BÊBADO TEM CADA UMA

Filiais foi um matuto analfabeto das letras, mas letrado na astucia de viver, seu patrimônio esteve sempre muito aquém de suas necessidades, sua situação econômica esteve sempre bem abaixo da linha de pobreza, nem por isso ele deixou de ser feliz, viveu sonhando, com a esperança de um dia encontrar sua riqueza.

Criou uma numerosa família, seu grande tesouro.

Alcoólatra inveterado era na embriaguez que se tornava um homem remediado às vezes até rico, como afirmava em suas bebedeiras. Avaliava seus filhos como se fossem animais ou algum bem material a venda. O mais velho por ser muito doentinho e feio valia metade do segundo que era mais gordinho e mais bonito, e assim ele ia taxando o valor de cada um de acordo com a idade seu porte e a aparência física. Sua mulher uma pobre coitada trabalhadora, comeu o pão que o diabo amassou, foi uma verdadeira heroína. Criou os filhos com dignidade conseguiu fazer deles, verdadeiros cidadãos trabalhadores como o pai, mas isentos do vicio da bebida.

Numa tarde após cumprir meu trabalho tombando a terra de arado de boi dirigi-me ao povoado levando uma peça do arado ao ferreiro para ser restaurada. Concluído o serviço passei por um barzinho para tomar água, La estava ele até soluçando de bêbado.

E então Filiais vamos embora pra casa homem, sua mulher deve estar preocupada, assim você não consegue trabalhar amanhã!

--Quem falô qui ieu priciso de trabaiá ieu tô podre de rico sô!

_Ah é como que você ficou rico assim de um dia para outro?

--Pregunta seu pai foi ele qui mim ajudô fazê a conta!

--Conta do que Filiais?

--- Dos minino, cumpade Zé fêis as conta pra mim ieu tô danado de rico, o Zezé vale mil o Ronaldo vale dois mil os zoto mais novo cada um vale quinhentos, ieu tenho uma penca!

--Deixe de besteiras Filiais vamos pra casa homem, amanhã você tem que trabalhar seus filhos e sua esposa precisa de você no trabalho.

--Ieu vô cocê se ocê pagá ua pinga pra mim!

--Vamos embora homem, eu vim do trabalho não tenho dinheiro para pagar bebida não!

--Ieu te impresto aqui oh, paga pra mim!

--Peguei o trocado em sua mão paguei a ele tal dose de pinga!

-- Dispois ocê me paga tá!

-- Percebi que estava com certo valor em dinheiro perguntei-, onde conseguiu esse dinheiro? Ai o comerciante entrou na prosa afirmando.

--Ele vendeu uma um cobertor de algodão novinho tecido por sua esposa, uma obra de arte, pela metade do valor, a pobre mulher rala pra conseguir tecer uma coisa tão bela e ele sem consciência vende pra beber cachaça!

-- Quem comprou deve ser bem mais sem consciência você não acha?

-- o levei até sua casa, ao me despedir ele ainda repetiu

-- óia ocê me deve os deis qui ieu te imprestei pra mode cê pagá a pinga pra mim!

Alguns dias depois, eu soube que o dono do barzinho foi o comprador do cobertor tecido pela mulher!

Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 01/07/2013
Reeditado em 01/07/2013
Código do texto: T4366784
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