Análise reflexiva sobre a premissa de Gílson Amado da TV Educativa no Rio por volta de 1980.

Reflexão sobre uma das colocações feitas pelo Dr. Gilson Amado diretor da TV Educativa, - homem de arguta percepção - que proferiu a seguinte afirmação em uma apresentação durante o fórum de Ciência e Cultura da UFRJ:

“O Brasil será amanhã tudo aquilo que a TV quiser, pois, as crianças de idade pré-escolar e escolar passam em média oito horas diante da TV e a seguir imitam tudo o que vêem e ouvem”.

Proponho-me a destacar alguns trechos, os quais considero de suma importância, sequer mencionados pela geração Y. Pinçarei alguns conceitos abordados no texto original da autoria de: Maria Cristina Ferreira Leinig e Shceila Mara Martins “Televisão: Um brinquedo nada inocente”, sendo este o último texto incluído no primeiro volume sobre a infância, no qual há a referência à palavra do Dr. Gilson Amado.

Pare melhor refletir sobre tais pensamentos dirijo meu olhar curioso para uma colocação do então diretor da TV Educativa naqueles tempos. Dr. Gilsom Amado, que fez a seguinte afirmação em uma apresentação durante o forum de Ciência e Cultura da UFRJ: “O Brasil será amanhã tudo aquilo que a TV quiser,pois, as crianças de idade pré-escolar e escolar passam em média oito horas diante da TV e a seguir imitam tudo o que veem e ouvem”.

Na década de 1980, - quase final do período da ditadura no Brasil - Leinig e Martins se questionavam:

“Até que ponto estaria a TV influenciando e, por isso, modificando o comportamento das crianças?”

Hoje, - passados trinta anos - eu acrescentaria o item Internet a seu questionamento. Questionaram ainda, entre outros aspectos como se dá a atuação da família e dos educadores nas escolas:

“Qual o papel dos educadores neste contexto”?

As autoras do artigo que serviu da base para minhas reflexões destacam alguns pontos importantíssimos nesta linha de raciocínio. Os quais deixo aqui para sua ocupação mental.

-Os programas das Tvs – hoje eu incluiria a Internet - funcionam como um mecanismo para preencher um vácuo na vida do indivíduo, que neutraliza por alguns momentos os próprios anseios não resolvidos ao transportar-se simbolicamente para dentro das histórias vivenciando o imaginário que a TV envia a seu cérebro através da tela. Sentem-s um pouco amado quando a história for de amor, sente um pouco vitorioso quando a cena TV mostra uma grande conquista. Como no futebol, o gosto da vitória do time favorito, por uns minutos se torna parte do torcedor. O mesmo se realiza temporariamente através da vitória de seu time. A diferença é lembrada, quando o torcedor vai ao banco e não há nenhum centavo depositado para ele como resultado da vitória do “seu” time.

- Um dos aspectos ruins dá-se quando a família fica dividida e isolada. O que ocorre na grande maioria das vezes. Cada membro se isola e usa o tempo de que dispõe para ver um programa que sacie sua necessidade de isolamento e idealizações, criando uma barreira invisível que o separa dos demais. Estarão na mesma casa, debaixo do mesmo teto, porém, não juntos nos mesmos ideais, nem juntos na busca de realizações que contemplem as necessidades do grupo familiar. Mesmo vivendo debaixo do mesmo teto, cada qual vive para si, e o almoço da mamãe para todos. Uma pensão na qual ninguém paga pela ocupação de sua vaga. Não uma família propriamente dita.

-Outro aspecto problemático mais freqüente com mulheres, relaciona-se ao fato das mães saberem mais sobre o dia a dia dos artistas do mundo da fama e ídolos da TV, do que da vida e necessidades mínimas de seus filhos. Não “sobra tempo” para perguntar se um deles está angustiado por algum fato sem solução, por alguma dúvida de adolescente, ou se ele tornou-se prisioneiro dos vícios e drogas, ou se tornou “cavalo” para transportar “farinha” ou outra coisa agressiva a seu bem estar. Não “sobra tempo” para ouvir sobre as necessidades da filha que engravidou e abortou – matou – seu bebê, por medo de encarar a realidade e contar para a família, por medo de não ser acolhida ou aceita, como são acolhidos os artistas favoritos. Os filhos se tornam estranhos no seio familiar, para pais e mães que “tem mais tempo” para saber dos famosos da TV do que das necessidades de sua prole. Sabe a cor que a filha da Xuxa usou nos seus quinze anos e não sabe qual o alimento favorito de seu próprio filho. Isto é uma grave realidade.

-Ou então, aquele pai que conhece como a palma das próprias mãos sobre o dia a dia do “seu time” favorito, seja ele Corinthians, Palmeiras ou São Paulo, mas não sabe qual é o tipo sanguíneo do próprio filho – se, O+,O-, ou outro. Se o filho precisar de uma transfusão sanguínea, terá que fazer um exame de sangue para saber. Tal pai, luta pelo “seu time” que não lhe dá um centavo pelo incentivo diário, anual, e muitas vezes não é capaz de investir nos ideais do próprio filho.

-A TV e Internet, muito embora tenham sido desenvolvidas para fins bons e necessários, para dinamizar a comunicação, facilitar o contato nos tempos da guerra, hoje tem sido utilizadas muitas vezes de forma pouco responsável na sociedade atual, com finalidade de “engessar as massas” em padrões que interessam a quem as dirigem.

-Se um filho perguntar a algumas mães na hora de “sua novela” favorita “maê”, “mainha”, quem inventou a TV?”, correrão o risco de levar um soco no coco por “atrapalhar” sua mãe a acompanhar o capitulo do vicio favorito do dia. A viciante novela.

-Sem pensar naquelas crianças que tem a TV como babá eletrônica. Acompanham desenhos animados a tiros, murros, e gritarias, e são impulsionadas a conviverem e rirem destas violências que entram pelos seus olhos e ouvidos diariamente, como se fossem brincadeiras inocentes.

Desenhos de Tom and Jerry, onde o gato sempre é mal para o gato, um Frajola que sempre quer matar o Piu-piu, como completa a psicóloga Mariana Chalfon “Apesar de estarem na moda, os desenhos educativos não são as únicas atrações que prendem os olhos das crianças à TV. Ben 10, o garotinho que se transforma em dez criaturas, e o pequeno ninja Naruto apresentam conteúdo diferente, com lutas entre o bem e o mal e uma boa dose de violência. Sucesso entre os pequenos desde os tempos de National Kid, Jaspion e Cavaleiros do Zodíaco, os desenhos violentos precisam de atenção especial dos pais. "Ao mesmo tempo em que o Ben 10 é um herói, ele também é um menino malcriado, e a lição que o desenho passa é paradoxal", afirma a psicopedagoga Quézia Bombonatto. Por isso, os pais têm que explicar aos filhos que parte daquilo é interessante e outra não, assim como frisar que as crianças não têm superpoderes, por isso as cenas de ação não devem ser imitadas em casa. "Apesar do comportamento às vezes agressivo, esses desenhos também apresentam o lado do herói que supera dificuldades para atingir seus objetivos, e isso é muito positivo".Não basta ligar a Tv e deixar a criança no piloto automático, como se ela já fosse capaz de selecionar aquilo que lhe faz bem ao desenvolvimento e formação.

-Sem deixar de se recordar os antigos desenhos com “xerifes”, cavalo pé de pano, pica pau que faziam o maior bang bang e tiroteio aparentemente infantil, mas não deixa de ser violência na TV. Os cientistas usaram dados de um estudo que durou 40 anos e que acompanhou 8 mil famílias americanas, os tipos de programa que eram vistos por 184 meninos e 146 meninas, entre as idades de 2 e 5 anos, e que comportamento exibiam mais tarde. Uma pesquisa da AFP mostra alguns programas considerados violentos: “Os programas considerados violentos no estudo foram, entre outros, Power Rangers, Star Wars e partidas de futebol americano. Os programas não-violentos foram Toy Story ou Os Flintstones, enquanto que Vila Sésamo ou Magic School Bus estavam entre os programas mais educativos”. Não basta deixar que as crianças façam a reflexão e decidam sobre o que lhe convém. Elas não estão aptas para tal tarefa. Refletir e orientar ainda são da responsabilidade dos pais. Ou a TV realmente moldará as gerações a cada ano, sem que ninguém se dê conta disso, sem pedir licença, entra nos lares, adestram os filhos para guerrilhas com desenhos “inocentes”.

-Sem deixar de escrever sobre a problemática questão das novelas que sob a falsa alegação de abordagens de temas atuais, dão incentivo total à práticas de adultério, divórcios, e falcatruas, homo sexualismo e várias formas de libertinagens. E adentram os lares diariamente com estas práticas sem pedir licença.

Outros importadores de “modelos” tais como: os seriados americanos, Dallas, Os Waltsons, a feiticeira, Chaves, os BBB.

No jornalismo tivemos o Repórter Esso “Iniciado nos Estados Unidos, em 1935, O Repórter Esso chegou a 15 países se tornando referência de informação. No Brasil, foi transmitido pela primeira vez em 28 de agosto de 1941, pela Rádio Nacional, no Rio de Janeiro. Durante os quase 30 anos que ficou no ar, a síntese noticiosa conquistou a audiência brasileira dando origem ao jargão: “Se não deu no Esso, não aconteceu”. “ Era patrocinado pela empresa americana Standard Oil Company of Brazil, conhecida aqui como Esso do Brasil. Heron Domingues, Luiz Jatobá e Gontijo Teodoro, foram os locutores de maior expressão e sucesso do programa. Indo ao ar pela primeira vez em 10 de abril de 1952, último Repórter Esso foi exibido em 31 de dezembro de 1970 pela TV Tupi”. Não estou aqui questionando sua qualidade por não ser da minha alçada. Questiono sim a não participação do povo nas decisões sobre aquilo que moldará seu dia a dia, suas opiniões. Recebem pronto e tem que aceitá-lo.

Como se fosse um enlatado para ser consumido. A respeito desse comportamento de empurrar “enlatados” na massa o Theodor Adorno afirmou que muito daquilo que se chama música na industria cultural não passa de lixo enlatado, uma repetição das mesmas notas, em um cd e no próximo de forma invertida e o povo compra dez vezes o mesmo cd com nomes diferentes e conteúdos iguais, devido a sua incapacidade de análise e espírito crítico.

As autoras do texto base, citam outro autor: Konrad Lorenz, no seu livro: Oito pecados mortais” encara como o terceiro grande pecado: a tecnologia. Para ele, essa excessiva competição, ou a corrida da humanidade consigo mesma, cega o homem a todos os valores reais e tira-lhe o tempo de refletir sobretudo, os sentimentos e afetos fortes.” As alegrias de viver e o diálogo são sufocados.

O trivial é buscado com afã e enaltecido em detrimento daquilo que realmente é fundamental para o bom viver. São pais e mães que não querem ter trabalho em ouvir os filhos, colocam-nos para ouvirem a TV, assim não darão “trabalho” aos pais com pergunta para as quais muitas vezes os próprios pais não têm respostas, nem querem procurá-las. Quem já não ouviu o famoso: “Mãe de onde eu vim?”, “Mãe para onde agente vai quando morre?” “Mãe porque a barriga da titia cresceu tanto?” E por aí a fora.

Quem deveria usufruir o grande privilégio de educá-los e moldá-los deveria ser os pais. Mas, via de regra quem tem a responsabilidade nessa formação de opinião equivocada, distorcida na vida das pessoas desde a infância?

Diante deste quadro sou levada a concordar plenamente com a afirmação anteriormente mencionada pelo Dr. Gilson Amado: “ O Brasil será tudo aquilo que a TV quiser”.

Sou forçada a concordar com sua proposição ao confrontá-la com os resultados verificados no Brasil após trinta anos de sua fala. Sou tentada a afirmar que o Brasil tornou-se exatamente aquilo que os diretores das programações desejaram. As TV, não apenas formaram a opinião destas gerações, moldaram-nas como quiseram. Para consumidores ávidos num mundo capitalista, para aquecer cada vez mais o mercado comprando muitas coisas as quais não necessitam para viverem bem e com boa saúde. Quem precisa de cigarro X, ou cerveja K para viver bem? No entanto, até a pouco tempo estes produtos eram amplamente divulgados na TV. A proibição é bem recente. Quem já viu propaganda sobre a importância dos vegetais na alimentação, a não ser para enfatizar as vendas de algum enlatado que contenha uns milésimos de colorido que lembre tal vegetal ou verdura? Quando o desenho falava do espinafre, era para dar força como ao Popay. Força para brigar, nunca para tirar boas notas na escola. Quem ensina isto?

Se um artista usar uma roupa todos quer comprá-la, não porque a necessitem, ou porque tem boa qualidade. É o poder do fetiche. Para se parecer com o artista, e nunca para ser beneficiado com o uso em si. O que se leva em conta é o valor simbólico agregado.

Os brasileiros não decidiram que país queriam para si. Os idealizadores dos programas de TV decidiram os destinos das novas gerações, - hoje chamada de geração Y - como se fossem massa para bolo despejada a uma forma seja ela retangular ou redonda. A massa assumiu o formato da forma onde a “massa humana” foi despejada, sem ter capacidade para se questionar se queria ou não ter aquele formato. Após o processo de assadura, uma vez desenformados continuarão com o formato adquirido à força da forma e ao calor do forno.

Tenho refletido sobre estas e outras questões que norteiam nossos destinos, e deixo-as aqui para aquees que gostam de decidir suas vidas, não transferindo pata a TV ou para outros tal privilégio.

Em Agosto de 1980, a Editora Educacional Brasiliense S. A. , lançou a 2ª Ed. Da Coleção denominada

“Conselhos – Análise do Comportamento Humano em Psicologia”, com 4 volumes. Obra sob a responsabilidade dos autores: Aurélio Bolsanello e Sigmundo Burger.

O primeiro vol. Trata dos aspectos psicológicos da infância, o segundo trata do adolescente, o terceiro do adulto e o quarto da velhice – hoje denominada de feliz idade -, uma forma de despistar a discriminação contra o idoso.

No volume dedicado à infância está inserido como último artigo o texto no qual basei-me para esta reflexão.

nana caperuccita
Enviado por nana caperuccita em 19/10/2011
Código do texto: T3285728
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