Da fundamentação do normal.

Surpreende-me o fato de não possuirmos mais embasamento teórico para fundamentarmos as nossas mais (supostas) irrefutáveis opiniões. Afirmo isto depois de travar um diálogo que teve um início calmo e um fim desastroso. Tudo isso por uma simples (porém desconcertante) palavra: normal.

Onde quer que estejamos, seja no carro, no ônibus ou numa roda de amigos, ouvimos costumeiramente os termos “é normal”, “não, a atitude de fulano não foi normal”, “eu posso afirmar que esse seu comportamento é normalíssimo”, como se soubéssemos, ao certo, o mínimo acerca da normalidade e/ou anormalidade.

O que percebo é a completa dissonância acerca do dos conceitos que se dizem normais acerca do real normal, se é que ele existe. Os padrões são diversos e a subjetividade sempre leva o seu primeiro lugar nesse espaço travado de razão.

O que prejudica é a necessidade de grande parte dos homens – incluo-me neste seleto grupo – que busca, de forma intransigente, impor os seus padrões e crenças, acerca das teorias mais diversas possíveis, aos outros. Não poucas das tais teorias são infundadas, formadas pelos mais difundidos preconceitos arraigados no âmago de uma sociedade doentia e agonizante. Eis o martírio: padecemos o agrilhoamento da completa ignorância acerca das coisas ditas mais vitais. Os conceitos dos termos são diversos e pouquíssimas vezes acolhemos o diverso. Aquele que não pensa como eu, torna-se neste sentido, opositor, ameaça constante da minha sistemática racional. Assim, esquecemo-nos de que sempre perdemos a razão quando, por fina força, imputamos goela abaixo a irracionalidade da nossa irrefutável (e intocável) verdade.

O homem nunca foi tão tendencioso ao fanatismo como nos dias atuais. Há a necessidade do certo e do errado, do correto e do incorreto, do exato e do inexato. Afirmar o que é normal e o que é anormal pressupõe, no mínimo, a explanação profunda de ambos os conceitos.