O GRANDE CORAÇÃO de BRAS - Série: Figuras de Poções

O GRANDE CORAÇÃO de BRAS - Série: Figuras de Poções

Nem um busto na praça, nada na memória do município sobre o grande benfeitor de Poções - Biaggio (Bras) Labanca, cuja usina termo-elêtrica iluminou por várias décadas a vida do poçoense, parando com a sua morte. Daí em diante a tradicional e progressista Poções teve que ficar sem energia por muito tempo, até que o governador Lomanto Junior mandou instalar nova usina, alguns anos depois.

Fala-se que Labanca não recebia pagamento da iluminação pública há anos e que as contas particulares mal davam para a manutenção dos seus geradores... Por isso, morreu pobre, mas deixou grande legado para os filhos Miguel, Gilberto e Giuseppina.

Registre-se a ingratidão de todos os prefeitos de Poções para com o grande homem que foi Biaggio Labanca. A cidade ainda lhe deve um busto em praça pública.

Nas décadas de 1940 e 1950 deste século, vários personagens faziam parte do cenário poçoense. Naquele tempo Poções servia-se da energia termo-elétrica oriunda de um grupo gerador pertencente ao italiano Bras, simpático, de baixa estatura, meio gorducho..

Ele era representante do Banco do Brasil, uma vez que, até então, a cidade não dispunha de agências bancárias e nesse mister, prestou relevantes serviços à comunidade...

A iluminação pública - com toda a sua infra-estrutura, era pois, de sua propriedade. As residências recebiam energia das 18 às 23 hs.

Lembro-me bem que, cerca de 15 minutos antes do desligamento total, a usina desligava e ligava a rede de distribuição alertando os consumidores para a interrupção dos serviços. Outro sinal era emitido faltando 5 minutos para às 23 hs. Aí era um corre-corre danado. Todos se animavam para enfrentar a escuridão. Os que se encontravam pela rua despediam-se dos amigos e corriam para casa. Os que se encontravam em casa, ou dirigiam-se para o quarto de dormir ou tratavam de acender lampiões, fifós, candeeiros, lamparinas e velas. Às 23 horas, a cidade adormecia por completo ou quase por completo. Dai por diante, vez por outra, ouvia-se o apito de um guarda noturno durante a madrugada não sendo comum qualquer tipo de algazarra, a não ser em épocas festivas do Divino Espírito Santo, São João, Natal e Reveillon, quando a energia era gerada até às 4:30 hs. por determinação das autoridades.

Dia após dia, noite após noite, repetia-se esse ritual que haveria de durar enquanto durasse a vida de Brás.

Mas haviam os contratempos. Defeitos no grupo gerador não eram constantes, mas aconteciam.

A frente da usina termo-elétrica dava para a rua Apertada, posteriormente batizada de Olimpio Rolim. Os fundos davam para a atual rua da Itália. Nestas ocasiões, era um Deus-nos-acuda. Munidos de lanternas à pilha, íamos para a usina assistir as tentativas, na sua maioria com êxito, do conserto das máquinas. Em determinado momento Bras gritava os auxiliares Leocádio e Nicola Leto, pedindo-lhes que tomassem tal providência, ora Leocádio, ora Nicola eram alternadamente chamados por Brás que tinha voz tonitruante, de se ouvir a 50 metros. E era aquele trabalhão, com ameaças de disparar o motor. Até que acontecia o melhor. O gerador funcionava, inicialmente em baixa rotação e, num crescendo, chegava ao ritmo ideal para que pudesse ser ligada à rede de distribuição. Aí ouvia-se dos quatro cantos da cidade, gritos de alegria em coro: era o momento de glória... Todos se cumprimentavam felizes... Poções, então, sorria ao som daquele monstro de aço que era comandado pelo grande coração de Bras...

Ricardo De Benedictis
Enviado por Ricardo De Benedictis em 31/07/2005
Reeditado em 03/09/2008
Código do texto: T39116
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