CARTAS AO LEO

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Campo Grande, fevereiro de 2010.

Esse mundo é mesmo estranho, Leo. Você imagine mulheres esvaziando fossas sépticas e carregando os excrementos humanos numa cesta sobre a cabeça; mesmo nos dias de chuva quando a água dilui as fezes que inevitavelmente escorrem pelos rostos dessas mulheres.

Agora, pense em homens abrindo bueiros donde saem baratas e ratos. Esses homens, só de tangas fio-dental, entrando nesses bueiros (quando o movimento de fuga dos pestilentos diminui), para desobstruir as tubulações. Sem luvas ou máscaras (no máximo pás, baldes e carriolas), para amontoar do lado de fora a massa escura, mistura de fezes e tudo o mais que você possa imaginar.

Pois é; esse é o trabalho de 650 mil indianos, os chamados "scavengers", termo inglês que significa, mais ou menos, animais que se alimentam de carniça.

Scavengers são dalits, a mais baixa casta indiana e, ainda, hereditária, ou seja, nascem para trabalhar nas fossas. Muitos morrem envenenados pelo gás metano (fermentação das fezes) que se acumulam nas galerias ou afogados nos excrementos.

Pior; na sociedade indiana, ninguém se incomoda com isso. Tanto que essas mulheres e esses homens são contratados por empresas a serviço do poder público, em cidades como Mumbai e Nova Délhi.

E ainda tem gente que diz: "Meu emprego é uma merda".

É ou Noé, Leo?

Saúde a todos. Inté mais!

RSérgio.

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