CONSUMO CONSCIENTE

   Não há como negar: o consumo é um dos pilares da sociedade moderna, especialmente neste início de Século XXI. Sem consumo, não há necessidade de produção, não há comércio, não há arrecadação de impostos, em resumo – as economias encolhem e entram em crise. Muito da receita do Brasil para não se afetar decisivamente com a crise de 2008, que afetou os EUA e espalhou seus efeitos por todos os países, foi incentivar o consumo, através do crédito fácil, das reduções localizadas e temporárias de impostos e, mais recentemente, da redução dos juros bancários. Portanto, está claro que para que a economia mundial se mantenha nos trilhos, “consumir é preciso”, parafraseando o poeta.
   O problema é que o consumismo – uma espécie de exacerbação do consumo, que pode, inclusive, provocar o vício nas compras – gera distorções graves, como o desperdício, o rápido “envelhecimento” dos equipamentos eletrônicos, o aumento do gasto de energia e, por conseguinte, da necessidade de novas fontes de energia. Se o mundo consumir de forma desenfreada, o próprio mundo vai se esgotar. É algo que vai além do campo da ecologia.
   É nesse ponto que entra a expressão “consumo consciente”. Buscar, no seu dia a dia, hábitos de consumo que evitem o desperdício, o descarte desnecessários de produtos que ainda estão em pleno funcionamento e o gasto exagerado de energia, a cada dia mais vem se transformando em algo urgente. Não cabe mais nos dias de hoje “consumir por consumir” já que está evidente a rápida exaustão dos recursos naturais do planeta.
   O “consumo consciente” entra também em outras questões fundamentais, que não estão diretamente ligadas à ecologia: o comércio justo e as relações de trabalho. O consumidor consciente se preocupa com a origem do produto. A carne que teve origem no maltrato dos animais, a roupa ou aparelho eletrônico que veio da exploração do trabalho infantil, a madeira não certificada que vem do desmatamento de florestas, o carro que polui mais ao usar diesel ou gasolina, e tantos outros produtos, tem que, rapidamente, deixar de ser opções para o consumidor.  Ao contrário, o produto que incentiva a redução da miséria e garante justiça social, dando emprego e renda a comunidades carentes, que pode ser reciclado ou reaproveitado, que é feito com material biodegradável, vai ficar em alta nos dias que estão por vir.
   Se os efeitos da publicidade sobre o consumidor sempre são mais fortes do que a chamada “consciência ecológica”, porque apelam a emoções e gostos mais profundos, refletir antes de comprar pode ser sempre uma boa política. O consumo poderá, sim, continuar ditando os caminhos da economia e da sobrevivência dos países, mas melhor que seja o consumo consciente.
   Afinal, o ser humano vale sempre mais pelo que é do que pelo que tem.

(Publicado no JORNAL ITABORAÍ de 18/01/2013)