O Caso do TRCT

I

O reclamante, um cearense arretado que viera tentar a sorte em Minas Gerais, procura um advogado. Durante a primeira entrevista informa não ter recebido nada quando de sua despedida imotivada: não vira nem lembrança dos dias trabalhados, do décimo terceiro e das férias, as vencidas e as por vencer.

O advogado então dá entrada ao processo.

II

Já na audiência inicial a reclamada apresenta um TRCT grande como o gigantesco cachalote Moby Dick. Naquele termo de recisão do contrato de trabalho constavam a assinatura do reclamante e todos os valores recebidos pelo trabalhador.

III

Depois da audiência - e a caminho do escritório - o advogado se sentia muito curioso e um tanto chateado. Seu cliente mentira descaradamente ao afirmar que não recebera nada quando de sua demissão. Então ele se dirige ao homem:

- Você me disse que não havia recebido nada, José. E agora: como é que é isso?

- Mas eu não recebi nada não, doutor. Deixei a empresa com uma mão na frente e a outra atrás, num perrengue danado.

- Mas... E aquele TRCT... E aquele recibo de pagamento que você assinou para o seu patrão e o preposto apresentou na audiência?

- Eu realmente não assinei nada pro meu patrão não. Aquilo ali foi feito e assinado foi diante da filha dele. É que ela é tão bonita e redondinha, doutor, que diante dela eu não consegui ler nem pensar em nada do que dizia aquele papel. Ela me chamou num canto e me disse assim:

- “ô José, assina isso aqui pra mim”.

E foi o que eu fiz, continuou o homem. Ela é tão bela que os meus olhos ficaram passeando felizes naquilo tudo enquanto uma das minhas mãos segurava o papel enquanto a outra rabiscava o meu nome com uma caneta. Foi assim que eu acabei assinando aquilo. A verdade, doutor, é que a filha do meu ex-patrão é saborosa que nem pão de queijo de Minas. E pão de queijo mineiro o senhor sabe como é que é: a gente come primeiro com os olhos até se lambuzar todinho...