"NO CASO"... JÁ VEM PROBLEMA

"No caso" era uma figura ímpar. O fato é que estava ali na nossa turma e dava trabalho. Ora pelos seus discursos infindáveis, ora por sua falta de entendimento das falas... Quando ele usava o termo “no caso”, vinha bomba. Estava sempre envolvido em situações constrangedoras.

O professor de História da Urbanização era um amor de criatura... Calmo, "na dele", muito alegre, brincalhão... Um baiano de corpo, alma e coração que todos amavam, mas “no caso” conseguiu criar uma circunstância desagradável entre ambos.

Eu, como "a mãe de todos", tinha que ter jogo de cintura e apaziguar os ânimos, mais precisamente no que tocava ao “no caso”. Este era realmente um “cabeça dura”. Para se ter uma ideia, determinado dia nos dirigíamos à sala de aula e “no caso” estava fumando. Havia aquela lixeira que em cima é cinzeiro e na parte inferior é a lixeira propriamente dita, ele jogou a “bituca” do cigarro na parte inferior.

Eu ainda disse:

- “No caso” você jogou o cigarro aceso na lixeira, tem papel, vai pegar fogo...

- Vai nada, respondeu ele.

Tudo bem, cada um é responsável pelos seus atos. Entramos na sala de aula, mas eu fiquei preocupada com a lixeira. Após alguns minutos não resisti e fui até a porta dar uma olhada se tudo estava bem e qual não foi a surpresa: o corredor estava cheio de fumaça e a lixeira pegando fogo. Entrei correndo e disse:

- “No caso” a lixeira está pegando fogo, seu incendiário. Corre lá.

Ele saiu em disparada e foi conter o “incêndio”. Eu, aborrecida, deixei que ele se virasse sozinho, afinal eu havia avisado e ele não ligou.

Bom, voltando ao caso do professor. Este ensinava História da Urbanização e mandou que fizéssemos um trabalho abordando algumas características dos bairros de Maceió. "No caso" veio me mostrar o trabalho dele e era algo muito estranho. Fui sincera no meu parecer:

- “No caso” não é assim, você tem que fazer um resumo das características. Não é imprimir tudo que encontrar. Aqui tem até os endereços dos sites no cabeçalho. Não pode ser assim...

- Não, respondeu ele, tem que ser tudo, o endereço é a referência bibliográfica, não tem que ter? Argumentou.

- Tem, mas não assim. Você deve obedecer as Normas, lá no final da apostila tem o tópico sobre a Bibliografia...

- Não Mãe, responde ele, é assim mesmo do jeito que estou fazendo. Retrucou.

Calei, ele realmente não entendia o que eu falava, nem sei porque “cargas d’água” pedia ajuda se não aceitava opiniões. “No caso” simplesmente acessou a internet e tudo, absolutamente tudo, que tinha nos portais ele copiou, era um calhamaço impressionante, totalmente “CtrlC/CtrlV”.

Não aguentei e contei para a turma o que estava se passando e todos ficaram “acesos”, querendo saber qual seria a reação do professor ao receber a “obra de arte”, inclusive eu (afinal não sou de ferro e nem santa).

Foi muito engraçado! No dia da entrega dos trabalhos o professor não veio até a sala de aula, ficou na Diretoria de Ensino e nos dirigíamos até lá para entregar. Todos estavam “ligados” no momento do “no caso” entregar o seu. E chegou a tão esperada hora. Lá vai “no caso” entregar sua quase uma resma de trabalho e a turma atrás, disfarçando, para ver a reação do professor. Eu, como “mãe” de todos, tinha lá meus privilégios e consegui entrar junto com “no caso” e presenciar a cena de perto.

Quase me arrebentava, contendo o riso: “no caso” entregou o trabalho, o professor olhou para o calhamaço, olhou para “no caso”. Olhou para alguns da turma que estavam por ali dissimulando, dedilhou as folhas. Repetiu o gesto umas três vezes... Sabe aquela cara de “não acredito que isto está acontecendo” junto com uma vontade reprimida de soltar umas boas gargalhadas? Uma cena inesquecível. O professor ainda conseguiu dizer:

- Nossa, onde você arrumou tanta coisa “no caso”?

Cada um foi saindo de fininho enquanto “no caso”, com sua falação infinda, explicava ao professor como conseguiu realizar o feito. A gargalhada lá fora foi geral, rimos até não poder mais.

Após este dia “no caso” sumiu. Não se soube mais notícias dele, entretanto continua presente nas nossas memórias e quando nos reunimos sempre alguém cita: - “No caso”... E a gargalhada é geral.