Cartas de amor

CARTAS DE AMOR

No clima emocional do “Dia dos Namorados”, quero falar a respeito de cartas de amor. Lamentavelmente os tempos atuais são pródigos em fazer as pessoas padecer de solidão, de uma carência afetiva profunda, como que incurável. O poeta Antônio Maria, autor de “Ninguém me ama” referiu-se, certa vez, há algumas décadas, à “solidão dos bares cheios”, quando as pessoas se reúnem, conversam, bebem, mas permanecem solitárias, incapazes de preencher o vazio existencial que queima em seus interiores, aberto por uma paixão, por um grande amor, por uma desilusão...

O cancioneiro poético, de todas as línguas, é rico em assuntos de cartas de amor. Desde o banal “...escrevo-te estas mal traçadas linhas, meu amor...” do Erasmo até temas mais profundos e passionais. Revendo meus velhos discos, encontrei um antigo bolero (Mi Carta), onde Gregório Barrios desata: “Querida, vuelvo otra vez a conversar contigo, la noche trae un silencio que mi invita a hablarte, y pienso que tu tambiem estaras recordando...”. Lucho Gatica também ajuda: “Somos un sueño impossivel que busca la noche, para olvidarse em sus sombras del mundo y de todos...”.

Com a Internet, as cartas parece que caíram em desuso. O pragmatismo da tecnologia sufocou o sentimental. Ora, coisa mais fria é um e-mail ou mesmo um telefonema, onde as palavras voam... Na carta não: as palavras ficam, a pena corre com firmeza, não gagueja, é mais sincera, ousada...

Quantas vezes, namorados que não tiveram coragem de revelar sonhos e desejos, valeram-se da carta para exprimir sentimentos e emoções. Na tarde (de 1995) em que escrevi esta crônica, escutava o “Lembra de mim...” de Ivan Lins e conclui que todos gostam de receber cartas, de se sentirem lembrados...

A carta denota mais preocupação. E melhor ainda quando é furtiva. A gente tem que preparar o papel, alguns fazem até rascunho, escolhem uma caneta adequada. Se for carta de amor, as moças usam seu perfume predileto para obsequiar mais ainda o destinatário. Depois de escrita, há o trabalho de subscrever o envelope, protegê-lo de olhares indiscretos, procurar o CEP, selar e colocar no Correio.

Qual o apaixonado(a) que nunca cantarolou o “Love letters straight from your heart”? A carta tem todo um ritual, místico, poético, romântico, que não se esvai na remessa, mas transforma-se em emoção, na expectativa da resposta da pessoa amada. Ninguém reclama quando recebe uma carta; principalmente se ao manuseá-la conhece o remetente, reconhece o perfume ou identifica a letra: uma carta de amor. A adrenalina vai a mil...

Como é gostoso receber uma carta!

Ruim é quando se recebe uma carta portadora de uma má notícia, ou cujo texto não diz aquilo que se queria ler. É decepcionante esperar uma coisa e receber outra... Estava quase terminando a crônica quando meu “FM” tocou uma antiga música italiana, que tem tudo a ver com o assunto: “Scrivimi” (Escreve-me!). Coisas remexidas do fundo baú, especialmente para ativar nossa fantyasia para esse "Dia dos namorados".