LIMA BARRETO: CEMITÉRIO DOS VIVOS

­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­_____________________________________________________________

Notas Biográficas

 

O carioca Afonso Henriques de Lima Barreto (1881 – 1922) era negro, nascido ainda no regime de escravidão; tinha problemas de saúde, era alcoólatra e foi internado diversas vezes por doença mental. Contudo, elaborou uma das obras mais vigorosas da primeira metade do século XX. E por isso, tornou-se uma das figuras mais fascinantes e controvertidas da literatura brasileira. Tinha a notável capacidade de retratar, com amarga ironia, a sociedade carioca do seu tempo, calçada na vida real das ruas. Observe-se, por exemplo, em Policarpo, a breve descrição do fardamento de Ricardo Coração dos Outros, ou a hilariante cena do bombeiro, já no final do trecho.

Cronista da vida do subúrbio, do cotidiano de pequenos funcionários públicos, ambientes, cenas quotidianas, tipos de café, de jornal e pobres-diabos; portanto, Lima Barreto era um escritor essencialmente carioca e brasileiro.

Sem forçar, pode-se dizer que Lima Barreto acrescentou à sondagem psicológica de Machado de Assis uma nova e moderna dimensão. A linguagem é espontânea, quase jornalística, descontraída, vinculada a melhor tradição de nossa prosa.

Publicou seu primeiro livro, o romance Recordações do Escrivão Isaias Caminha, em 1909. Só consegui editor em Portugal, e mesmo assim abrindo mão dos direitos autorais. A crítica o recebeu mal, apontando, na obra, excessivo personalismo. O resenhista José Veríssimo, em carta ao autor, induziu o autor a não misturar sua própria vida com a literatura:

Há nele, porém, um defeito grave, julgo-o ao menos, e para o qual chamo a sua atenção, o seu excessivo personalismo. É pessoalismo e, o que é pior, sente-se demais que o é. [...].

Entretanto as frequentes críticas negativa jamais intimidaram o jovem escritor. No texto Amplius (do latim: mais a frente) diz taxativo: "A única crítica que me aborrece é a do silêncio".

No ano de 1919, candidata-se inultimente a uma vaga na Academia Brasileira de Letras. O fracasso leva-o, pela segunda vez ao manicômio; nesta estadia é que nasceu o curioso e inacabado Cemitério dos Vivos. Memórias e reflexões em torno da vida no manicômio. Obrigado a varrer, em público, o pátio do manicômio, confessa:

Veio-me repentinamente, um horror à sociedade e à vida; uma vontade de absoluto aniquilamento, mais daquele que a morte traz; um desejo de perecimento total da minha memória na terra; um desespero por ter sonhado e terem me acenado tanta grandeza, e ver agora, de uma hora para outra, sem ter perdido de fato a minha situação, cair tão, tão baixo, que quase me pus a chorar que nem uma criança.

Ao lado do poeta paraibano Augusto dos Anjos, Lima Barreto foi o grande derrotado da literatura brasileira de seu tempo. Sua vitória tragicamente póstuma, é a dos grandes escritores: venceu o tempo. ®Sérgio.

____________________________________

Bibliografia: BOSI, Alfredo – História Concisa da Literatura Brasileira, 3ªed., São Paulo, Cultrix. / VERÍSSIMO, José – História da Literatura Brasileira, Rio de Janeiro, Record, 1998. / BANDEIRA, Manuel – Seleta de Prosa, Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1997.

Se você encontrar omissões e/ou erros (inclusive de português), relate-me. Enriquecerá mais ainda esse trabalho.

Agradeço a leitura e, antecipadamente, qualquer comentário. Volte Sempre.

Ricardo Sérgio
Enviado por Ricardo Sérgio em 04/05/2012
Reeditado em 10/05/2012
Código do texto: T3650067