O CASO DO DEFUNTO QUE ESCREVEU





       O defunto escreveu. O homem estava morto e assinou papéis. Um fazendeiro daquela região era senhor de muitas terras, terras que compreendiam das proximidades de Tacaimbó até Fazendo Nova e São Caetano.
       Tendo um amigo que muito freqüentava sua casa, o fazendeiro dizia sempre a esse amigo que deixaria seu patrimônio para uma pessoa de confiança, era uma boa preta que prestava serviços em suas terras desde sua ida (dele) para a Fazenda. A boa preta receberia, por merecimento, aquelas terras. Preparou a documentação e disso deu notícia ao citado amigo. Acontece que faleceu antes de terminar a feitura dos documentos. Um dos seus empregados levou a notícia que o fazendeiro estava morto. Era noite quando o amigo chegou na fazenda. Mandou fechar as porteiras e proibiu a entrada e saída de qualquer pessoa até que chegasse o escrivão.

- Que horas tem aí, Divino?

E o serviçal respondeu:
- Onze horas dessa noite. Vinte e duas horas do acontecido.

O escrivão, conhecedor na história, pediu ajuda, pegou na mão do defunto e assinou a escritura. Proibido foi que falasse de tal assunto.
- Parecia que o defunto era sabedor do que estava acontecendo.

Por esse motivo, os nossos irmãos escravos sempre tiveram gados, terra e farto recurso de subsistência naquela localidade.



* Conto verídico da cidade de Tacaimbó – PE

 
 
       (Retirado da obra "Tacaimbó Nossa Terra, Nossa Gente" da Guarazão Editorial. 2002)

Lidia Albuquerque
Enviado por Lidia Albuquerque em 27/05/2008
Reeditado em 28/11/2008
Código do texto: T1007395
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