UM PRATO CHAMADO SAUDADE

Depois de quase um dia de viagem cheguei à fazenda Contraforte, desarreei meu burro e o soltei na pastaria do brejinho. Apenas troquei algumas palavras com o Joaquim da Sinhana, e logo rompi de pé para Bom Jesus do Formoso. Acomodadas à sela, minhas pernas haviam ficado duras, aqueles quatro quilômetros estavam me parecendo uma grande viagem.

Agora já sentado à mesa da cantina da Genésia. Genésia do Diolino, como era alí conhecida, mas seu verdadeiro nome era Nestaura Gusmão Pessoa, mulher de fino trato, nascida no seio da nobreza carioca. E não é que um dia a dita cuja conhece numa estação do suburbio, o peão estradeiro que levava sua tralha de montaria numa grande mala feita em forma de saco. Com o couro curtido de um boi.

Contou-me Diolino quando ainda era vivo, que as primeiras palavras que trocara com Genésia foram as seguintes: A madama pode me ensiná aonde que eu pego o trem que vai para Taguaba. Ao que a fina mulher respondeu, olha meu senhor, eu mesma não sei onde fica este lugar, mas o pessoal da estação com certeza lhe dará as necessárias explicações. Já ia virando as costas para fazer o que a mulher lhe aconselhará quando ao cruzar com a ela dois peões trataram-na como uma prostituta, Diolino não teve dúvida, tomou as dores de sua benfeitora e depois de dar chutes e socos, um dos peões ainda estava de pé, mas nem conseguia falar, enquanto que o outro permanecia desacordado. Aí não deu outra, foram todos os três em cana. A partir daí Genésia cuidou de tudo, arranjou advogados, pagou contas, e desse modo nasceu o amor entre os dois.

Alí sentado na cantina lembrei-me não só do Diolino, mas também de outros quatro companheiros que sempre costumava comer alí comigo: O Nário Valete, o Tião da Nalva, o Bento Caboclo e o Zico Fazenda que era irmão do famoso Simão Fazenda, o peão que tinha tirado a bufa da besta Ladainha, a mula puladeira que era o orgulho do Capitão Furtunato. Dos quatro o único ainda vivo era o Tião da Nalva, Bento Caboclo, abandonado pela familia morrerá de pneumonia numa fazenda lá dos chapadões da babilônia, Nário Valete abandonara o bom caminho e depois de levar consigo um sarjento, um cabo e dois soldados, morrera crivado de balas num confronto com a polícia lá nas terras de Goias. Zico Fazenda fizera fortuna lá para as bandas de Cuiabá. Dizem que morrera afogado nas águas do Rio Paraguaio, lá no município da Barra do Bugres. Simão Fazenda seu irmão, foi assassinado por um fedelho de apenas quinze anos de idade, filho da mulher com quem pretendia se casar. Tião da Nalva que acabara de chegar,e que aos moldes de Zico Fazenda, tambem conseguira amealhar um bom patrimonio. Afável como era, ao chegar, cumprimentou calorosamente a mim e a Genésia. Logo se assentou comigo à mesa naquele almoço de tantas saudades.

Elopere
Enviado por Elopere em 22/11/2008
Reeditado em 25/11/2008
Código do texto: T1297043
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