ACRINO PEÃO

Havia dois meses que o Acrinão lá do morro Chora Menino estava arranchado na fazenda do Pedro Mourão, ocupado com a doma de uma burrada, tudo saido da barriga das éguas do capitão Pedro Mourão que era um homem firme nos tratos mas de muito bom coração. Uma das poucas almas caridosas naquele pedaço de chão sem lei.

Na ponta do valo grande tinha a porteira pesada, não é que o Acrinão num dia de lida, lá na dita Porteira Pesada, meteu o laço numa mula tordilha, chinchou a bicha no coiceiro da porteira, já ia ganhado o lombo da xucra quando uma violenta patada o deixou prostrado alí naquele ermo pedaço de chão. Passa segundo, passa minuto, passa hora inteira e o Acrinão permanece alí entregue às reações do seu próprio corpo. Coisas do destino, ou não, num é que o Vitão Cipó, lá da Fazenda Gameleira passa alí, vê o Acrinão estendido, e bem junto dele a tordilha já cansada de corcovear na ponta do laço. Vitão fez o que precisava de ser feito: foi na sua casa, que não era longe dalí, botou os bois no carro, e tocou de volta lá para a porteira pesada para dar socorro ao homem. Assim pensou e isto fez. Chegando no dito lugar já achou o Acrinão dando parecença de querer movimentar o corpo. Vito Cipó ajudou o homem a subir no carro. Prá ser mais exato, o Acrinão foi sungado prá cheda do carro. Cipó amarrou a mula na argola do cadião e desceu lá para a fazenda do Capitão Pedro Mourão. Tocando o carro Vito ia matutando consigo: esse peão vai ficar beirando terreiro e bebendo caldo grosso por muito tempo mas não é que o Acrinão já tava, no outro dia, outra vez encarapitado no lombo da mula.