitos, vem nos falar no poder de certas “simpatias” ou “seguranças” contra o olho-grande e a inveja. Seus argumentos, em certos casos parecem ser vigorosos e cheios de uma argumentação sofista (misturam verdades com mentiras), tudo montado no sentido de nos confundir.

Alguns cristãos se abstêm de refutar essas investidas, ou por “respeito humano” ou por que lhes falta uma sustentação doutrinária para rebater esses disparates. Quando nós nos conscientizamos que aquelas manifestações, nascidas no reino da fantasia ou da grosseira superstição, não existem, devemos buscar – em boas leituras, cursos ou aconselhamento – os argumentos para a refutação.

O cristão deve buscar, no âmago de seu coração, ali onde mora o Espírito Santo, a força e a razão para superar o temor dessas falsas doutrinas. Se sempre repetirmos, a guisa de oração, o salmo “O Senhor é meu pastor, nada me faltará...” (23,1), estaremos adquirindo a certeza que aquelas coisas não existem, não tem poder algum sobre nós, e jamais poderão nos atingir. A oração, a freqüência aos sacramentos e a vida comunitária nos ajudam a criar uma efetiva consciência cristã, apta a banir essas banalidades.

A seguir, conforme prometi, relaciono alguns trechos bíblicos que falam da inveja, da ambição e do ciúme, para iluminar nossa reflexão.

Coração tranqüilo é vida para o corpo, mas a inveja é cárie

nos ossos (Pv 14,30).

O furor é cruel e a ira é impetuosa, mas quem pode resistir

diante do ciúme? (Pv 27,4).

A competição é fugaz, como uma corrida atrás do vento (Ecl

4,4).

Fui eu que o fiz assim bonito e multipliquei seus ramos; por isso

o invejam todas as árvores do paraíso (Ez 31,9).

Então o sumo-sacerdote e todos os do seu partido ficaram

cheios de raiva e mandaram açoitar os apóstolos e jogá-los na

cadeia (At 5,17).

Os judeus ficaram com inveja e reuniram alguns indivíduos

maus e vagabundos e provocaram um tumulto alvoroçando a

cidade contra Paulo e Silas. (At 17,5).

Os homens desprezaram o conhecimento de Deus, por isso

Deus os abandonou ao sabor de uma mente incapaz de julgar.

Desse modo eles fazem o que não deveriam fazer: estão

cheios de todo tipo de injustiça, perversidade, e malícia:

cheios de inveja, homicídio, rixas, fraudes e malvadezas; soa

difamadores, caluniadores, inimigos de Deus (Rm 1,29).

De fato, receio que, quando aí chegar eu não os encontre do

jeito que eu gostaria de encontrá-los e que vocês me

encontrem do jeito como não gostariam. Tenho receio de que

entre vocês haja discórdia, inveja, animosidade, rivalidade,

maledicência, falsas acusações, arrogância, desordem (2Cor

12.20).

As obras dos instintos egoístas são (...) a inveja...Os que

fazem tais coisas não herdarão o Reino de Deus (Gl 5,21).

Os patriarcas (os filhos de Jacó) por inveja venderam José,

irmão deles, como escravo para o Egito. Mas Deus estava com

ele e o libertou de todas as aflições, e lhe concedeu a graça e

sabedoria diante do faraó do Egito (At 7,9).

Não sejamos ambiciosos de glória, provocando-nos

mutuamente e tendo inveja uns dos outros (Gl 5,26).

É daí (quem se afasta da doutrina) que nascem invejas, brigas,

blasfêmias, suspeitas, polêmicas intermináveis, coisas típicas

de homens de espíritos corruptos e desprovidos da verdade

(1Tm 6,4s).

Também nós, antigamente, éramos insensatos, desobedientes,

extraviados, escravos de todo tipo de paixões e prazeres,

vivendo na perversidade e na inveja, dignos de ódio e odiando-

nos uns aos outros (Tt 3.3)

Portanto, rejeitem qualquer maldade, toda mentira, todas as

formas de hipocrisia e inveja, e toda a maledicência (1Pd 2,1)

A ambição é fruto da inveja, e vice-versa. O invejoso potencializa seu vício transformando-o em ambição de possuir o que é do outro. Nessa visão de cobiça e iniqüidade ele “olha” (o olho-grande) o sucesso do irmão com um sentimento de inconformidade. É isto que caracteriza o vício (pecado capital) da ambição. A literatura sapiencial condena a ambição:

O ambicioso corre atrás da riqueza e não sabe que vai cair na

miséria (Pv 28,22).

No final, cabe repetir a pergunta-título: Você acredita em olho-grande? Tem medo de olho-gordo? Acho que a resposta, ponderando a ação de Deus e de seu Espírito em nós, é não. Não podemos acreditar e temer algo que não existe, que é simples fruto de mentes perturbadas pela superstição e pela fantasia. Deus é maior que todos os nossos temores. Ele está sempre ao nosso lado para nos defender. A quem temeremos?

Depois de tudo o que foi dito, torno a perguntar: Você acredita em olho-grande? Eu não!

Palestra realizada em uma CEB em Canoas, em setembro de 2008

O autor é Doutor em Teologia Moral.