AMADEUS
"À medida que ergo alguém, eu cresço junto com ele"
Em férias, revi um filme intitulado Amadeus, no qual Tom Hulce interpretou com brilhantismo o papel do compositor clássico Wolfgang Amadeus Mozart. Um grande sucesso de bilheteria há décadas atrás, não me recordo exatamente em que ano. E, embora na época a crítica tenha alegado a licença poética para justificar uma fidelidade questionável do roteiro para com a vida do célebre compositor, todavia, muitos detalhes foram fidedignos, e serviram para ilustrar, nos tempos atuais, a genialidade musical destinada a se eternizar, como aconteceu com muitos outros músicos daqueles idos que ainda hoje têm suas composições executadas por orquestras sinfônicas do mundo inteiro, ou nas partituras de estudantes da música erudita, como é o meu caso.
O estudo do violino tem me inclinado prazerosamente às diversas modalidades deste prisma do universo da Arte; mas também há algo neste filme que nos serve maravilhosamente como reflexão acerca de um contexto de vida que pode ser aplicável a cada um de nós.
Qual a medida do seu valor?! O estimado leitor ou leitora já parou para considerar com carinho a respeito? Ou, por outra, qual a referência por vocês admitida, consciente ou inconscientemente, para pressupor acerca de suas capacidades e potenciais? A referência alheia? Os olhares, julgamentos sabidos ou ouvidos? As opiniões a seu respeito? Ou, por outra, aquilo que conhecem honestamente de si, sobre os seus valores pessoais mais ou menos aproveitados no repertório dos acontecimentos de seus dias?
Cavamos oportunidades, sem esmorecimentos, olhando com imparcialidade para os nossos pendores e limitações com a melhor sinceridade possível, ou andamos comprando gato por lebre, deixando-nos vitimizar voluntariamente pelo jogo mais velho do que o mundo de ser usado por alguns a guisa de massa de manobra para favorecer os interesses de poucos? Porque, ao menos intimamente, não somos obrigados a isto!
O que você é, sabe que é, e faz a respeito disso? Lamento dizer, meus amigos, que se conduzem as suas vidas segundo o que pensam sobre vocês, deixando-se levar durante as suas horas por opiniões alheias que não condizem necessariamente com as suas melhores realidades, então a situação é preocupante!
Hoje vejo aquele Amadeus como uma metáfora digna de Amor a Deus. Mozart, como muitos compositores dos séculos findos, morreu em quase completa indigência. Alguns tiveram seu talento e obra reconhecidos somente décadas depois, como aconteceu com Antonio Vivaldi. E Amadeus retrata, deste drama do célebre compositor, as possíveis causas: o modo como foi vítima inconsciente da rede de intrigas de representantes mais medíocres do talento musical daqueles tempos, empenhados, por despeito, a mobilizar articulações importantes nos meios nobres e monárquicos para depreciar, de caso pensado, a sua obra; para desmerecer-lhe a genialidade e empurrá-la para o obscurantismo. E, fosse por ser dotado da bagagem ingrata de sensibilidade exacerbada inerente ao artista de um modo geral, fosse pelas peculiaridades de devassidão do contexto de época no qual viveu, o fato é que caiu vítima, ao final de tudo, dos frutos ingratos da dissipação de costumes em festividades e orgias, que terminaram por dissipar-lhe integralmente dinheiro e saúde - quase falido, não reconhecido. E afinal morrendo na indigência!
Todavia, em nenhum momento abriu mão da dignidade de persistir no que sabia fazer melhor: compor! Usar a genialidade musical e legar à posteridade da história - a nós, e a todas as gerações ainda por vir! - a jóia valiosa das composições atemporais que, a qualquer tempo, haverão de ser estudadas, apreciadas e executadas! Sobretudo, relembradas como aquele tipo de virtuosismo raro que, de tempos em tempos, surge no mundo, geralmente em missão de vida sacrificial para legar a sua contribuição à evolução da raça humana, seja em que área for, para depois retornar às dimensões inefáveis do espírito das quais procedeu!
Mozart não foi o único exemplo de ser humano desvalorizado no melhor de si mesmo ante as articulações astutas dos representantes medíocres da sociedade, terminando os seus dias em aparente derrota, para somente depois ter eternizados e justiçados, tanto seus nomes, quanto os seu feitos! Noutras tantas esferas da existência, incontáveis já provaram do cálice amargo de não ver entre os seus contemporâneos o seu valor mais genuíno reconhecido: Galileu. Jesus. Ghandi. Chico Mendes. João Evangelista. Mahavira. Francisco de Assis, e tantos outros anônimos de espírito estóico com quem provavelmente cruzamos, ainda hoje, os nossos passos pelas ruas.
Todavia, há que se espelhar justamente nestes exemplos mais notáveis para se extrair, daí, talvez que a mais preciosa das lições: a de que a medida mais fiel do nosso valor prescinde de reconhecimentos, simplesmente porque, de si, é dotada de luz própria! E esta luz haverá de brilhar e beneficiar sempre os que para ela são mais sensíveis! Pois é da sua natureza brilhar, se expandir, e criar empatia com os que são dotados da devida sensibilidade para interagir! Simples assim!
Quando Jesus foi erguido na cruz da profunda cegueira humana, não por um acaso proferiu o indelével "Pai, perdoai-os, porque não sabem o que fazem!" Porque foi justo ali, no ápice missionário de sua rápida estadia entre nós, que nos foi legada toda a possibilidade de redenção e o farol que nos valeria eternamente como guia!
Em nenhum momento o Cristo renunciou às atitudes que lhe atestavam a indescritível estatura evolutiva! O corpo perecível, assim, sucumbiu, sob a cegueira implacável dos julgamentos de uma maioria insana. Ficaram-nos a Mensagem perene, o insuperável exemplo de fidelidade e de amor a Deus. De dignidade!