Existem perdas...

Terça, 23 de Maio, 4:30h. da manhã. Perdi o sono. Mais uma perda. O que isto quer dizer? Anteontem, o fim de um romance; ontem, a perda de um celular; hoje, a perda do sono.

Enquanto impaciente, de um lado para o outro na cama, tentei lembrar-me de todas as perdas obtidas, todos os eventos perdidos, acontecimentos dolorosos. Alguma ligação existe entre perda e dor. Lembro-me de Arthur Schopenhauer, com sua imensa sabedoria, reportando-se ao vale de lágrimas (a vida) como um pêndulo: ora oscilando na dor, ora oscilando no tédio. Credo! Quanta nóia, você deve estar pensando. Isto me faz rir; solto gargalhadas agora, enquanto escrevo, no meio da madrugada, imaginando a sua cara de azedume ao ler a máxima schopenhaueriana.

É verdade! Comunhão de almas, de pensamentos, não é para todo mundo, em qualquer circunstância. Isto requer mais: talvez empatia, mas bem mais que isto. Certamente coragem, abertura o suficiente para reconhecer que a vida escapa de toda, qualquer teoria racional, filosófica, científica. Ela, a vida, é na verdade, um estar aí: algo imerso a mais profunda caoticidade existente. Inexplicável porque destituída de sentido...

Há o caos, existe a perda, reina o vazio. Enquanto alguns buscam o paliativo existencial, mendigando sentido, nas mais diversas loucuras (pasmem!), estou aqui, escrevendo sobre a perda. Perda que dói, mas que amadurece. Perda que desilude, porém realista. Perda que faz gemer, mas que pode nos fazer gozar ao chegarmos à conclusão de que nada faz sentido.

Existem perdas...

(Escrito em 23 de Maio de 2006, 4:30h. da madruga... É oferecido à princesa Manuela Fontenele, que mais do que ninguém consegue entender o que quis dizer...)