JOÃO COITADO E A BARATA MAL MORRIDA

No domingo subsequente ao evento realizando o sonho de meu compadre João, na construção de sua casa própria; amanheceu um dia lindo. O sol que esteve ausente escondido mais de uma semana encoberta pelo nevoeiro que ocasionou a abençoada chuva, que como diz meu netinho Otavio: “São lágrimas de Deus,” apareceu sorrindo e banhando com seus filetes de ouro a terra encharcada. Embora tenha sido uma ilustração momentânea. Tão logo o astro rei começou aquecer a terra, surgiu uma intensa neblina causada pelo choque térmico, vestindo de noiva a bela e umedecida paisagem.

Em questão de minutos não se via além de cem metros à distancia. Arvores, arbustos, estacas de cerca e os animais tornaram-se meros vultos ,que se confundiam, visionados através da cortina branca criada pela densa neblina.

No curral a lama borbulhava fermentada pelos excrementos dos animais. Irrequietas as vacas sapateavam com aquela peiniqueira que causa uma coceira horrível, a tradicional frieira como é conhecida pelo sertanejo, e cujo remédio para a cura no ser humano, é queimá-la com talo de mamoneira aquecido no borralho.

Enquanto eu executava meu trabalho ordenhado no ambiente citado, apareceu meu compadre, as vacas o perceberem primeiro que eu. Fora apanhar o leite, doado a ele diariamente o ajudando na alimentação dos filhos.

--Bom dia cumpade ieu vim busca o leite!

--Bom dia, você hoje ta de cara boa bem humorado, imaginei que não levantaria tão cedo, depois de tantas cambotas da carroça ontem!

--Ieu vim mode busca o leite, ma meu corpo hoje ta pidino é cama memo, ieu to mais istorado qui barata mal murrida!

--K.k.k.k.k. Que isso compadre onde já se viu barata mal murrida?

-Uai cumpade muié medrosa num mata barata direito eza pisa na bicha cum medo, ela isbagaçada só ua banda e fica arrastano num morre ninhusnada fica agunizano andano torta praquí prali pra casa afora, assim toieu hoje ,to todo isbudegado de tanto tombo onte.

--Pois é compadre não nos obedeceu, você queria sentar na grade da carroça com a cabeça mais pesada que o resto do corpo deu no que deu agora taí como é mesmo que disse?

--Barata mal matada qui muié pisa cum medo!

Ma sabe dua coisa ieu to é danado de filiis ieu maginava qui nunca ia tê minha cafua. I dispois qui ieu vim pracá acabô qui cunsigui. Onte ieu falei camuié tem coisa qui acontece na vida da gente qui acaba dano sorte, se ieu num tivesse sido preso mode a danada da galinha, as veis ieu num tinha vindo pracá. Foi aqui que ieu cunsigui arrumá um jeito mode fazê meu rancho. Pezar de mindá ua tristeza danada quando ieu alembro da vergonha qui ieu passei-, durmi na cadeia mode ua galinha!...

-- O Importante compadre é que você se arrependeu pagou a galinha pro homem, e pode construir seu rancho, esqueça isso!

-- Ocê num imagina cumu ieu tenho sufrido quando ieu alembro disso é mesma coisa dum vidro quebrado num tem nada qui remenda o home já me perduô ieu paguei ele, mais quando alembro mim da vontade de infiá a cabeça num buraco e num saí mais nunca. Essa sombra mim a cumpanha sempre dá vontade de chorá de ripimdimento.

-- Tirei duas conclusões na conversa com meu compadre, a primeira é dever que temos para com a nossa capacidade de aceitação, conformando com a fração que Deus nos dá sem exigir muito mais,como fazem os avaros as vezes tem uma palacete para morar e não se conformam estão sempre querendo mais. Enquanto aquele pobre coitado com um ranchinho, de cipó e chão batido estava se achando realizado. Julgando-se o máximo pela sua conquista.

Segunda conclusão o arrependimento de um homem honesto que se martiriza por ter comido a galinha do vizinho para matar a fome, sua e dos filhos.

Em contra partida homens que se dizem cultos roubam descaradamente milhões bilhões e trilhões sem nenhum escrúpulo ocasionando a miséria aos setores da sociedade provocando mortes por falta de assistência medica nos hospitais públicos e em inúmeros outros seguimentos sociais. PS:

--Citei meu netinho Otávio pela beleza de sua expressão no momento em que eu escrevia este texto, com um cartão de semente na mão, ele me chamou dizendo:

-- Vovô paralisa esse computador vêm me ajudar a plantar estas sementes de quiabo?

Não tive como negar e o acompanhei para o quintal aonde ele brinca de fazendeiro... Concluido o plantio ele espetou no chão uma ponta de madeira e colocou nela a sacolinha vazia.

--Pra que isso Otávio?

Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 16/12/2013
Reeditado em 16/12/2013
Código do texto: T4613725
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