CONCEPÇÕES DE TEORIAS DE ANÁLISE DO DISCURSO: DA DISCURSIVIDADE À CRITICIDADE TEXTUAL

Resumo: Este artigo investiga as concepções fundamentais sobre as Teorias de Análise do Discurso por docentes de Faculdades do Vale Jaguaribe, especificamente os que são da área de Lingüística. Para tanto, verificaremos neste estudo, os principais aspectos do discurso mais conhecidos, como também notabilizaremos os seguintes elementos deste método de Análise: sua contextualização histórica, sua ordem tipológica, suas ocorrências universais e seus principais estudiosos. Numa premissa teórico-metodológica, analisaremos a partir das respostas a um questionário sobre este tema respondido por um grupo de professores. Este trabalho baseou-se na pesquisa de BAKHTIN (1981) a respeito dos fatores enunciativos que interferem na estrutura da linguagem humana. Dessa forma, o estudo aqui presente visa ponderar os pressupostos epistemológicos dos principais teóricos do Discurso como MAINGUENEAU (1989), ORLANDI (1999), FOUCAULT (1998), FAIRCLOUGH (1989; 1995) que apresentam amplo acervo de pesquisas e publicações sobre esse assunto. Através da análise dos questionários, pudemos constatar na fala dos professores, caracteres importantes no que tange a conceituações, a análise e a compreensão dos múltiplos discursos presentes nos textos que produzimos e estudamos no transcorrer de nossa vida. Com isso pude perceber a valorização deste método de estudo teórico – científico, evidenciou-se, ainda, que há significativos retornos cognitivos quando se verifica a importância elementar da discursividade com o fim de manter a criticidade e a contextualização sócio-política da língua concernente com as teias de relações dos falantes e produtores de textos. Os resultados indicam uma contribuição da experiência, em que o discurso deve envolver o texto e a sociabilidade, no entanto, é imprescindível que nós estudantes sejamos bons leitores e escritores de diferentes gêneros acadêmicos.

Palavras-chave: Análise do Discurso; Contextualização; Diversidade de Discursos; Pesquisadores.

Considerações iniciais

A Análise do Discurso ou Análise de Discursos é uma prática e um campo da lingüística e da comunicação especializado em analisar construções ideológicas presentes em um texto. É muito utilizada, por exemplo, para analisar textos da mídia e as ideologias que trazem em si. A AD é proposta a partir da filosofia materialista que põe em questão a prática das ciências humanas e a divisão do trabalho intelectual, de forma reflexiva.

De acordo com uma das leituras possíveis, o discurso é a prática social de produção de textos. Isto significa que todo discurso é uma construção social, não individual, e que só pode ser analisado considerando seu contexto histórico-social, suas condições de produção; significa ainda que o discurso reflete uma visão de mundo determinada, necessariamente, vinculada à do(s) seu(s) autor(es) e à sociedade em que vive(m).

O Texto, por sua vez, é o produto da atividade discursiva, o objeto empírico de análise do discurso; é a construção sobre a qual se debruça o analista para buscar, em sua superfície, as marcas que guiam a investigação científica. É necessário, porém, salientar que o objeto da Análise do Discurso é o próprio Discurso.

A Contextetualização histórica

O Contexto é a situação histórico-social de um texto, envolvendo não somente as instituições humanas, como ainda outros textos que sejam produzidos em volta e com ele se relacionem. Pode-se dizer que o contexto é a moldura de um texto. O contexto envolve elementos tanto da realidade do autor quanto do receptor — e a análise destes elementos ajuda a determinar o sentido. A interpretação de um texto deve, de imediato, saber que há um autor, um sujeito com determinada identidade social e histórica e, a partir disto, situar o discurso como compartilhando desta identidade.

A Ordem de Discursos

Uma ordem de discursos é um conjunto ou série de tipos de discursos, definido socialmente (Foucault) ou temporalmente (Fairclough), a partir de uma origem comum. São os discursos produzidos num mesmo contexto de uma instituição ou comunidade, para circulação interna ou externa e que interagem não apenas entre eles, mas também com textos de outras ordens discursivas, (intertextualidade). Sua importância para a Análise do Discurso está em contextualizar os discursos como elementos relacionados em redes sociais e determinados socialmente por regras e rituais, bem como modificáveis na medida em que lidam permanentemente com outros textos que chegam ao emissor e o influenciam na produção de seus próprios discursos.

O Universo de Concorrências Discursivas

O universo de concorrências ou mercado simbólico é o espaço de interação discursiva no qual discursos de diferentes emissores se dirigem ao mesmo público receptor: por exemplo, diferentes marcas de cerveja apelando ao mesmo segmento de mercado (homens entre 20-45 anos, classes A/B, solteiros). A concorrência ocorre quando cada um destes discursos tenta "ganhar" o receptor, "anulando" os demais ou desarticulando seus argumentos ou credibilidade em seu próprio favor. O modo de interpelar o receptor definirá as características do seu discurso (posicionamento competitivo) e determinará seu êxito ou insucesso.

A Dificuldades da Contextualização

A contextualização de um discurso é dificultada por, fundamentalmente, três itens:

A relação de causalidade entre características de um texto e a sociedade não é entre dois elementos distintos A - B, um causa e outro conseqüência, mas é dialética, ou seja, a continência de um pelo outro é uma relação contraditória.

Pelo mesmo raciocínio, os discursos (esfera da superestrutura) não sofrem apenas os determinantes econômicos (esfera da infraestrutura), mas também culturais, sexuais, etários etc.

 O não-imediatismo da passagem da análise semiológica para a interpretação semântica, ou seja: não basta demarcar e classificar as palavras para imediatamente interpretar seus significados. É preciso considerar o máximo possível de variáveis presentes no contexto.

O Discurso Estético

A teoria do Discurso Estético parte do princípio de que, se a imagem também é um texto, e há discurso das imagens, não apenas semântico, deve haver discurso estético, sintático, perceptivel não logicamente, mas esteticamente.

Teoricamente, há estética em tudo. Todas as formas existentes são passíveis de percepção estética -- logo, de apreciação e informação. Por isso, o que falamos pode ser chamado de um “discurso estético” ou discurso das imagens, que se dê pela percepção estética, não-lógica, de determinados valores ideológicos inculcados e identificáveis por meio de suas marcas de enunciação e interpelação. No caso das imagens, tais marcas podem ser encontradas, entre outros modos, por meio da Análise da Imagem e das leis da Teoria da Percepção.

É possível, por exemplo, analisar linhas de formas, texturas, cores, nas imagens produzidas por uma sociedade, uma instituição ou um período, e a partir destas marcas encontrar formas de interpelação (posicionamento & poder) e valorizações de determinados conceitos que são fundamentalmente ideológicos.

A idéia do discurso como “transmissor” de ideologia é aplicada às formas de Arte e de Comunicação Visual mais recentemente, em virtude da evolução das relações de produção, que vem distanciando quem cria de quem produz.

Na história da feitura de artefatos (fabricação de objetos e obras de arte), a produção deslocou-se da união designer/produtor para a gradual separação entre esses dois agentes. Antigamente, um artesão era ao mesmo tempo o projetista e o fabricante de um objeto ou uma obra. Já no contexto da produção industrial, o profissional que aplica valores estéticos aos objetos que serão produzidos (designer) não é o mesmo que os executa. Assim, indaga-se se é ele quem cria e determina esses valores estéticos, ou se eles já lhe são passados, pelo ambiente cultural, ideológico ou econômico.

Por exemplo: se os cartazistas russos do período revolucionário (1917-1922) utilizavam praticamente só cores preta e vermelha, isto era uma condição imposta pela economia de guerra, que não dispunha de variedade de tintas, ou era reflexo de um discurso ideológico extremista que defendia altos contrastes e opostos bem definidos, desprestigiando nuances e meios-termos?

Ou, por outro lado, o estilo Barroco da Contra-Reforma católica dá idéia de riqueza e opulência, fazendo frente à austeridade sombria da estética protestante, que pregava a não-representação (abolição do culto às imagens de santos etc.) e a ascese.

Embora não seja fácil definir qual é a relação causa-e-conseqüência do fenômeno, o certo é que os valores estéticos impregnados num trabalho e o ambiente ideológico estão intrinsecamente ligados, produzindo discursos muito mais do que verbais. Assim, é possível encontrar discursos estéticos nas instituições (aparelhos ideológicos do Estado, segundo Althusser, ou aparelhos de hegemonia, conforme Gramsci), dentro do que se considera "cultura", e pode-se considerar a atividade de comunicação visual como produtora de estética.

O que se propõe como Discurso Estético para as imagens vale igualmente para a Música, a Poesia, a Literatura e outras manifestações estéticas.

A Escola Francesa

A proposta de um novo objeto chamado "discurso" surgiu com Michel Pêcheux na França, em sua tese "Analyse Automatique du Discours" em 1969. Na época ele trabalhava em um Laboratório de Psicologia Social e sua idéia era a de produzir um espaço de reflexão que colocasse em questão a prática elitizada e isolada das Ciências Humanas da época. Para tanto, ele sugere que as ciências se confrontem, particularmente a história, a psicanálise e a linguística. Este espaço de discussão e compreensão é chamado de entremeio, e o objeto que é estudado aí é o "discurso". Assim, é no entremeio das disciplinas que podemos propor a reflexão discursiva.

Contemporâneo à Pêcheux está Michel Foucault, também na França, e também incomodado por questões semelhantes, mas propondo uma outra via de compreensão, que ele também chama de "discurso" por exemplo em "Archeologie du Savoir". O discurso de Pêcheux não é o discurso de Foucault. E se pensarmos na tradição anglofone a distância aumenta, porque o discurso de Norman Fairclough também não se aproxima das questões francesas. O que temos são vias, diferentes possibilidades de compreensão de um problema posto diferentemente por cada autor. O que significa que não há uma "teoria" mais aceita atualmente, mas sim caminhos teóricos que respondem e co-respondem em parte às necessidades de reflexão que se apresentam.

Os Principais pesquisadores

São incluídos somente os com mais de 30 anos de atividade na área e pelo menos 5 livros publicados. Se fôssemos seguir à risca esse critério quantitativista, nem sequer o nome de Michel Pêcheux poderia estar aqui listado, visto que ele não se dedicou durante 30 anos à AD e nem tampouco publicou mais de cinco livros... (ordem alfabética): Dominique Maingueneau; Eni Orlandi; John Heritage; Michel Foucault; Michel Pêcheux; Milton José Pinto; Mikhail Bakhtin e Norman Fairclough.

Considerações finais

Análise crítica do discurso (ACD) é uma abordagem interdisciplinária ao estudo dos textos, que considera a “linguagem como uma forma de prática social" (Fairclough 1989: 20) e pretendem “desvelar os fundamentos ideológicos do discurso que se têm feito tão naturais ao longo do tempo que começamos a tratá-los como comuns, aceitáveis e traços naturais do discurso” (Teo 2000).

Os livros de Norman Fairclough Language and Power (1989) e Critical Discourse Analysis (1995) articulam um quadro tridimensional para o estudo do discurso, “onde o propósito é mapear três formas separadas de análise em uma só: análise de textos (falados ou escritos), análise da prática discursiva (processos de produção, distribuição e consumo dos textos) e análise dos eventos discursivos como instâncias da prática sociocultural” (1995: 2).

A análise crítica do discurso fundamenta-se no acesso desigual aos recursos linguísticos e sociais, recursos que são controlados pelas instituições. Os padrões de acesso ao discurso e aos eventos comunicativos é um elemento essencial para a ACD. Em termos de método, a ACD pode no geral ser descrita como hiperlingüística ou supralingüística, no sentido de que as/os profissionais da ACD consideram o contexto discursivo de maneira não restrita ou o significado que existe além das estruturas gramaticais. Isto inclui a consideração dos contextos político e mesmo económico do uso da língua.

Para além da teoria linguística, esta abordagem também tem base na teoria social — e a produção intelectual de Karl Marx, Antonio Gramsci, Louis Althusser, Jürgen Habermas, Michel Foucault e Pierre Bourdieu — de modo a examinar a ideologia e as relações de poder envolvidas no discurso. Fairclough põe em destaque que “a língua conecta com o social sendo o domínio primário da ideologia e sendo tanto o interesse principal de como o lugar em que têm lugar as lutas de poder" (1989: 15).

Pesquisadores notáveis incluem Norman Fairclough, Paul Chilton, Teun van Dijk, Christina Schäffner, Ruth Wodak, Peter Teo, Roger Fowler, Gunther Kress, Mary Talbot e Robert Hodge.

Conclui-se, portanto, que a análise de conteúdo é uma metodologia de análise de textos que parte de uma perspectiva quantitativa, analisando numericamente a freqüência de ocorrência de determinados termos, construções e referências em um dado texto. Em Comunicação, é freqüentemente usada como contraponto à análise do discurso, eminentemente qualitativa.

A análise de conteúdo incide, finalmente, sobre várias mensagens, desde obras literárias, até entrevistas. O investigador tenta construir um conhecimento analisando o “discurso”, a disposição e os termos utilizados pelo locutor. O investigador necessita assim de utilizar métodos de análise de conteúdo que implicam a aplicação de processos técnicos relativamente precisos, não se devendo preocupar apenas com aspectos formais, estes servem somente de indicadores de atividade cognitiva do locutor.

A atual importância da análise de conteúdo na investigação social é cada vez maior, sobretudo devido à forma metódica com que tratam informações e testemunhos que apresentam algum grau de profundidade complexidade. Estes métodos têm sofrido uma evolução, favorecida pelos progressos em linguística, ciências da comunicação e da informática, e devido à preocupação de rigor e profundidade.

Importa referir algumas das variantes dos métodos de análise de conteúdo, que se agrupam em duas categorias: os métodos quantitativos, que são extensivos e têm como unidade de informação de base a frequência do aparecimento de certas características de conteúdo; e os métodos qualitativos que têm como unidade de informação de base a presença ou ausência de uma característica. Esta divisão não é assim tão linear e vários métodos recorrem tanto a um como a outro.

Distinguem-se três grandes categorias de métodos que incidem principalmente sobre certos elementos do discurso, sobre a sua forma ou sobre as relações entre os seus elementos constitutivos. São então as análises temáticas que revelam as representações sociais a partir de um exame de certos elementos constitutivos; as análises formais que incidem principalmente sobre as formas e encadeamento de discurso; e as análises estruturais, que põem a tónica sobre a forma como elementos de mensagem estão dispostos e tentam revelar aspectos subjacentes e implícitos de mensagem.

Estes métodos permitem o estudo do não dito ou dito entre linhas. O que é uma das suas vantagens. Quanto a desvantagens estas não podem ser generalizadas, devido às diferentes categorias em que se dividem os métodos. Podemos dizer que alguns métodos se baseiam em pressupostos simplistas, como é o caso da análise categorial. Enquanto, outros são muito pesados e laboriosos, como por exemplo a análise avaliativa.

Referências

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Jeimes Paiva
Enviado por Jeimes Paiva em 19/10/2007
Reeditado em 22/10/2007
Código do texto: T701059
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