Amor, perdoa-me

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Perdoa-me

Perdoa-me

Por derramar-me dos teus versos

Quando minha poesia eras tu

Ou quando me esculpias apenas fantasia,

E te fazias fantasia em meus sonhos,

Envolta nas transparências dos teus desejos...

Tentei transformar-me

Em todas as realidades que os desejos envolveram,

Apenas para ver

Que cometemos o pecado de tentarmos ser reais

Quando sabíamos

Que a única realidade que existe, é o sonho,

Em cujo universo deveríamos ter mantido o beijo.

Perdoa-me por tentar ser real

Enquanto teus olhos suspiravam pelo sonho

E te aprazias somente o adiar da realidade.

Perdoa-me

Por afagar os teus olhares,

Eu, que conhecia tua escuridão,

Ainda que não soubesses das tuas trevas...

Em ti despi a ternura das minhas digitais

E aos poucos vesti a tua pele,

Abandonando a minha própria,

Na renovação do sonho de ti, que me domina...

Não esperes de mim saídas honrosas

Porque eu não saberia fazer sorrir a dor

Quando a emoção desconhecida do adeus

Acariciar-me o peito e trespassar-me a alma,

Nem me permitiria sobrepor ao medo

Às dúvidas borradas de incertezas

Que me ensinaste com o teu vivenciar

Perdoa-me

Pela simplicidade da ausência de disfarces,

Pela inexistência de máscaras

Por ser sempre presença,

Ainda que apenas em tua saudade...

Decidi seguir estradas sem atalhos para chegar a ti,

Caminhando teus percursos,

E porque fiz de ti minha certeza,

Ignorando quando me falavas de dúvidas,

Já não tenho atalhos para o regresso...

Perdoa-me por fazer deste fracasso minha vitória,

Por me condenar a seguir sem ti,

Preferindo ter nossas pegadas reluzindo

No horizonte das estrelas

A ver a solidão do meu olhar sem lembranças

Perdoa-me pelas minhas mãos

Que seguem tateando nessa escuridão, que outrora foi tua,

Em busca de ti, única luz capaz de me resgatar de mim...

E ainda que adormeças em tuas tormentas,

Ou que penses tê-las deixado todas no passado,

Perdoa-me por permanecer como teu presente,

Pois me dei a ti completamente...

E mesmo agora que te ausentas de mim,

Sigo ecoando pelos corredores dos teus silêncios,

Porque sei que na tua história

Terás que escrever também meu nome

© Fernanda Guimarães e J.B. Xavier