Qual é mesmo o Sentido da Vida?

Mais um ano letivo começa a dar seus primeiros passos e sempre que me pego a pensar sobre “quem” sou e o que farei para que este ano seja melhor do que o ano passado, deparo-me com outro questionamento: “Como” sou?

Para falar a verdade, nem me interesso em saber quem sou e muito menos para onde vou, isto para mim é fato consumado. Entretanto, penso que o que faz a diferença é a ação de como sou. Penso que é nesta questão que gravita toda a existência humana. Se meus alunos me perguntassem, hoje, quem eles são ou o que serão, dira que poderiam ser qualquer coisa, desde que a diferença estive pautada de como eles são ou serão, independente de quem são.

E, uma coisa leva-nos à outra porque é por meio de “como” sou que determino quem sou, mas os valores perderam o rumo e o homem passou a dar uma importância muito maior em “ter” do que “ser”. E nesse jogo acabou por escolher as piores cartas e o que é mais insano ainda, não tem tempo para refletir a respeito e talvez não tenha tempo, justamente, pelas cartas escolhidas.

Lembrando de Robert Happé, aliás, nunca mais vou esquecer-me de Happé que faz uma análise cronológica das dependências humanas desde que o homem existe e de como somos micro e mesquinhos diante da idéia do macro.

Tudo que escrevo não está fundamentado em nada ou está em tudo, se considerarmos que todo, até então, dito está alicerçado em minhas existências. E a questão de quem eu sou torna-se nada se eu não perceber que ela somente vai fazer sentido a partir do outro, da minha ação (e posso escolher que ação tomar, mas nunca esquecendo que toda ação gera uma reação) comunitária.

Todavia, falar, pensar, imaginar, filosofar e escrever é fácil. O “ser peripatético” de Sócrates era válido, é bem verdade, porque jogava o homem a refletir sobre suas ações, entretanto é na prática que as mudanças acontecem. É quando desligo este computador (ou não, porque hoje muitos relacionamentos aqui estão) e me encontro com o outro, é a partir daí que justifico minha estada neste mundo, mas isto tem de acontecer de verdade.

Se levarmos em conta que nada somos individualmente e imaginarmos que estamos todos soltos em um vasto universo, presos em um geóide enorme (sem sustentabilidade atual ou futura), penso que teríamos mais consideração a tudo que nos rodeia, da mesma forma que estamos todos no mesmo barco e que nossas ações é que permitirão a liberdade verdadeira e não essa liberdade efêmera, a qual o homem busca.

Não adianta buscar existências em outras terras ou tentar imaginar que podemos habitar outros planetas. Nossa existência aqui é única e atualmente (ou sempre) estamos de passagem e nunca nos veremos outras vezes, fisicamente falando.

Então, caso eu acredite em tudo isto que estou a escrever, o que faz a diferença realmente? A diferença está na ação do encontro com o outro.

Praticando este acreditar, enquanto professora (porque exercemos vários papéis, até os que não são nossos e ainda, muitas vezes, queremos exercer o do outro) penso que minha prática de mudança dar-se-á a partir do momento que considero meu aluno como um todo, aliás um “único todo” e que deve ser respeitado como tal. Meu papel não é nem encaminhá-lo, mas sim tentar perceber quem está sentado a minha frente e a partir desta percepção, de como ele é ou está, tentar encaminhá-lo. Claro que minha percepção depende muito de quem sou e meu “quem sou” é o resultado de “como sou”.

Se todos empresários considerassem seus operários para além dos portões de suas fábricas e todos os professores levassem em conta que seus alunos são muito mais que alunos, poderíamos imaginar que logo ali, na frente, eles entenderiam que não foram enganados e que as ações eram em benefício de todos. Uma troca sem cobrança; a existência misteriosa, mas que habita somente no outro.

Leonardo Boff fala-nos que o mistério está no outro e não em nós, é no outro que habita o maior desafio porque este entendimento obriga-nos a sair de nós mesmos e a partir do momento que o outro se concretiza a nossa frente nasce à ética, justamente porque o outro nos exige uma atitude prática. O outro significa uma proposta de vida que pede uma res-posta com res-ponsa-bilidade. E pensar de forma contrária é, no mínimo, pretensioso.

Tudo isso podemos traduzir em um sentimento que conhecemos pela palavra AMOR. Amor de compreensão, amor de encaminhamento, amor de vida, amor que torna o outro muito mais importante do que ele pensa ser, amor que transforma sem romper limites, amor que ama de verdade sem dar e nem receber, somente existe naturalmente e é a única forma existencial eterna.

É tão simples, somos todos irmãos, todavia, ainda, não percebemos.

Lembrei-me agora de um menino que nasceu há 2010 anos e que dizia assim: “Amai o próximo como a ti mesmo”.

Se analisarmos um pouco a questão dos escritos, dos Evangelhos canônicos (não quero defender religião alguma, até porque não tenho uma), a grandeza da criação, dá-se a partir da revelação do outro.

Acredito fielmente que se nossas ações não forem individualmente benéficas a todos, de nada vai ter valido a pena, mesmo que nossa alma não seja pequena.

Por fim, o homem busca respostas a questionamentos complexos, mas tudo está em um ato muito simples: Amar o outro. Enquanto pensam, esquecem de praticar.

Gislaine Becker

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Gislaine Becker
Enviado por Gislaine Becker em 31/08/2010
Código do texto: T2469577
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