A mulher ciumenta

Ciúme, dizem os românticos de primeira viagem, é o tempero do amor.

No entanto, a prática identifica, nos dias de hoje, o ciúme como uma patologia. O ciumento sempre descobre mais do que desejaria descobrir. No dizer de Shakespeare, “No ciúme há sempre mais amor-próprio que verdadeiro amor”. No entanto, pior que mulher ciumenta, é homem ciumento; chega a ser ridículo.

Conheci um indivíduo - felizmente já evaporado - que, na iminência de apertarem socialmente a mão da noiva dele, agarrava os dois braços da moça, para impedir o gesto de delicadeza.

Há também algumas mulheres ciumentas. Felizmente a minha o é em padrões aceitáveis. Uma das que eu conheço é doente. Se outra mulher apertar a mão do marido dela por mais de cinco segundos, já é assédio sexual. Ela detesta mulher que fala sorrindo. Pior ainda quando pisca o olho. E se é daquelas que cruzam e descruzam as pernas, enrolando uma na outra, aí sim, cai a casa. Essa senhora chegou a mandar embora a empregada, que admirava a camisa do marido no varal, talvez sonhando em estar nos braços dele. Hoje beirando os setenta anos, no passado ela tinha ciúmes até das próprias irmãs. Se uma das coroas se sentasse na frente do “belezão” e cruzasse as pernas, ela buscava uma toalha para cobrir a “nudez”.

Quem tem mulher assim perde a vontade de sair, pois sempre acaba em encrenca. Tive um amigo cuja mulher não o deixava ir ao futebol, domingo à tarde. Ela a traía com a moça do cafezinho, na firma, durante a semana, à tarde. Quando saíam com amigos, em festa, jantares ou boates, ela não admitia que nenhuma mulher sentasse ao lado dele. E volta-e-meia olhava, de sobreaviso, debaixo da mesa, para ver se nenhuma estava esfregando o pé nele. Ela só ia ao toalete se todas fossem.

Na verdade, o ciumento é um sofredor que faz sofrer. Outro amigo, um colega, era casado com uma mulher ciumenta, rica e dominadora. Pelos seus métodos de controle, nós a apelidamos de "Sivam". Ela dava incertas no trabalho, ligava com outra voz para ver se ele aceitava marcar encontro, cheirava as roupas deles e, mais que uma vez, conferiu sua anatomia íntima, para ver se ele havia prevaricado à tarde. Ele se tornou um workaholic: viciado em trabalho. Há uns três meses ele morreu. A secretária foi ao enterro e chorou muito, para indignação da viúva: “Prá mim, quem chora em enterro de homem casado, já chorou no cabelos do peito!”, disse ela, bem alto.

Acusada de ciumenta, ela disse: “Ciumenta, eu? Nem pensar! Eu só exercia em discreto controle!”.

Antônio Mesquita Galvão
Enviado por Antônio Mesquita Galvão em 26/10/2005
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