O REMÉDIO TROCADO

Na época o dia-a-dia andava um tanto corrido. Acordava muito cedo para deixar tudo em ordem e ir trabalhar. Não sou perfeccionista... Digamos que tenho senso de responsabilidade e se vou executar uma tarefa, primo por oferecer o meu melhor.

Assim, já deixava a mesa do café arrumada, de acordo com o gosto de cada um e para o “maridão” deixava também os remédios e o copo com a água para que quando acordasse estivesse tudo no seu lugar.

Eu também tomava um remédio pela manhã... Peguei os remédios dele e o meu, fui até a cozinha... Tirei o comprimido da embalagem coloquei na boca e “vupt”, engoli... Senti um gosto estranho... Meu remédio não tinha gosto assim... Quando olho a embalagem... Nossa eu havia tomado o comprimido que o marido usava para controle de pressão alta e não o meu. E agora?

Fiquei assustada. Alguém pode até dizer: só por isto? Não só por isto, tenho pressão baixa, meu normal é 90 x 60mmHg. O que significa que um comprimido de 10mg para hipertensos e ainda tomado em jejum, poderia sim causar um belo susto.

Não sou de incomodar ninguém, todos dormiam, a secretária ainda não havia chegado, achei por bem resolver a situação sozinha.

Enfiei o dedo na garganta e nada, mais uma vez e nada... Corri a colocar água no fogo para esquentar e, quando morna, comecei a tomar... Nada, o raio do estômago não colocava nada para fora.

Fui ficando mais assustada e resolvi ligar para uma amiga médica. Várias tentativas e o telefone desligado... Droga, ela nunca desliga este telefone, pensei. Vai ver estou discando errado... Exato, fui até a agenda e estava mesmo ligando para o número errado.

Consegui falar com a doutora, expliquei tudo, ela advertiu que eu ficasse calma, passou-me as instruções que deveria seguir e disse-me que qualquer coisa ligasse ou fosse até ao seu consultório...

A família foi acordando, surpresos por eu não ter ido trabalhar, expliquei o ocorrido... Já estava dando aquela moleza junto com o sono (sinal que a pressão estava a baixar)... Ficaram assustados, mas eu os confortei e aproveitei que todos estavam acordados (se eu morresse ao menos haveria alguém desperto) caí na cama e dormi de nove da manhã até as cinco da tarde num sono só...

Quando consegui despertar, liguei para a amiga médica avisando que estava viva e bem. Então ela me disse:

- Olhe, não me faça mais isto, onde já se viu tomar remédio errado para faltar ao trabalho.

Eu respondi:

- Tudo acontece comigo, se eu conto isto, ninguém acredita... Eu mereço, joguei chiclete na cruz, só pode ser...

Ela sorrindo me segredou:

“Normal, acontece com outras pessoas também... Outro dia levantei para ir trabalhar, peguei os sapatos e saí do quarto com eles nas mãos... Não é que os danados desapareceram? Procurei por todo lugar e nada... Voltei ao quarto, peguei outro par de sapatos, calcei e fui providenciar outras coisas... Imagine que quando abri a geladeira os sapatos que eu havia perdido estavam lá dentro.”

E ainda disse mais:

- Se você contar isto para alguém eu nego, digo que você inventou...

Fiquei conformada e satisfeita... Ufa! Sou normal, afinal eu não era a única atrapalhada neste mundo.