UM CAIPIRA EM APUROS ENTRE DUAS ONÇAS

Divino Néca um preto de alma branca, foi uma figura que marcou sua passagem na história do meio em que viveu; ou seja, o meio rural.

Amigo de todos com um grande senso de humor, Era muito criativo e nos divertiu muito quando juntos trabalhamos cultivando, plantando, carpindo e colhendo lavouras. Ouvir suas mentiras contadas com alegria e criatividade era uma excelente forma de entreter um pouco amenizando a árdua tarefa que nos fazia banhar de suor ora no sol escaldante, ora molhando, debaixo de muita chuva.

Filho de lavrador contava as aventuras dos pais na luta para criar seus filhos, sendo ele, e mais um casal de irmãos. Seu pai cujo nome não me recordo, o conheci pelo codinome Néca. Era tão honesto que certo dia indo de seu casebre para o trabalho, numa estrada muito barrenta cortada por carros de boi, deparou-se com um fordinho vinte nove atolado, prontamente ajudou o motorista a transpor o atoleiro raspando a lama de enxada e calçando com cupinzeiros. Agradecido o homem lhe gratificou com um valor correspondente a mais de uma semana de seu trabalho lavrando a terra. Chegando a fazenda da qual nem era agregado, disse ao fazendeiro:- ieu invinha mode trabaiá tava um home cum atomove tolado na istrada dei prele ua dimão mode distolá o bicho, ere ficô cum ha sastistifação das mais mió da conta, intonse infiô a mão na gibera do portó tirô um montão de cobre, ieu nem num quiria aceitá, ma ere infiô ês na minha capanga disse mode ieu discansá do trabaío omeno arguns dia-, ta aqui é seu qui pru mode qui ieu invinha era pu seu sirviço intonse num pode cê meu não. - O fazendeiro que inclusive, eu o conheci, com sua fama de ser um homem justo, embolsou o dinheiro na maior cara de pau, e ainda elogiou a atitude do pobre caipira, incentivando por sua honestidade. Gamidio companheiro de trabalho do Néca quase lhe bateu por sua ingenuidade. ”Este é um fato verídico ocorrido lá pela metade do século passado”...!

Mas vamos ao que interessa a estória que nos contou seu filho Divino... Neca o pai morava num casebre trabalhava como lavrador para criar os filhos. Teria que atravessar uma densa capoeira indo para seu trabalho. Tinha onça pra caramba, amarela, parda, pintada, preta, e outras cores também. Certa vez atravessando a capoeira Néca ouviu uma bulha numa arvore e foi verificar era um pobre macaco pendurado em cipó enorme a três metros de altura, ao correr de uma onça, o primata subiu na arvore a onça subiu atrás, ao tentar atravessar pelo cipó ligado a outra arvore. Deu de cara com outra onça, no entremeio das duas estava o animal equilibrando igual um malabarista de circo, uma onça pintada em cima de uma arvore e outra preta do outro lado na outra. O macaco tava com tanto medo que urinava sem Pará não podia ir pra um lado nem pro outro. As duas feras famintas de olhos grudadas no animal nem percebeu sua presença.

Néca ficou tão penalizado que não pregou o olho a noite toda pensando no pobre animal. Na manhã seguinte apanhou sua foice saio antes do nascer do sol, ia terminar sua empreitada roçando pasto, ao passar pelo local já imaginava no triste desfecho do macaco, e qual não foi sua surpresa. Estavam lá os três na mesma posição, As duas onças dormindo e até roncando, o e macaco sem coragem de pular.

Neca foi pé por pé e cortou o cipó bem ao pé da arvore quando o puxou, uma onça acordou e desceu em sua direção, ele debandou correndo capoeira afora e fera no seu encalço, ele deixou a foice cair, com muito custo conseguiu pegar uma trilha no meio da capoeira e a fera rugindo atrás. Quando estava pega não pega, por sorte ela tentando cortar uma curva da trilha tropeçou embaraçada num galho de árvore, deu tempo dele pegar um pedaço de pau de um metro mais ou menos, encorajado tomou uma dianteira de os cinco metros olhou pra traz imaginado ter se livrado do animal viu que a outra vinha chegando. Já não tinha mais fôlego arquejando de cansaço resolveu entregar alma Deus encostou-se a uma árvore a beira da trilha, a onça corria tanto que passou direta por ele, indo frear dez metros pra frente, deu tempo dele virar pra traz e correr no sentido oposto, correu mais ou menos quinze metros sentiu o bafo da bicha no seu cangote e viu a outra vindo do outro lado da trilha redou de lado encostou-se a outra arvore e tentou se defender com o pedaço de pau, ela com um tapa partiu o pau ficando apenas vinte centímetros na sua mão. Ele novamente entregou sua alma a Deus dando por vencido ,quando a fera abriu a boca para atacar, ele colocou o que restou de pau de pé entre o maxilar e o céu da boca dela travando seus dentes meteu o outro braço na sua bocarra atravessou no meio das tripas, saindo à mão pelo buraco de descarga pegou sua cauda deu um tranco e puxou, virou-a pelo avesso a outra que chegava, toda faminta começou a devorar, primeiro o coração depois outras partes, vísceras e o intestino, de repente... Plaf! Tomou um bruto dum golpe de foice no pescoço e tombou mortinha da silva em cima dos restos mortais de sua comparsa. Isso tudo aconteceu em menos trinta segundos. - A essa altura alguém perguntou.

- E quem desferiu o golpe de foice Divino? – Intão oceis numa adivinha? Foi o macaco pra sarvá meu pai; os dois abraçô sartô de tanto que ficaro cum sastifação... Dispois chega La in casa o pai cus dois coros de onça e Ca quele macaco. Morô cu nois muntos ano, o gerardinho era minino deve de lembrá dele! Quando ocê ia lá incasa pra nois i cocê trocá mio atroco de fubá lá nu munho do Zé Maria Marques!- Eu Divino? ... Não me ponha no meio de suas mentiras não... Eu não sei de nada de disso, lembro-me da troca de milho, mas macaco, Eu hem...?

DEDICO AO MEU AMIGO CACÁ

Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 16/05/2011
Reeditado em 16/05/2011
Código do texto: T2972904
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.