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O ENGENHEIRO
Armstrong

Ela era uma bondosa senhora e já beirava os 80 anos, mas ainda trabalhava coordenando as atividades das creches que tinha ajudado a construir ao longo de sua vida, para guardar os filhos de mães carentes que precisavam trabalhar. Era ajudada por outras senhoras, da mesma faixa etária, na luta diária de conseguir recursos para o funcionamento das creches. Quando era preciso construir uma nova unidade de atendimento o trabalho dobrava: era preciso arranjar recursos pesados, às vezes até do exterior e, o que era mais difícil, a participação de um engenheiro.
Um dia, o grupo recebeu como doação uma velha casa no centro de um populoso e pobre bairro da cidade. A rua não tinha pavimentação, mas era aterrada e daria para construir, de imediato, mais uma creche. Faltava, como sempre, o engenheiro. Desta vez a coordenadora do movimento agiu diferente: procurou o reitor de uma universidade pública e fez o pedido por escrito. Queria a ajuda de um engenheiro que tanto fizesse os projetos quanto ajudasse a construir a creche sem qualquer remuneração.
O pedido passou por dezenas de engenheiros que lá trabalhavam, que por motivos diversos, alegaram não poder ajudá-la, senão quando chegou às mãos de um engenheiro mais sensível, que aceitou a tarefa. Ele era de origem humilde e, talvez por isso, quase nunca dizia não para àqueles que o procuravam. Tinha consciência do quão importante era o seu trabalho para os que viviam em maiores dificuldades. Logo ele lhe telefonou e marcaram o encontro inicial, no local da construção.
Era sábado e, por ser sábado, o engenheiro, que era de pequena estatura, vestiu sua bermuda jeans, camisa branca simples, dessas de propaganda política, e sandália de borracha, e pôs-se a caminho em sua tradicional bicicleta. O local não era muito longe de sua casa.
Ao chegar próximo ao endereço anotado, avistou um grupo de três ou quatro senhoras idosas que, impacientes, olhavam para o distante início da rua. O engenheiro se aproximou do grupo e perguntou pela coordenadora. Uma senhora lhe fitou, e lhe pediu que aguardasse um pouco, e continuaram olhando e aguardando um carro que se aproximava lentamente. Falavam: “Agora é ele, agora é ele!”. Como o carro passou, voltaram-se para o homem da bicicleta e lhe perguntaram: “Sim!... O que você deseja?”, e ele respondeu: “Eu sou o engenheiro!...”.