O CAIPIRA E O SAPATO DA SOGRA

Hoje como sempre faço há vários anos pela manhã às seis horas em ponto abri a loja. Tetéu um caipira pra lá de letrado, esperava à porta. Entrou irradiante me apresentando-me um de seus filhos, um garotão musculoso com pinta de atleta. Compraram alguns objetos de higiene pessoal, pão, e leite, e o garoto seguiu pra casa, Tetéu ficou jogando conversa fora, ele disse:

- Hoje ieu to filiz dimais meu fio veio mim visitá. Ele e a mãe dele, ua das trêis muié cum quem fui casado. Ieu até qui num mereço ela mim visitá não! Fui muito vagabundo aprontei ua covardia cua mãe dele. Ela é gente danada de boa, nem era pra oiá pu meu lado. Tenho quatro fios com trêis muié. Fui muito vagabundo questudo. A gente tem qui falá à verdade, e ricunhecê os erros, ieu num miricia niuma deza!

-- Um a veiz ieu comprei um fusquinha. Fui cunvidado pum casamento num puvuado perto de Lagoa da Prata. Falei pra muié fala cassua mãe se quizè í coagente no casóro ieu Levo ela!

--Cessabe qui a mãe num cunfia nocê agora, cê ta orfereceno mode levá ela-, vô falá cuela mais num sei se vai quere i cunois não!

-- Pois acabô a veia achô foi danado de bão, nois saiu ieu mais ela a muié e meu fio. Parei num posto mode abastecê, enquanto és foi no banheiro meu celular tocô, ieu atindi era ua danada qui viivia garrada no meu pé. E ieu tinha saído cuela no dia atrais.

Falano mode ieu oiá dento do meu fusca quela tinha isquicido um pé de sapato dento Del. Mandô ieu guardá ele. Nessa hora as muié vinham vortano, e intão ela falô:

Ocê num joga fora não senão ocê tem qui mim pagá!

--- Ieu fiquei apertado zoiêi no fusca tava lá mais numa era só um não, tava era dois pé de sapato, de sorte cas muié vortaro pá mode bebê água no bar ieu apruveitei paguei os danado dos sapatos e joguei no mei dum cantero de fulor no posto.

Quando a veia intrô no carro nois siguiu ela danô percurá daqui e dali, ieu priguntei prela cassinhora ta percurano dona Isaura?

-- Meus sapatos-, larguei eze aqui e carcei minha havaina mode discançá os pé agora nuacho ês de jeito nium, mais eze deve tê infiado de baixo da sua cadera nahora qui nois chegá ieu pego ês!

- Ieu pensei-, vixe Maria ieu agora tô frito cumè qui ieu vô fazê quessa veia? Imagina qui camisa de sete varas qui ieu fui-me metê!

Cheguemo lá na porta da igreja na hora do casoro; a véia rivirô o fusca de cabeça pra baixo mode incontrá o par de sapatos, achô foi o pé de sapato, qui a danada da piriguete largo no meu fusca. Ieu fazeno de bobo e veia chingano. Ieu falei:

--Oia arguem robô seu sapato dona Isaura, na hora qui nois tava parado lá no posto uns muleques tava mexeno no meu fusca, ieu danei queze, sairo correno!

-Intão me ixprica qui sapato é esse qui tava dibaxo da sua cadera?

-- sei lá dona Isaura argum qui robô o seu sapato colocô esse aí! Fais o sequinte sinhora carça esse ieu vô ali na farmaça compro um cutivo boto no pè da sinhora e a sinhora entra na igreja mancano carçada cum chinelo mode o zoto pensá Ca sinhora tá de pé macucado! A veia quais me bateu sô!

Tive de dá dinheiro pra minha muié mode í na loja e compra um par de sapatos novo pra veia. E dispois pra ieu convecê minha muié qui num tinha nada a vê caquele sapato qui tava dento do carro, a gente dispois qui vai ficano veio sente vergonha das coisas qui já aprontô!

Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 29/04/2013
Reeditado em 29/04/2013
Código do texto: T4264878
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