A BOATE QUE BRILHAVA
 
 
Nos anos oitenta, em uma certa cidade que fica bem próximo à linha do Equador, precisamente nos cruzamentos das Avenidas V8 e João Alfredo, atualmente Avenida Darcy Vargas e Djalma Batista. Havia uma boate que ficou muito famosa em pouco tempo, estabelecida em um lote de terra ao qual denominavam de Seringal Mirim, em virtude de uma remota plantação de seringueiras. Atualmente funciona no local um Shopping Center, que durante anos foi o único da cidade. A boate foi “batizada” com o nome de BRILHO, o por quê do nome? Logo você saberá.
Poucos sabiam quem de fato eram os proprietários, apenas aparecia um radialista e um comerciante do ramo de compra e venda de veículos usados.
A boate, na época a única casa de shows da cidade, realizava todos os eventos de muita aglomeração. Apresentava os cantores, cantoras, grupos e o que mais estivesse fazendo sucesso no Brasil.
Nos dias de show era uma loucura o trânsito, considerando que a grande parte de veículos que se dirigiam para a zona norte da cidade por ali deveriam passar, o que chamava mais atenção ainda. Segundo os fofoqueiros de plantão, o terreno era apenas uma cessão de uso para aqueles que construíram a boate, uma espécie de parceria empresarial.
Os jovens da época ainda recordam do dia da apresentação do Grupo Dominó, de Afonso & Cia, foi uma loucura. Crianças, jovens e, alguns adultos entre eles perdidos. Alguns cuidando dos próprios filhos, outros queriam também desfrutar do show.
Durante algum tempo a boate foi o maior sucesso de apresentação de artistas nacionais, mas como dizem que “alegria de pobre dura pouco”, o sucesso da boate também não foi diferente, logo o destino pregaria uma terrível peça ao povo que ali desfrutara das noites de alegria e glamour.
Certo dia, a Polícia Federal, adentrou nas instalações da boate, e lá encontrou o maior laboratório de refino de cocaína, isso mesmo, produção da mais maldita entre as drogas. No jargão policial “a casa caiu” e com ela levou seus proprietários, complicando ainda, a vida daqueles que por algum motivo mantivessem algum relacionamento. Mas entre “os mortos e feridos” com a apreensão da droga encontrada no local e os apetrechos para a produção e refino da cocaína, um dos sócios conseguiu escapar, até o presente momento não se sabe qual o argumento que usou em sua defesa. Não se sabe se havia alguém que era um grande consumidor da produção “cocaineira” que o livrou da confusão, ou porque um dos presos assumiu a culpa sozinho para livrar o amigo. De sorte que, a boate deixou de brilhar, perdeu seus clientes, passou a ser motivo de conversa em toda roda de fofocas, e por fim, encerrou suas atividades, a musical e a de produção e refino de cocaína.
Passou para a história da cidade, como o local que fazia as pessoas viajarem em seus sonhos, que poderiam ser pelo amor e melodia das letras das músicas, como também, a alucinação pelo uso da cocaína. Porque dificilmente alguém vai acreditar que no lugar onde se fabricava a droga não se consumia.
Os traficantes envolvidos na confusão, assim como seus familiares, querem é esquecer o dia do evento, mas não conseguem apagar da memória popular o que aconteceu. Seria como querer passar uma borracha na morte da Daniela Perez e o patricídio cometido por Suzana Richthofen, não tem jeito. Por décadas serão lembrados.
Nem tudo que reluz é ouro; nem toda prata é do México; nem toda cocaína é produzida na Bolívia, Colômbia ou Peru, boa parte vinha da Brilho, a Boate que Brilhava.