* Texto do livro: JARA

O Califa acostumado às excentricidades de sua filha Jara, notando os preparativos quis saber o motivo de tanto rebuliço.

- Minha filha querida - dissera o Califa, abrindo um largo sorriso - o que significa todo esse movimento?

Jara falara então da beleza da tarde lá fora e da vontade de acampar livremente no seu oásis preferido.

- Lá fora o céu se incendeia nos raios mortiços do sol que se deita, meu pai, e eu sinto-me embriagada por toda essa beleza e quero mais uma vez apreciar de perto toda essa beleza - explicara Jara, fazendo com as mãos um gesto que abrangia toda a herdade.

Com um sorriso de benevolência o califa assentiu:

- Seja, minha louca criança, jamais pude negar-lhe um mimo sequer - dissera o califa, porém, havia desta vez em seu rosto um ar preocupado e Jara compreendeu... Mas fingiu não ver e sorrindo lhe estendera sedutoramente as mãos e dirigindo-se a uma das janelas mostrou-lhe o ar encantado da tarde que começava a querer descer sobre a Terra, lá fora.

- Veja, olhe ao longe o céu róseo que parece encarnar todas as cores do sol nas flores do meu jardim. Meu pai, aprecie comigo esse doce entardecer e sinta a magia da brisa quente - dissera -lhe Jara sorridente.

Logo a magnífica comitiva da princesa Jara deixava o Palácio, rumo ao deserto, escoltada por bravos guerreiros da guarda real. Em sua rica liteira montada sobre um camelo seguia a altiva princesa, rodeada pelas suas aias. À sua frente seguiam alguns batedores da guarda real, encarregados de evitarem os perigos do caminho e Jara seguia linda e monárquica, envolta em véus de rara beleza, acomodada em coxins sobre o camelo, rodeada pelas aias e eunucos, sempre fiéis à sua ama.

Caia a noite quando alcançaram Falléh. A luz prata do luar iluminava esplendorosamente o deserto, tornando a areia branca e sedutora. As primeiras estrelas faiscavam no céu ainda claro, como se saudassem aquela inusitada visita, quando Jara se acercara do seu oásis predileto. Reinava naquele lugar um ar de encantamento místico, sob as palmeiras que projetavam à luz do luar suas sombras alongadas e bonitas sobre a vegetação rasteira e a superfície do límpido espelho d’água que refletia a luz das estrelas.

Majestosamente ajudada pelo seu fiel eunuco Morát, Jara pisara a areia fina do oásis de falléh e caminhando calmamente dirigira-se com três de suas aias para as margens do pequeno lago, enquanto os servos desmontavam os apetrechos da viagem e armavam a rica tenda de sua altaneira ama.

- Jamila - chamou Jara, num tom suave, à sua serva.

- Sim, minha ama - respondeu a aia inclinando-se reverente ante a princesa.

- Jamila, a lua vai alto ao céu, quero aproveitar o ar encantado dessa noite para decidir sobre a melhor maneira de executar o meu intento. Busca tua cítara e toca para mim. - ordenou.

- Minha ama, teu menor desejo é ordem para tua humilde serva, não me demorarei Alteza - respondera a aia, numa reverência.

Alguns minutos se passaram até que Jamila, a aia predileta da princesa, retornasse empunhando a cítara.

Jamila era uma bela jovem, de tez morena e expressivos olhos negros, traços delicados e serenos, de radiosa beleza. Vinda de nobre família da Arábia, criara-se praticamente junto com a princesa, e intensa amizade nascera entre as duas desde a mais tenra idade, tanto que depois de crescidas, Jara para não se separar da amiga fez dela sua aia, a primeira dentre todas.

-Toque Jamila e cante suaves melodias para alegrar o coração de sua princesa - falara Jara.

Atendendo à imperativa solicitação de sua ama e senhora, Jamila sentou-se numa rocha à beira do lago e tirou de seu instrumento as primeiras notas, iniciando uma suave melodia que ia aos poucos embalando o coração irrequieto da bela Princesa de Bagdá. Cantando, a meiga Jamila levava ao coração do irreverente princesa um toque de ternura e melancolia.

Arádia Raymon
Enviado por Arádia Raymon em 17/10/2009
Reeditado em 17/10/2009
Código do texto: T1872141
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