UM CAIPIRA CONTADOR DE CAUSO

Filiais um lavrador que viveu e sonhou com a riqueza, mas seu patrimônio se limitou apenas em uma penca de filhos; morreu tão pobre quanto nasceu.

Embora muito trabalhador bom em qualquer atividade rural, viveu com grande dificuldade. Gostava de contar as aventuras de personagens fantasiosos que habitaram sua imaginação.

Caboclos bem sucedidos, através de casamentos milionários, premiados pelo acaso, encontrando diamantes valiosos, guaiacas recheadas de dinheiro, perdidas por milionário, jogadores que faziam pactos com o diabo, e.t.c.

Trabalhamos Juntos em diversas atividades. Muito me diverti em sua companhia, com seu linguajar caboclo e especifico. Iniciava seus causos usando a palavra (vachi), palavra esta jamais encontrada em dicionário algum. Numa ocasião trabalhando juntos tombando a terra com o arado de bois, ouvindo o cantarolar tagarela da rodinha do arado no seu eixo de ferro, entre o viradouro e outro, ele contava suas mirabolantes estórias.

Pela manhã certo dia, ele me desafiou com uma pergunta dizendo-me: - Vachi qui vô te fazê um-á pregunta e tidô até logo mode me respondê! –Manda logo Filiais! -O quié o quié truf, truf, viandante, trazero pra riba iscavacante, e no arto da preméia redondo e redondéia? Pode pensá logo cê me arresponde!

Continuamos nosso trabalho ele contou um punhado de causos, dentre eles, de um seu vizinho, quando morou no estado de Goiás.

Caboclo muito pobre começou trabalhar numa grande fazenda. À tardinha muito cansado deitado sobre o milho no paiol após escapulir um saudoso suspiro exclamou: - Ôh casa de meus pais candeeiro de sete velas porta de parafuso prato em que almoça não se janta mais! Ouvido aquele desabafo a filha do patrão uma beata encalhada, correu até o pai, contando-lhe o que ouvira. O pai um avarento que desejava um casamento vantajoso para a filha, foi em busca de informações com o empregado.

- Quer dizer então que teus pais moram numa casa com portas de parafuso?-Sim senhor! -E os candeeiros? São de sete velas? –E os pratos? – Os que se usa no almoço na janta não sevem mais, sim sinhô!

A partir daquela noite o cabra já não dormiu mais no paiol, o velho o levou pra dentro da casa. Um mês depois estava casado já administrando a fazenda. A esposa louca pra conhecer sua família e ele enrolando. Enfim ela o convenceu a viajarem a casa de seus pais; lá chegando ela muito assustada com a choça que encontrou, perguntou-lhe: onde está sua porta de parafuso?-Porta de parafusos, são paus enfiados na entrada dela! Candeeiros de sete velas, cambaubas secas acesas durante a noite, pratos em que se almoçam são cascas de madeiras que só servem uma única vez!Eis o resumo!

Assim mais um dia chegava ao fim em nossa jornada, e como o sol já preparava seu ocaso eu o convidei a soltar os bois, quando ele disse: farta um-á coisa! - Que coisa! -Cê arrespondê minha pregunta! –Há eu vou me preocupar lá com pergunta Filiais? –Cê num sabe é de nada vô contá procê: truf, truf viandante é um cavalero passando na istrada. Trazero pra riba iscavacante é um tatu na berada da istrada cavacando. No arto da preméia redondo redondéia é um bizôrro vuano in vorta da copa dum coqueiro!

Cê qué sê, sabido mais num sôbe mim arrespondê coisa ninhuma!

Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 19/07/2010
Reeditado em 19/07/2010
Código do texto: T2386300
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