Reencontro

Depois de longos anos, enfim ele criara coragem para romper a barreira do medo, da insegurança, da procrastinação, que já durava mais de uma década: resolvera procurar por ela.

O local era mesmo aquele, estava certo disso, mas não tinha certeza quanto ao número. Conferiu o número escrito em letras miúdas no pequeno pedaço de papel que trazia nas mãos tremulas. Sim, era o mesmo gravado na edificação diante de seus olhos. Mas agora que estava ali o que fazer? Trazia flores em uma das mãos. Rosas. As preferidas dela. (será que gostava ainda?). Tanto anos. Era estranho voltar depois de tanto tempo.

Ficou parado ali, petrificado; o coração disparado parecia querer sair-lhe pela boca. Estava incerto quanto ao próximo passo. As lembranças vinham-lhe em turbilhões: o rosto fino e sardento da ninfeta de olhos grandes e negros, a pele alva, o sorriso. Ah, como era fácil sorrir naquela época; o corpo esguio de menina mulher, fruto amadurecido antes da época e tantas vezes por ele saboreado.

A mente do ser humano é realmente algo misterioso. Mal podia se lembrar com quem falara um dia antes. Mas ali, tão perto dela, podia reviver cada segundo dos momentos que passaram juntos. Os ambientes luxuriosos onde se encontravam as luzes multicoloridas, a fumaça nebulosa típica do lugar. Os sons, os odores, misturados, o vestido preto que ela tanto gostava; justo, colado ao corpo, que esculpia, modelava e definia as curvas do corpo quase infantil. Veste mais curta do que normalmente aprovaria, mas a ela era permitido. Tudo era permitido. Podia ainda sentir o calor do seu corpo. O gosto do seu beijo; misto de uísque, hortelã e cigarros: Plaza, sua marca preferida!

A vida acabara de desabrochar para ela, mas já se sentia uma mulher, e agia como tal: forte, independente, decidida, atrevida, teimosa, e, às vezes, frágil. Delicada e moleca...

Ele não entendia como tudo pode acabar assim, de repente, não era justo, (mas quem disse que a vida é justa?),

Haviam planejado tanto: uma vida “perfeita”.

Ele estava ali agora, tão perto, tímido como um adolescente; tremulo e ansioso. Enfim chegara o grande dia, ia revê-la. Percebeu de repente que sua face estava molhada. Ele chorava. Em devaneios acreditava que enfim, tudo iria ficar no passado, fora apenas um sonho. Não estiveram há tanto tempo longe um do outro. Não. Não seria possível, nenhuma força seria capaz de separar duas pessoas que se amavam tanto.

O sol se punha, já era quase noite. O vento frio o fazia voltar ao dia em que se conheceram; de olhos fechados quase podia senti-la em seus braços. Foi quando uma voz lhe trouxe de volta.

— Está tarde, se não se importa de sair, preciso fechar o cemitério.

Luciano de Assis
Enviado por Luciano de Assis em 08/09/2011
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