SARNEY FRUSTROU AS ESPERANÇAS DO POVO

Eu tinha a intenção de só comentar esse artigo, publicado no jornal “A ENXADA” em l986, após a edição de outros fatos ocorridos anteriormente, entre as eleições indiretas de 1984 e as eleições municipais de 1988, tais como: “as eleições para prefeitos das capitais, em 1985”, “as eleições estaduais de 1986”, “a vitória e a morte de Tancredo Neves”, “as mudanças políticas da Nova República”, “o Governo Popular de Miguel Arraes”, etc, que ainda publicarei aqui.

Mas, resolvi antecipar este comentário graças ao recente depoimento do presidente Lula, quando ele disse que “Sarney fez muito pelo Brasil” e que “não pode ser tratado como um cidadão comum”. Se é assim, então vamos lembrar alguns desses benefícios que o ex-presidente Sarney fez ao povo brasileiro.

Nas eleições de 1986, o PMDB obteve a maior vitória já dada a um partido político numa eleição livre na história do Brasil. Foram eleitos 22 governadores do PMDB e apenas um do PFL, o de Sergipe.

O que mais influenciou para acontecer essa vitória do PMDB, foi a criação do Plano Cruzado, do Governo de Sarney. O povo acreditava na seriedade daquele plano econômico, bolado pela equipe de Sarney - inclusive nós, redatores do jornal “A ENXADA” - e se transformou nos Fiscais de Sarney.

Cinco dias após as eleições, com as urnas ainda sendo apuradas - naquela época não havia urnas eletrônicas – o presidente José Ribamar Sarney, determinou a seus ministros da área econômica, que fossem à televisão para anunciar um dos mais amargos pacotes dos últimos das últimas décadas, o Plano Cruzado II.

Aos eleitores brasileiros, Sarney deu, além dos aumentos dos produtos, um novo índice de inflação relacionado com o consumo das famílias que tivessem até 4.020 Cruzados de renda mensal. Aquele índice destinava-se exclusivamente, a manter o número maldito da economia nacional baixo e, sobretudo, para que a inflação fosse manipulada e não atingisse a casa dos 20%, necessários para que os trabalhadores tivessem direito ao chamado, “gatilho salarial”.

Na realidade aquele “gatilho” só disparou na cabeça do povo, com o aumento de todos os produtos, que ainda existiam no comércio.

Naquela ocasião, os ministros explicaram que, as novas medidas destinavam-se a reduzir o consumo sem punir as camadas mais baixas da população, porque o Plano Cruzado II procurava atingir a camada privilegiada da sociedade. No entanto eles se esqueceram de mexer na classe que ganhava acima de 15 salários mínimos, na qual o privilégio era ainda maior.

Na verdade, se aquele Plano fosse bom para o povo, o próprio presidente Sarney iria à televisão para anunciá-lo, como fez com o Plano Cruzado I. Mas o que se viu foi um monte de explicações, que não explicavam nada, por parte dos ministros, que jogaram fora a popularidade do governo e estragaram a imagem do PMDB.

Devido a esse fato, nós pudemos repetir no jornal “A ENXADA”, um pensamento do saudoso presidente Tancredo Neves em relação aos governos militares, mas que se aplicava muito bem àquele Plano Cruzado II da Nova República:

“O modelo econômico que nos foi imposto é basicamente perverso, porque faz cair sobre os ombros dos trabalhadores, todo peso de seu custo social”.

Recentemente, devido à descoberta de atos secretos praticados no senado, o presidente daquela casa, senador José Sarney disse: “Eu não sei o que é ato secreto, ninguém pode tomar posse sem ter sua nomeação publicada”. No entanto, recordando o passado, lembramos que, em janeiro de 1985, o tal “ato secreto” de que tanto se fala hoje, já acontecia, pois em maio de 1986, veio a público a descoberta de um ato, chamado “trem da alegria” que nomeou sem concurso, exatamente 60 funcionários, “assessores técnicos”, entre os quais Roseana Sarney, atual senadora e governadora licenciada do Maranhão.

Na ocasião em que os jornais divulgaram esse “trem da alegria”, Roseana se encontrava no exterior e o marido dela, Jorge Murad, reagiu espantado, dizendo que “nem Roseana sabe disso”. Mas, algum tempo depois, Roseana disse: “Se tenho todos os títulos para o cargo, se trabalho, não vejo onde está o problema”.

O nome mais conhecido da relação, divulgada na imprensa, era o de Roseana Sarney, entretanto, além dela, entraram “pela porta dos fundos do poder legislativo”, parentes de outros políticos, dos quais, 25 eram senadores. Também foram nomeados na ocasião aliados políticos e jornalistas amigos de senadores.

O “ato secreto” que efetivou esses servidores foi assinado pelo então presidente do Senado Moacyr Dalla, do PDS-ES, e não foi divulgado oficialmente pelo senado.

Sarney também falou recentemente, em discurso no plenário: “é uma injustiça julgar um homem como eu, com tantos anos de vida pública, com a correção que tenho de vida austera, de família bem-composta, que tem prezado sua vida e a dignidade da sua carreira”.

Acontece que relação de familiares de Sarney que ingressou em cargos públicos, através de atos secretos, é simplesmente vergonhosa e desrespeitosa. Senão vejamos:

Vera Macieira Borges, sobrinha de Marly, mulher de Sarney, conseguiu através de um ato secreto, ser funcionária do Senado, mesmo morando em Campo Grande, e sem exercer nenhuma função lá.

Isabella Murad, sobrinha do genro de Sarney, residente em Barcelona, conseguiu, através de um ato secreto, ter um salário que é pago com toda essa distância.

Amaury Machado, conhecido como “Secreta” - diminutivo carinhoso de secretário – é um funcionário que dá expediente como faz-tudo na casa de Roseana Sarney, mas é pago pelo Senado e recebe em torno de R$ 12 mil por mês. Na verdade ele presta serviço de mordomo à filha de Sarney, e o senador, cinicamente declarou: “O Senado nunca pagou nenhum mordomo”.

Valéria Freire dos Santos, viúva de um ex-motorista de Sarney, morando há quatro anos em um apartamento de uso exclusivo dos senadores, foi nomeada por ato secreto e ganha R$ 2.313,30 para servir café.

Alvo de investigação da Polícia Federal, o esquema do crédito consignado no Senado inclui entre seus operadores José Adriano Cordeiro Sarney, neto do presidente do senador José Sarney.

Observando essas estripulias da família Sarney, a jornalista, Barbara Gancia, colunista do jornal Folha de S. Paulo, perguntou em um de seus artigos: “será que em alguma outra família do planeta todo mundo é político como na dos Sarney?”

O Ministério Público Federal abriu inquérito civil para investigar os atos secretos do Senado e afirmou que a Constituição exige que as atividades do Estado sejam tornadas públicas. Vamos ver se isso vai dar em alguma coisa ou se vai terminar em pizza quando a mídia silenciar.