UM CAIPIRA CIUMENTO E TEMOSO


Zequinha da Ramira foi um homem trabalhador e correto com os compromissos financeiros que assumia, mas xucro ignorante e de uma teimosia sem limites. Sua familia comeu o pão que o diabo amassou com seu gênio radicalista.
Se dissesse que pau seria pedra não mudava de opinião nem que o diabo tossisse. Freqüentou a escola só o suficiente para quebrar as quinas do analfabetismo como rezava os conceitos dos pais da antiguidade, época em que o trabalho era prioridade para a maioria da sociedade, que mantinha os filhos na escola apenas o tempo de aprender assinar o nome. Alguns mais privilegiados chegaram a aprender as quatro operações da matemática nada mais que isso.
Zequinha foi casado com uma mulher muito humilde e trabalhadora, a pobre coitada sofreu com o seu ciúme doentio. Teve um a penca de filhos. Pra lá de meia dúzia. Todos educados por natureza. Felizmente saíram à mãe como afirmava o avô materno, seu filho mais velho coitado, desde a tenra idade o acompanhou para o trabalho. Nele era descarregada toda a fúria do pai que o tratava pior do que um animal.
Numa ocasião que me prestou serviço fabricado um cocho. Eu fiquei estarrecido e penalizado com a maneira que ele tratou o garoto. A meio quilometro distante eu ouvia seus berros dentro da mata onde os dois se encontravam realizando o trabalho. Preocupado com o que poderia estar ocorrendo dirigi-me até La. Aos gritos dizia:
-- ocê ta memo qui vê o pudrinho do maromba, vai cê ruim no inferno muleque, cria ardência omeno ua vez na vida, ocê num tem sangue não? Pudrinho do maromba!
O menino subia em sua direção conduzindo uma cabaça de água. Assobiando-, fifi, fifi, fifi! Eu o abordei dizendo:
-- O que isso fio seu pai nervoso assim e você assobiando tranqüilo?
--Ah se eu for esquentar a cabeça eu fico é doido já tô acostumado, tô calejado de tanto ele me chingar!
Mais tarde com ele mais calmo, eu o perguntei:
--Zequinha você tava nervoso chamando seu filho de podrinho do maromba porque isso?
--É porque esse muleque só tem tamanho, num vale de nada! O maromba tinha ua égua boa de sela dimais da conta, mais era feia de mata cum pau, mais feia que briga de cego aramado de facão. O vizinho dele tinha um cavalo danado de bunito e ruim de sela igual ua firida. Intão o maromba arranjo o cavalo pra mode tira ua cria dele cua sua égua. Quiria que saísse bunito igual o cavalo e bão de sela igual égua. Mais saiu feio igual a égua e ruim de sela igual o cavalo.
Meu miniino é do memo jeito, saio puxano ieu no tamanho e a ruindade da mãe dele.
UM CAIPIRA CIUMENTO E TEMOSO


Zequinha da Ramira foi um homem trabalhador e correto com os compromissos financeiros que assumia, mas xucro ignorante e de uma teimosia sem limites. Sua familia comeu o pão que o diabo amassou com seu gênio radicalista.
Se dissesse que pau seria pedra não mudava de opinião nem que o diabo tossisse. Freqüentou a escola só o suficiente para quebrar as quinas do analfabetismo como rezava os conceitos dos pais da antiguidade, época em que o trabalho era prioridade para a maioria da sociedade, que mantinha os filhos na escola apenas o tempo de aprender assinar o nome. Alguns mais privilegiados chegaram a aprender as quatro operações da matemática nada mais que isso.
Zequinha foi casado com uma mulher muito humilde e trabalhadora, a pobre coitada sofreu com o seu ciúme doentio. Teve um a penca de filhos. Pra lá de meia dúzia. Todos educados por natureza. Felizmente saíram à mãe como afirmava o avô materno, seu filho mais velho coitado, desde a tenra idade o acompanhou para o trabalho. Nele era descarregada toda a fúria do pai que o tratava pior do que um animal.
Numa ocasião que me prestou serviço fabricado um cocho. Eu fiquei estarrecido e penalizado com a maneira que ele tratou o garoto. A meio quilometro distante eu ouvia seus berros dentro da mata onde os dois se encontravam realizando o trabalho. Preocupado com o que poderia estar ocorrendo dirigi-me até La. Aos gritos dizia:
-- ocê ta memo qui vê o pudrinho do maromba, vai cê ruim no inferno muleque, cria ardência omeno ua vez na vida, ocê num tem sangue não? Pudrinho do maromba!
O menino subia em sua direção conduzindo uma cabaça de água. Assobiando-, fifi, fifi, fifi! Eu o abordei dizendo:
-- O que isso fio seu pai nervoso assim e você assobiando tranqüilo?
--Ah se eu for esquentar a cabeça eu fico é doido já tô acostumado, tô calejado de tanto ele me chingar!
Mais tarde com ele mais calmo, eu o perguntei:
--Zequinha você tava nervoso chamando seu filho de podrinho do maromba porque isso?
--É porque esse muleque só tem tamanho, num vale de nada! O maromba tinha ua égua boa de sela dimais da conta, mais era feia de mata cum pau, mais feia que briga de cego aramado de facão. O vizinho dele tinha um cavalo danado de bunito e ruim de sela igual ua firida. Intão o maromba arranjo o cavalo pra mode tira ua cria dele cua sua égua. Quiria que saísse bunito igual o cavalo e bão de sela igual égua. Mais saiu feio igual a égua e ruim de sela igual o cavalo.
Meu miniino é do memo jeito, saio puxano ieu no tamanho e a ruindade da mãe dele.

(Maromba era o apelido de um fazendeiro aqui do Vale do Picão)


 
Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 20/08/2014
Reeditado em 24/08/2014
Código do texto: T4929909
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