Caio – O personagem homossexual de Mauricio de Sousa.

Mauricio de Sousa é um dos maiores cartunistas que o Brasil possui e há 50 anos encanta muitas gerações com seus personagens que são uma representação verdadeira do cotidiano das muitas crianças com suas preocupações, brincadeiras e reflexões.

Filho de poetas, Sousa começou a desenhar cartazes e ilustrações para rádios e jornais na cidade de Mogi das Cruzes, no Estado de São Paulo. Depois passou para Folha da Manhã, dessa vez com o cargo de repórter policial. Em 1959 lança a sua primeira tira, com o cãozinho Bidu e seu dono Franjinha.

Pai de dez filhos, além de criar personagens baseados em seus amigos de infância, Mauricio sempre criou personagens baseados em seus filhos, tais como: Mônica, Magali, Marina, Maria Cebolinha, Nimbus, Do Contra, Vanda, Valéria e Dr. Spada.

Com inúmeros personagens passou a integrar a vida dos brasileiros de uma forma muito simpática, da mesma forma que seu nome teve o reconhecimento internacional com adaptações para o cinema, teatro, videogames e televisão. E claro, com tantos personagens, assim como nas nossas sociedades, os personagens vão se agrupando por turmas e com isso tivemos a Turma da Monica, do querido Chico Bento, a Turma do Bidu, do Horácio, do Penalinho, da Tina, do Papa- Capim, da Mata, do Piteco, do Astronauta e assim por diante.

Confesso que sou fã incondicional de Maurício de Sousa e de seus personagens sem exceção e, uma das minhas frustrações é não ter a coleção completa de todas as edições.

Mas esse artigo vem ao encontro do novo personagem de Mauricio de Sousa, o Caio, que faz parte da Turma da Tina. E para aqueles que acompanharam as edições de Mauricio devem se lembrar que Tina era uma personagem crescida, nascida em 1964, com um visual totalmente hippie e não seria diferente uma vez que nascia dentro de uma época de valores transitórios, de movimentos hippies, bem como o seu melhor amigo Rolo. Depois Tina foi crescendo, mudou o visual e hoje ficou mais charmosa sendo uma estudante de jornalismo que sempre nos coloca a par de tudo que acontece no mundo. Tina para além disso é moderna, soube evoluir e sempre nos mostrou que uma menina mulher, ou mesmo uma mulher adulta pode ser somente amiga de um homem.

Hoje, Tina apresenta-nos, na 6ª edição de sua revista, o seu melhor amigo, dessa vez chamado Caio, que confirma ter “compromisso” com outro rapaz. Homossexual assumido, defendido por Tina com um discurso que devemos esquecer o preconceito, Caio faz parte de uma legião adorável e não se preocupem porque Tina não trocou Rolo por Caio, na verdade as épocas são outras, as pessoas mudam, as pessoas passam a ter suas vidas e nem sempre o nosso melhor amigo na adolescência é o nosso melhor amigo na vida adulta, mas isso não significa que deixamos de amar as pessoas que nos circundaram em um determinado momento.

Quando ouvi e depois passei a ler sobre essa nova apresentação de Mauricio de Sousa, via sua personagem Tina, confesso que fiquei surpreendida e jamais imaginei que Mauricio fosse abrir a cortina dessa maneira, ao mesmo tempo que pensei que já era, quase, passado do tempo disso ser feito. E com isso minha admiração a esse cartunista aumentou.

Imagino que a caixa de entrada do correio eletrônico da produção de Mauricio de Sousa deva estar lotada de críticas, de abordagem sobre o nome do personagem que rotula “Os Caios”, de olhares a pensar que isso seria uma influência para as crianças e os adolescentes e a menos que as coisas tenham mudado por completo e eu não tenha percebido, fato esse que não descarto, deve haver alguns elogios quanto a essa nova atitude de Sousa.

Como falei anteriormente, nosso cartunista sempre contextualizou seus personagens, fez muitas vezes uma intertextualização entre eles e sempre retratou as sociedades como se comportavam. Afinal, quem em diversos momentos da vida não fez parte de um grupo ou de outro como da Monica ou da Magali.

O que quero dizer, nesse meu trigésimo artigo e com tudo isso é que Mauricio mais uma vez coloca a questão das diferenças e que essas precisam ser respeitadas. Assim como que o (pre) conceito de raça, sexo, genero é algo que nada tem a ver com a questão de SER humano.

Penso, por fim, que Mauricio de Sousa deu um passo novamente para integridade e o respeito humano.

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Gislaine Becker
Enviado por Gislaine Becker em 15/11/2009
Reeditado em 15/11/2009
Código do texto: T1925366
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