Honrarás teu pai e tua mae [SERMO CXXIV}

HONRARÁS TEU PAI E TUA MÃE!

Honre seu pai e sua mãe: desse modo, você prolongará

sua vida, na terra que Javé seu Deus dá a você (Ex 20,12).

A partir do Quarto Mandamento começa a sessão “Amor ao próximo”, também chamada de “segunda tábua”. Até então os três primeiros mandamentos apontavam tão-somente para o amor a Deus. A partir do ato de amar e honrar os pais, a tábua sagrada aponta para um modo capaz de prolongar a vida. Não se trata apenas colocar dias na tua vida, mas somar vida aos teus dias...

Ao amar, respeitar e honrar a quem nos deu a vida faz com que a verdadeira vida, aquela vida abundante que Jesus veio nos trazer faça parte da essência do nosso ser. Amar ao próximo e, no caso privilegiadamente os pais, é uma forma de demonstrar amor a Deus. Os pais representam o amor e o poder da divindade, transmitidos de geração em geração. Amar aos pais atua como uma conseqüência do amor que se tem pelo Pai que está no céu. Tudo tem início a partir do “mandamento novo”, conhecido como o mandamento universal do amor:

Amem-se uns aos outros como eu amei vocês (Jo 13,34).

Honra teu pai e tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na

terra que o Senhor, teu Deus, te dá (Ex 20,12).

Jesus era submisso a seus pais (Lc 2,51).

Todas as obrigações prescritas nos mandamentos geram compromissos de caridade e de solidariedade. Observa-se que todas estas obrigações através de um hábito sobrenatural se inclinam a um respeito e ao dever de tributar aos pais, à Pátria e a todos os que são revestidos de autoridade, a honra e o serviço devidos (R. SADA e outro. Curso de Teologia Moral. Lisboa, 1989).

Ampliando essa reflexão, diz o Catecismo (art. 2197) que devemos honrar e respeitar aqueles que Deus, para o nosso bem, revestiu de sua autoridade.

O quarto mandamento dirige-se expressamente aos filhos em suas relações com seu pai e sua mãe, porque esta relação é a mais universal que existe. Diz respeito também às relações de parentesco com os membros do grupo familiar. Manda prestar honra, afeição e reconhecimento aos avós e aos antepassados. Estende-se, enfim, aos deveres dos alunos para com os professores, dos empregados para com seus patrões, dos subordinados para com seus chefes, dos cidadãos para com sua pátria e para com os que a administram e governam (Catecismo 2199).

A Bíblia, em seus textos, especialmente no que se refere ao amor ao próximo – e aqui especificamente aos pais – trata do respeito ao Sagrado, onde lista o pai, a mãe, o sacerdote e as espécies sagradas (eucaristia e cruz). Quem profanar comete sacrilégio e abre um motivo de exclusão (ou excomunhão).

Depois de estudar os três primeiros mandamentos, que abarcam os deveres para com Deus, vamos considerar os sete restantes que visam o próximo e podem resumir-se em uma única frase: “Amarás teu próximo como a ti mesmo”. Iniciamos com o quarto mandamento, que diz: “Honrarás teu pai e tua mãe”. Deus quer que – depois dele – honremos os nossos pais, que nos deram a vida e transmitiram o conhecimento de Deus; mas o mandamento abarca também as relações de parentesco com outros membros do grupo familiar, como os avós e demais antepassados, aos quais devemos igualmente honra, afeto e reconhecimento. Finalmente, este mandamento estende-se também aos deveres do aluno para com seus mestres, do empregado em relação a seu patrão, do subordinado e seu chefe, do cidadão em relação a sua pátria e aos que a administram ou governam.

As idéias principais que englobam o Quarto Mandamento apontam para a necessidade de uma visão mais ampla do respeito à vida, à integridade, ao patrimônio familiar e aos padrões morais elementares. Diariamente os casos de agressões aos pais e aos parentes idosos são relatados pelos meios de comunicação numa dureza que choca e causa indignação. É o caso do jovem que matou a avó idosa porque esta lhe negou dinheiro para adquirir drogas.

Em São Paulo, tempos atrás (2002), uma jovem (o caso Von Richtofen) junto com o namorado e o irmão dele, articulou a morte dos pais, de classe média alta, na esperança de usufruir da herança da família. E não se trata de um caso isolado.

Em Porto Alegre, na mesma época, um homem adulto, com mais de trinta anos e morava com os pais, revoltado com o fato de seus pais se negarem a pagar suas contas, com a ajuda de dois comparsas, matou os pais, um casal de idosos. Ele, um industrial da área de vinicultura e a mãe era uma dona-de-casa. O casal, cuja idade beirava os setenta anos, pertencia a movimentos de Igreja (cursilhos e encontro de casais). O crime chocou a opinião pública do Rio Grande do Sul.

Na data em que preparei este texto (06/05/2011), a televisão informou (programa Brasil Urgente, J. L. Datena) que, por questões de dinheiro um filho alterado (bebidas ou drogas) matou o pai a tiros. Um fato lamentavelmente comum nas grandes cidades.

No campo do estudo bíblico é interessante buscar o sentido do quarto mandamento. Os pais são o instrumento querido por Deus para trazer novas vidas a este mundo. Além da vida, mesmo os que não são pais carnais, procuram para seus filhos o alimento e a educação para que cresçam, se desenvolvam e recebam todos os auxílios para alcançar o equilíbrio da cidadania e a santidade de vida dos filhos de Deus.

O quarto mandamento nos recorda as obrigações que temos para com nossos pais: amor, respeito e obediência. O comportamento de Jesus com Maria, sua Mãe, e com José, seu pai adotivo, deve ser um exemplo a ser imitado por todos. O Corão, o livro sagrado do Islã afirma que o respeito ao pai e à mãe são as duas colunas que sustentam a família e a sociedade. Quando uma dessas bases é retirada ou não é honrada, tudo vem abaixo. Por extensão, o quarto mandamento judaico inclui o respeito e a obediência devidos àqueles que, sob algum aspecto, estão constituídos em autoridade: professores, autoridades eclesiásticas e civis, a pátria etc. Nesse aspecto é salutar que se descubra os deveres dos filhos para com seus pais:

Amor

O primeiro dever de um filho para com seus pais é o de amá-los, e o amor se demonstra com obras. É preciso rezar por eles, dar-lhes satisfações e alegrias e ajudá-los segundo as possibilidades, sobretudo se estão enfermos ou são anciãos.

Respeito e gratidão

O respeito aos pais se demonstra na sincera veneração, e na reverência quando se fala com eles e deles. Seria uma falta de respeito levantar a mão contra eles, desprezá-los, insultá-los ou ofendê-los de qualquer modo, ou ter vergonha deles. Caso nossos pais tenham algum defeito ou peculiaridades – particularmente se já são idosos – ou que não façam o que deveriam fazer, é necessário rezar, compreendê-los e desculpá-los, ocultando seus defeitos e tratando de ajudá-los a que os superem, sem que jamais saia de nossa boca uma palavra de crítica.

Justa obediência

É necessário obedecer aos pais com prontidão e diligência, sempre que não seja pecado o que nos mandam. A obediência exige esforço, porque é muito mais fácil ser “rebelde” fazendo continuamente o próprio capricho. Para obedecer é necessário um coração bom e vencer o próprio egoísmo.

Há outras obrigações estipuladas pelo quarto mandamento. Dentro deste mandamento são incluídos também, além dos pais, outras pessoas e entidades às quais se deve obediência, os deveres com a cidadania e o respeito para com a natureza. Tudo se resume em amor e respeito:

a) Os irmãos. Especialmente os irmãos mais velhos devem

procurar dar bom exemplo evitando discussões, brigas,

invejas: em uma palavra, o egoísmo;

b) Familiares e amigos. O amor e o respeito da família alcançam

de modo particular os avós, tios, primos e os amigos;

c) Professores e benfeitores. São os representantes de nossos

pais e por isso devemos a eles agradecimento e respeito;

d) Os Padres, os Pastores da Igreja e os Religiosos e religiosas..

Porque somos filhos da Igreja, temos de amar aqueles que

governam nossa alma, rezar por eles e obedecer suas

indicações. A lealdade pede que nunca murmuremos contra

eles;

e) Deveres para com a Pátria e as autoridades civis. Como toda

autoridade vem de Deus, é necessário amar e servir nossa

Pátria, a mãe comum, respeitar e obedecer às autoridades

civis e cumprir as leis, sempre que sejam justas.

Esse mandamento é dirigido aos filhos em relação aos pais, porque é a relação mais universal. Também se dirige à relações de parentesco com outros membros da família como os avós e os antepassados. E por fim, estende-se aos deveres dos alunos para com os professores, dos empregados para com os patrões, dos subordinados para com os chefes, etc. A observância ao Quarto mandamento nos faz alcançar junto com os frutos espirituais, frutos temporais de paz e prosperidade. Ao contrário, sua não-observância traz grandes danos às comunidades e às pessoas individualmente.

Não respeita seus pais o filho que:

a) fala mal deles ou os despreza;

b) lhes lança em rosto os seus defeitos ou erros;

c) os agride com palavras ou atos contrários às regras de

convívio;

d) não lhes dá provas usuais de gratidão e boa educação (R.

SADA. op. cit.).

A família se insere privilegiadamente no plano de Deus. O casamento e a família são ordenados para o bem do casal, a procriação e educação dos filhos. Um homem e uma mulher unidos pelo casamento, formam uma família que será reconhecida por qualquer autoridade pública, não submetendo-se a ela. (ou seja, não depende desta autoridade para se formar). A família é feita por membros iguais em dignidade, responsabilidades, direitos e deveres.

A família cristã é chamada de “igreja doméstica”, porque é uma comunidade de fé, esperança e caridade. Ela tem um papel muito importante na Igreja, como se vê no Novo Testamento. É um reflexo da comunhão entre o Pai o Filho e o Espírito Santo e sua atividade procriadora também se parece com a obra criadora do Pai. A leitura e a meditação cotidiana da Sagrada Escritura, fortifica a caridade na família. A família cristã é evangelizadora e missionária e as relações entre os membros dessa família estabelecem laços de intimidade, afetos e respeito mútuo entre si.

A paternidade divina é a fonte e modelo da paternidade humana; é o fundamento da honra devida aos pais. O respeito dos filhos, menores ou adultos, pelo pai e pela mãe alimenta-se da afeição natural nascida do vínculo que os une e é exigido pelo preceito divino. O respeito pelos pais (piedade filial) é produto do reconhecimento para com aqueles que, pelo dom da vida, por seu amor e por seu trabalho puseram seus filhos no mundo e permitiram que crescessem em estatura, em sabedoria e graça.

Honra teu pai de todo o coração e não esqueças as dores de

tua mãe. Lembra-te que foste gerado por eles. O que lhes

darás pelo que te deram? (Eclo 7,27-28).

O respeito filial se revela pela docilidade e pela obediência verdadeiras. “Meu filho, guarda os preceitos de teu pai, não rejeites a instrução de tua mãe. Quando caminhares, te guiarão; quando descansares, te guardarão; quando despertares, te falarão” (Pv 6,20-22). “Um filho sábio ama a correção do pai, e o zombador não escuta a reprimenda” (13,1).

Conforme ensina o Pr. Allen Dvorak (in: www.estudosdabiblia.net) Jesus, nosso grande exemplo, foi submisso a seus pais. Ainda que ele fosse a Divindade em carne, ele seguia o plano de Deus para a família (cf. Lc 2,51). Deus estabeleceu seu plano para nossas famílias porque ele deseja nossa felicidade e sabe que tipo de relações são mais satisfatórias e mais recompensadoras para nós.

Quando a vontade de Deus é negligenciada, resultam a aflição, a violência e a miséria. É verdade geral que os filhos que obedecem e honram seus pais vivem mais, têm vidas mais felizes e, mais importante, estão agradando a Deus! É preciso obedecer aos pais com prontidão e diligência, sempre que aquilo que ordenam não seja pecado ou atentatória à moral e aos bons costumes. A obediência filial exige esforço, porque é muito mais fácil ser rebelde, seguindo os próprios caprichos. Para obedecer é preciso ter um coração bom e vencer o egoísmo.

Vivemos em um tempo em que nossa geração é rebelde e paganizada. Milhões de jovens acham grande coisa ser desobediente aos pais e é por isto que esta geração perversa será destruída diante do Todo-Poderoso pela manifestação de Sua gloriosa vinda nas nuvens dos Céus:

Sabe, porém, isto, que nos últimos dias, sobrevirão tempos

penosos; pois os homens serão amantes de si mesmos,

gananciosos, presunçosos, soberbos, blasfemos,

desobedientes a seus pais, ingratos, ímpios (2Tm 4,1-2)..

O escritor do Livro dos Provérbios oferece a seguinte dura advertência a quem desobedecer qualquer dos pais: “os olhos de quem zomba do pai ou de quem despreza a obediência à sua mãe, cria corvos no ribeiro e pelos filhotes da águia serão comidos” (Pv 30,17). O ponto do autor é claro: aqueles que desobedecem a seus pais sofrerão! A penalidade aplicada a um filho desobediente e rebelde era a morte (Dt 21,18-21)!

O filho que amaldiçoasse ou batesse em seu pai ou em sua mãe era morto por apedrejamento (Ex 21,15. 17; Lv 20,9). Quando Paulo relacionou os vários pecados comuns entre os gentios, ele incluiu “desobedientes aos pais” (Rm 1,30; 2Tm 3,2). É imperioso cumprir com amor as obrigações deste mandamento

Jesus, a Virgem Maria e José formavam a Sagrada Família – modelo de todas as famílias – na qual reinava o carinho, a obediência e a alegria. Também na nossa família deve ser o amor a Deus – e aos demais por Deus – o que nos move em todo o momento a cumprir com gosto nossos deveres. Eis o sábio conselho da Palavra de Deus:

Filho, ampara a velhice de teu pai, e não o entristeças durante a sua vida. Se a inteligência lhe for faltando, suporta-o, e não o desprezes por teres mais vigor do que ele; porque a caridade exercida com tem pai, não ficará no esquecimento. Porque serás recompensado por teres suportado os defeitos de tua mãe., e no dia da tribulação Deus se lembrará de ti (Eclo 3, 14-17).

O cumprimento do quarto mandamento traz consigo uma recompensa: “Honra a teu pai e a tua mãe, para que se prolonguem teus dias sobre a terra que o Senhor, teu Deus, vai te dar” (Ex 20,12). Deus abençoa com frutos espirituais e temporais de paz e prosperidade; ao contrário, o não cumprimento traz grandes danos, não só para a pessoa, mas para toda a comunidade humana. Este deve ser o propósito da vida cristã. Impõe-se fazer um bom exame de consciência para ver se estamos cumprindo nossas obrigações para com a família. Devemos orar todos os dias pelas pessoas “constituídas em dignidade” (pais, familiares, professores, governantes, idosos e ministros das Igrejas)

Um filho honra o pai e um escravo honra o seu senhor. Se

eu sou pai, onde está a honra que me é devida? Se eu sou

senhor, onde está o respeito que me é devido? (Ml 1,6).

Escutem-me, filhos, porque eu sou o pai de vocês. Façam o que lhes digo, e serão salvos. O Senhor quer que o pai seja honrado pelos filhos, e confirma a autoridade da mãe sobre os filhos. Quem honra o próprio pai alcança o perdão dos pecados, e quem respeita sua mãe é como quem ajunta um tesouro. Quem honra seu pai será respeitado pelos seus próprios filhos, e quando rezar será atendido. Quem honra o seu pai terá vida longa, e quem obedece ao Senhor dará alegria à sua mãe. Quem teme ao Senhor, honra seus pais, e serve a eles como se fossem seus patrões. Honre o seu pai em atos e palavras, para que a bênção dele venha sobre você. A bênção do pai consolida a casa dos filhos, mas a maldição da mãe arranca os alicerces. Não se vanglorie com a desonra de seu pai, porque você não conseguirá honra nenhuma com a desonra de seu pai. Pois a glória do homem está na honra do seu pai, e a desonra da mãe é vergonha para os filhos. Meu filho, cuide de seu pai na velhice, e não o abandone enquanto ele viver. Mesmo que ele fique caduco, seja compreensivo e não o despreze, enquanto você está em pleno vigor, pois a caridade feita ao pai não será esquecida, e valerá como reparação pelos pecados que você tiver cometido. No dia do perigo, o Senhor se lembrará de você, e seus pecados se derreterão como geada ao sol. Quem despreza seu pai é um blasfemador, e quem irrita sua mãe será amaldiçoado pelo Senhor (Eclo 3,1-16).

Pois Deus disse: “Honre seu pai e sua mãe”. E ainda: “Quem amaldiçoa o pai ou a mãe, deve ser excluído” (Mt 15,4).

Filhos, obedeçam a seus pais no Senhor, pois isso é justo. !Honre seu pai e sua mãe! é o primeiro mandamento, e vem acompanhado de uma promessa: “para que você seja feliz e tenha vida longa sobre a terra” (Ef 6,1ss).

Pecados e crimes contra o pai e a mãe são capitulados na Teologia Moral como delitos que “clamam aos céus”. Por sua gravidade clamam vingança e exigem reparação. A família, como célula originária da vida e da sociedade é a instância privilegiada pelo quarto mandamento que lembra aos filhos adultos suas responsabilidades para com os pais. Jesus lembra (cf. Mc 7-10ss) esse dever de reconhecimento. De outro lado, aquele que despreza pai e mãe é caracterizado com um blasfemador (cf. Eclo 3,12.16), passível de anátema.

Suportem-se uns aos outros na caridade em toda a

humildade, doçura e paciência (Ef 4,2).