Acerca dos Extremos!

O equilíbrio sempre nos parece custoso. Não poucas vezes cambaleamos, como pessoas tontas, aos extremos. Nossas posturas são intransigentes. Inflexíveis, aderimos a um ponto de vista totalitário, onde quase nunca se mostra aberto ao viés oposto.

Gosto muito de ouvir aquilo que as pessoas têm a dizer. Através das construções alheias, teço minhas próprias conclusões. Outro dia, andando pela rua, ouvi um jovem gritar: "Conforme-se, querida. O mundo é gay!" Achei propícia a oportunidade de refletir acerca da atitude de um garoto que, sem vergonha, gritou na rua e saiu, como que num desfecho vitorioso de uma guerra libidinosa, desfilando e esbanjando purpurina através da ginga e do sarcasmo. Coisa hilária.

Uma das características peculiares da raça humana é a de justamente conceituar, definir e esclarecer as coisas. Andamos por aí categorizando, dando significado ao que nos parece tangível. No caso do boy, a sua fala foi categórica. Ele definiu o conceito de mundo. Se há algo certo, meu bem, é isto: o mundo é bicha e pronto! Existe, pois, mais uma definição de mundo. Ele é pintado de rosa e se quiser ser mais dinâmico, pode ser até um conjunto de cores que formam o arco-íris. Para mim, não há definição mais ridícula.

O movimento homossexual vem há muito tempo travando uma luta de resistência em prol da efetivação de direitos básicos, porém indispensáveis para a sua sobrevivência numa sociedade esquizofrênica, agonizante, completamente histérica. Isto, de certa forma, é bastante positivo: a exigência dos direitos devidos sempre surte efeitos satisfatórios no decorrer da história. O que me preocupa, no entanto, são os extremos. Simplificando, o mundo NÃO é gay. A luta contra a homofobia é legítima, mas deve ser muito bem articulada, sob pena de cair num outro cruel calabouço: a heterofobia. É nobre a luta pelo reconhecimento dos direitos humanos, independente de cor, raça ou orientação sexual, mas a luta não deve ser exclusivista, como se somente uma orientação ou forma de amar fosse a correta e/ou suprema. É sobre isto que quero falar.

Ao afirmar categoricamente que o mundo é gay, não se dá espaço para o que não o é. Resta apenas a terrível submissão diante de uma tirania sexual imposta: no dizer do garoto, "conforme-se, querida!". Eis o extremo. O mundo é mundo: não é homo, nem hétero e muito menos bi. O mundo é isto que está aí, é o diverso. Ele é mistura de raças, de classes, de sexos, de práticas e de gostos. É uma salada de frutas e, por isto, delicioso.

Temo os extremos. Possuímos saldos sangrentos de discursos totalitários, não argumentativos, mas sentimentais. O sentimentalismo existe e é atuante, mas a razão deve ser alimentada e exercida. O correto, dentro de minha ótica, é a supremacia racional que acusa a diversidade em sua riqueza. Assim, o mundo seria diverso e não homo ou hétero. Ele seria rico por causa da diferença, das inúmeras possibilidades, das incontáveis e magníficas expressões. Este é, ao meu ver, a definição de mundo mesmo quando alguém se surpreende com a extravagância do outro. Queiramos ou não, o outro existe e faz parte do mundo. É um pedaço do mundo no mundo. Não é o todo, mas é um com ele.

Não vejo a hora de reconhecermos a beleza da diversidade. Já batemos com a cabeça na parede da nua realidade por diversas vezes e ainda não conseguimos vislumbrar a essência do mundo que é a sua beleza. Afinal, o que seria do todo se não fossem as partes?