ESTÓRIA DE PESCADOR

PROSA DE PESCADOR

 

Contava meu pai que seu tio Joaquim, que, aliás, era meu tio também, sendo ele irmão de minha avó, foi meu tio de segundo grau. Certa noite de um intenso frio, no entorno de uma fogueira acesa afim de aquecerem, num bate papo com alguns amigos, ali reunidos jogando conversa fora, eles contavam as vantagens sobre suas pescarias. Cada um com sua mentira razoável, então o tio puxou a dele:

--Fui pescar lá no córrego do barreiro semana passada, fisguei um bagre tão grande que tive amarrar ele com o cabo do cabresto na garupa do cavalo pra levar pra casa . Ele tinha cinco palmos fora a cabeça e o rabo! Ninguém se atreveu a dizer nada depois dessa, ninguém se atreveu a dizer nada, foi um silencio total, o velho além da cara fechada e ranzinza, estava de faca na mão picando fumo.

Desapontado ele colocou o fumo picado sobre o banco, onde estava assentado, com a planta dos pés apoiados no chão, espalmou a mão e começou a medir os palmos na perna acima do joelho, um dois, antes do terceiro, já sem espaço exclamou:

-- uai sabe que isso é muita mentira minha! Aí Caíram todos na gargalhada, inclusive ele!

Conheci o tio Joaquim já idoso e debilitado, um velho ranzinza, birrento e mal humorado. Morando de favor e sendo cuidado por meus avôs.

No passado muitos idosos sofreram barbaridades. Sobreviviam com a misericórdia de Deus. Principalmente aqueles desprezados por sua própria família que os julgavam como um pesado fardo, estorvando lhes a vida .

A pobreza e a miséria os tornavam amargos impacientes e revoltados, causando a si próprios, sua exclusão social. Sem forças não conseguiam se quer um trabalho para se sustentarem com dignidade .

Tio Joaquim até que teve sorte, sendo uma das poucas exceções causada por este fator. Embora fosse muito ranheta, ao ponto de mais tarde meu avô montar uma casinha e contratar um cuidadora para zelar dele até seus últimos dias de vida, teve melhor sorte que tantos outros, na faixa etária de sua idade tinha seus filhos, mas viviam em estrema pobreza.

Ele perdeu sua esposa, por falta de uma assistência médica, que no passado ceifou a vida de tantas parturientes ainda jovens, a maioria das vezes levando com elas seu bebê, gestado sem a mínima de assistência, muitos nem chegava a nascer. Assistência essa, inexistente em épocas passadas, interrompendo o sonho de muitas famílias deixando inúmeros crianças órfãos. No caso da esposa do tio. Salvou-se o bebê que foi batizado com o nome do pai Joaquim Albino Filho. Acolhido e criado por meus avôs, como filho adotivo. Criado com o mesmo carinho dos demais filhos do casal, mas no seu final de vida se tornou uma réplica do pai com um agravante pior enveredou no alcoolismo e acabou morrendo atropelado numa BR. Mas esta é outra uma história, que contarei noutra oportunidade.

 

 

 obs: ( Imagem do googlo)

Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 09/01/2022
Código do texto: T7425298
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