O Caso do Bom Acordo
I
Dr. Geraldo, o advogado de Dona Maria, dera entrada ao processo contra a lanchonete onde a reclamante exercia com orgulho e há mais de cinco anos a profissão de pasteleira.
No dia da audiência, porém, o procurador tivera que se ausentar de Belo Horizonte. Solicitara então que um seu amigo e colega de Trabalho, o Dr. Fernando José, fizesse por ele a audiência trabalhista de Dona Maria e buscasse fechar um acordo.
Geraldo avisara o colega que poderia conciliar a partir de R$25.000,00. Mas não é que o Dr. Fernando conseguira algo mais: fechara um acordo de R$32.000,00 e se encontrava bastante satisfeito. Pelo menos até o momento em que o juiz convocara a todos para que assinassem a ata de audiência.
II
Pois bem. Depois de efetivado o acordo e composta a ata pelo digitador, partes e advogados foram chamados a lê-la e assiná-la. Foi então que surgiu um impasse: a reclamante, Dona Maria, se recusara terminantemente a assinar o papel que lhe fora estendido pelo juiz.
- Não assino não, respondera a pasteleira com muita decisão.
- Mas... – principiara o advogado.
- Não assino não, repetira a mulher com veemência.
III
Vendo que a coisa não ia nem pra frente e nem pra trás, o meritíssimo se dirigiu pessoalmente e com muita cautela à reclamante e lhe perguntou:
- Mas não está bom o acordo, Dona Geralda?
- Sim, está, respondeu ela com voz tímida.
- E não era isso mesmo que a senhora queria?
- Era sim, confirmara a mulher em sua simplicidade.
- Então é só a senhora assinar a ata e estará tudo certo. Já definimos as datas das parcelas, a multa estipulada no caso de atraso ou ausência de pagamento, a entrega do Termo de Recisão do Contrato de Trabalho e do seguro desemprego, bem como a correta anotação na carteira de trabalho. Não falta mais nada.
- Sim – emendou a pasteleira com voz tremida.
- Então porque a senhora não quer assinar a ata?
- Não é que eu não queira... é por que... é por que eu não sei escrever, doutor – respondera finalmente a mulher num misto de vergonha e tristeza.
IV
Quem me narrou este caso foi o advogado Dr. Fernando José de Oliveira. Afirmou ele ter o mesmo acontecido numa audiência realizada no antigo prédio da Rua Curitiba e sob os auspícios do então juiz do Trabalho, Dr. Carlos Alberto Reis de Paula, atual Ministro do Tribunal Superior do Trabalho. O advogado que lhe passara o caso e a audiência fora o Dr. Geraldo Inocêncio.