Lembranças de meu pai

A chuva caia pesada escorrendo pelo vidro.

O relógio carrilhão já estava a esbarrar na meia noite.

eu olhava atentamente um inseto que insistia em carregar outro menor.

Meu pensamento era a música de infância,

cantada pelo meu pai quando eu ainda era uma criança,

o som da voz dele... ponderada e levemente rouca recordava-me coisas agradáveis e puras.

Foi uma doce lembrança de seus cabelos brancos,

de seus olhos azuis esverdeados, lembrando o passado em contos felizes.

Lembrei dos trovões que bradavam com o tempo,

intercalando os relampados, que brilhavam em meus olhos curiosos de criança.

O chá que eu sempre pingava o leite e molhava os biscoitos de mel.

Meu pai, sempre com um sorriso no rosto me apertando o nariz.

Me dizia que era um leão branco, sempre observando tudo.

Foi uma lembrança e tanto... senti falta de suas suaves mãos,

desenrolando os caracóis dos meus cabelos.

Levantei-me e fechei a janela, já não tinha mais motivo.

A chuva parou e os trovões foram alardear noutro lugar.

Não tinha mais graça eu cresci e

meu pai... não estava mais lá a cantar.

Joaquina Affonso
Enviado por Joaquina Affonso em 08/08/2018
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