Minha homenagem a meu pai

Célia Matos

Prezado amigo Enedir,

Sei que há um grande propósito em todas as coisas, sei também que, hoje, eu não deveria estar sozinha em casa, mas o melhor é, que se tivesse saido com os outros, certamente eu não teria visto essa mensagem e descoberto um outro significado para todos os acontecimentos, os bons, os ótimos e ...os ruins ...e até os muito ruins. Não se sabe de coisa alguma do amanhã, por mais ''vidente'' que se possa querer ser, o que, alguns teem consciencia, ainda, é da existencia desse Deus que traz e leva, que mostra a lágrima para trazer o sorriso, que emudece mas nesse estado transmite um milhão de mensagens tão positivas quanto necessárias...é bom estar só em pleno amanhecer??? ...sei, agora, que pode ser ...só assim trago esse Deus para dentro de mim para fazer a festa que se perde com o tempo, com o novo mundo e com a falta do meu carissimo pai.

Não se faz mais São João como antes, não se vê tanta alegria verdadeira como antes, não vivemos as emoções de antes...não vejo o meu pai como antes, a rasgar a noite com sua alegria de mineirinho alegre e contagiante, sanfoneiro (ou gaiteiro, como queira...acordeonista tbm) violeiro de primeira, que fazia parar os arredores para ouvir com atenção sua arte e seu sorriso de menino pobre de brinquedo novo na mão, que tanto ao anoitecer, quanto ao amanhecer, fazia sua ligeirisse e sua presteza estarem além dos limites do nosso entendimento:''Como pode ter tanta energia e servir a todos tão bem e sempre com um sorriso estampado na cara?''. Homem vaidoso, orgulhoso da bela esposa e da filharada, prole tão diferente quanto os dedos da mão, mas lindos aos seus olhos, que nada no mundo o faria desviar sua rota e deixar um deles entristecido e nada no mundo faria-o passar, ver e não enchugar a lágrima de um de nós, e quando algo bolia com sua emoção, silencioso deixava as suas lágrimas escorrerem, num silencio tão profundamente belo, que fazia-se o paradoxo da ternura infinita. Não digo isso por ele já ter ido, repito o que sempre disse....hoje, nesse silencio quebrado apenas pelos galos e fogos de artificio, aqui nesta cidade, não tenho ao alcance dos olhos, mas meu coração me leva a uma fogueira enorme, rodeada de familiares e amigos, café feito e servido a beira da fogueira com todo tipo de iguaria mineira, tipicas desta época, e o primeiro sorriso que vislumbro é o dele: '' Pega Ny, pega sua xícara, toma seu café, quer uma batata assada, mais biscoito ??''....e assim, passava pelos dez filhos, noras e genros e todos os netos..tomando tambem seu cafezinho ''ralo'' (era seu gosto).

Não estou mais triste, não estou mais só, nem me sinto mais tão ''macambúzia''....através de você, caro Enedir, sairam essas tantas lembranças que me trazem o segundo São João sem nosso querido pai...resta , ainda, encher o coração da minha mãe saudosa demais e lembrar sempre, para conforto do meu coração: Deus nunca erra !!!

Sempre pensei ser você, muito querido, não sei seu sorriso, tampouco seus ais, o que me enche e transborda a alma, é te-lo por perto, como agora, fuçando minhas doces e ternas lembranças e aconchegando-as bem pertinho do meu peito e, nelas sinto seu carinho, que nesta lonjura toda, não se limita a barreiras e nem se cala diante do desconhecido. Em seus mistérios de homem culto e carregado de bons conhecimentos, ultrapassa a razão e vem, e traz-me de volta o meu passado, singular e sem medidas. Obrigada...talvez não entenda, mas esta foi a melhor lição para hoje, amanhã e sempre: ''DEUS NUNCA ERRA'' !!!!!

Beijos sinceros e meus respeitos todos a você !

Carinhosamente, EnyMiranda

S. Fco,24/06/2008

Célia Matos
Enviado por Célia Matos em 24/06/2008
Código do texto: T1049098
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