SEQUESTRO NUMA CABANA

Por favor, seu nome!- Inquiriu o escrivão na presença do delegado.

- Não tenho nome!

– Como não tens nome?

– Ah... Arrume ai Zé Qualquer!

–Nome de seu pai então!

– Não tive pai não tive mãe, sou mesmo um Zé Qualquer!

- Onde já se viu não ter pai não ter mãe, todos nós nascemos de um homem e de uma mulher, ninguém vem ao mundo senão por essa via!

– Eu devo ser essa exceção, quando comecei a ter noção da vida estava sendo criado por um tamanduá enorme e uma macaca!

- Você é louco cara? Fluindo esta linguagem civilizada quer que acreditem ter sido criado por animais irracionais.

- Ai é que você se engana, animais irracionais são estes que vivem estuprando crianças, praticando assaltos, destruindo as florestas e poluindo a atmosfera!

– Deixe de embromação e conte logo sua história ou...

– Ou vai o que? Porque estou preso se não fiz mal algum?

– E o coma do menino-, ele está lá na UTI Em coma profundo sem medicamento. Os médicos não receitaram nada por não saber as causas que o levaram ao coma! Nem o tipo de droga que você o fez ingerir, após seqüestrá-lo!

– Ainda bem, iriam piorar seu estado de saúde, nas próximas horas ele estará acordando livre de todo o mal que lhe afeta; ai vocês poderão ouvir a história dele, não a minha, e eu espero que me libertem.

Intrigados com aquela narrativa os policiais tentavam decifrar como um cabra peludo que mais parecia um bicho do mato, com aquelas vestimentas de peles, se sobressaindo tão bem naquela oitiva sem pé nem cabeça. Sabiam apenas que o menino desaparecido a mais de quinze dias, fora encontrado desmaiado sobre uma esteira, numa cabana, camuflada por arbustos, cercada por animais peçonhentos; sendo cuidado por ele, no coração daquela imensa mata de difícil acesso.

Enquanto isso no hospital os médicos tentavam diagnosticar aquela enigmática situação, uma vez que o quadro do garoto aparentava apenas um profundo sono sem nenhuma complicação.

Filho de um grande latifundiário dono de uma imensidão de florestas, o garoto era um superdotado, que conhecia a fundo a floresta com seus segredos. De repente desaparece sem mais sem menos, trazendo preocupação para dezenas de autoridades que se mobilizaram nas buscas em meio aquela imensidão verde.

O encontraram sendo cuidado Por aquele estranho ser, que foi preso sem esboçar resistência e conduzido de avião pra a grande metrópole, para onde o menino também fora levado.

-Renatinho o garoto, acordou feliz irradiando alegria e perguntando onde estava. Contaram-lhe a história do seu desaparecimento nos mínimos detalhes -, e como o resgataram.

- Não acredito que vocês cometeram a injustiça de prender aquele pobre gentio. Ele é meu amigo, mais que isso é meu aluno, e meu professor, ando naquela floresta de ponta a ponta protegido por sua guarda. Já fui salvo da morte inúmeras vezes por ele... Quando o encontrei ele não sabia falar, não conversava, apenas gesticulava, não sabia nada do mundo civilizado, rapidamente foi aprendendo tudo que o ensinava. Em pouco mais de dois anos fiz dele o que é hoje, um sábio. Sabe ler e escrever como qualquer civilizado. Em contra partida aprendi com ele a linguagem dos animais e todos os segredos da floresta.

Eu sô não esperava que encontrasse um dia, uma tarântula indomável que não me obedeceu e terminou me atacando. Quando senti que seu mortal veneno levar-me-ia a morte, imiti sinais telepáticos a ele que me recolheu imediatamente, cuidando de mim. Antes ele me afirmou que o antídoto que me deu pra tomar colocari-me fora de circulação por duas semanas, e que talvez acarretasse outros problemas sociais, mas me garantiu cura total. Aprendi com ele que o veneno da tarântula provoca uma reação de euforia em sua vitima que começa a cantar e dançar. Quando percebi tais reações em mim, ele já havia me recolhido.

- Exijo que me leve imediatamente onde ele se encontre e providenciem nosso retorno para a floresta. Somos mais selvagens do que propriamente civilizados. Aqui não se pode nem respirar, somos frutos da natureza e necessitamos de ar puro bem oxigenado, filtrado pela floresta para possamos viver em paz.

Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 07/02/2011
Reeditado em 23/02/2011
Código do texto: T2777009
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