LEVADO PELA SAUDADE

Não foi um dia qualquer de um mês qualquer que o Expeditão da Marculina arreou sua tordilha, disposto a ir até o arraial do Bango. Deveria haver uma razão muito forte que fazia o afamado peão deslocar-se até o Bango com a inventada desculpa de apenas encher a cara de cachaça. Dizem os que sabem mais, que aquele amontoado de casas sugiu nos meados do século XVIII, e é aí mesmo que a razão daquela pequena viagem reside. Contam que alguns parentes do Expeditão, nessa época ainda, foram humilhados e assassinados. Expeditão já correu léguas e léguas atraz de pessoas e de informações dos descendentes daquele pessoal que judiou tanto do seus parentes. E agora, ele ficou sabendo que tinha chegado no Bango um tal de Simão Vargedo, que depois de uns dois ou três tragos havia soltado a língua dizendo que veio para terminar o serviço que seus parentes haviam cameçado.

Só de se lembrar do antigo desaforo, Expeditão ferrou a mula disposto a chegar mais cedo. Mal havia chegado no Bango, desceu no local indicado, um bordeuzinho fuleiro, antro de gente aventureira. Apezar de deixar seu treisoitão na capa o deixou preparado para puxá-lo rapidamente.

Chegou e foi logo gritando: tem aí algum forasteiro chamado Simão Vargedo.

-De algum lugar lá de dentro do salão uma voz respondeu: tem sim Seu Expedito Serapião da Cunha. Ao ouvir seu nome ser pronunciado correta e completamente, Expeditão chegou até onde o desconhecido estava, ao bater os olhos no recem chegado constatou rapidamente que aquele homem era o seu irmão Simão Batista da Cunha, que já há uns trinta anos não apontava as fuças por estes lugares. A língua do povão, descompromissada com a fidelidade dos fatos, dizia que ele já havia participado de várias revoluções e golpes em terras Platinas e Andinas.

Simão que estava num báio queimado, foi quase que obrigado por Expedito, a montá-lo e ir pedir perdão a Marculina, a sofrida mãe de ambos.