Fala-se muito em romances nascidos e desenvolvidos através da internet, com isso ela tornou-se a vilã em muitos casos. É certo que assistimos na tv, declarações de amores que aconteceram a partir deste canal, muitos casamentos , inclusive, o famoso papo no msn. Acredita-se que quando alguém está meio apagado é fácil convence-lo a algo, mesmo se isso for desconhecido, aliás, torna-se até mais prazeroso, por ser fantasia sem limites.

O casamento de Sara, andava um tanto balançado, muito balançado, não por causa da internet – que ela nem tinha assinatura ainda- o marido era considerado um D. Juan a muito tempo, esse casamento sobrevivia a mais de vinte anos – aliás ela não devia se chamar Sara e sim Amélia, era a mulher de verdade (qual será a visão da mulher de verdade ?)

O D. Juan, digo, João, quase com 60 anos ainda ‘’ciscava em alguns terreiros’’, cismava que ainda podia dar uma de garotão, e ela, depois de ter cuidado dos filhos da melhor forma possível, encontrava-se só com seu João – só, é modo de dizer que os filhos deixaram o ninho, cada qual em busca de sua própria vida - na verdade, ela continuaria literalmente só se não fosse sua profissão que, verdadeiramente, tornou-se sua primeira casa. João quase nunca aparecia, sempre ‘’trabalhando’’ - na verdade ele trabalhava muito, era o que o salvava de tudo que ele era - mas companheiro, amigo, parceiro da Sara ? nunca fora. Sempre a via como aquela que estava ao alcance de seu grito quando chegava e do portão gritava : ‘’ Saraaaa, cadê meu almoço que já tô saindo’’, e mais que depressa ela servia-lhe o almoço e dava graças a Deus quando ele mal engolia e saia, bufando qualquer coisa ininteligível.

Com o passar do tempo, Sara aprendeu a usar o computador do trabalho, ‘’que xik !!!’’ e batia palmas de alegria , feito criança, mais algum tempo ela já navegava que era uma beleza, na internet; aprendeu a se cadastrar em alguns sites, divertia-se teclando com seus filhos, seus irmãos, abriu um tal de orkut – e não é que ela cresceu ? – fez muitos amigos. Sentia-se GENTE. Via-se outra pessoa.

Certo dia comprou seu próprio computador, - dos melhores, dizia ela - mas pra quê computador sem internet ? – Sara trabalhava muito, 8 horas por dia, 5 dias por semana e tantas horas extras que até perdia a conta, pois sobrava-lhe tempo e em função disso seu salário era, digamos, compensador – isso também fazia os olhos do João pularem pra fora de ansiedade pra dividir os ganhos, o que ela sabiamente, freou o mais rápido que pode , (após alguns anos, mas freou) – já comprara seu próprio carro, pois o trabalho era longe e estava na hora de deixar a bicicleta apenas para se exercitar no final do dia.

De posse da magnífica tecnologia em casa, começou a chegar mais cedo, pois tinha seu jardim pra cuidar e dezenas de amigos lá esperando por ela, amigos e amigas que amavam seus recados e mensagens , diziam-lhe que depois que a conheceram suas vidas melhorava pelas palavras de carinho vindas dela. E Sara tornou-se uma pessoa mais amável, mais sorridente, mais feliz.
Nos poucos dias que o João ficava em casa, era bem tratado pela Sara, mas nada igual ao que era antes, alguma coisa tinha mudado ‘’ que diacho tá acontecendo cum essa mulher ? não pergunta mais nada, não pega minha toalha pro banho, nem minha roupa pra eu vestir, hoje disse que não porá mais minha comida, que ela estará pronta no fogão e que quando eu quiser que vá lá comer, que ta acontecendo ???’’ - e se pôs ‘’de bode’’. Sara, insone, passava o tempo em seu computador, fazia pesquisas, conversava com amigos, cada dia aprendia mais, aquele mundo a fascinava.

João passou a vê-la ali naquele ‘’quarto de computador’’ , como ela dizia, com muita freqüência, aliás, freqüência demais e começou a pegar no pé da Sara. A verdade é que ela estava viciada naquilo, passou a fazer parte da sua vida de uma forma inexplicável e, João bufava, e João que bramia e João que espiava e João que não mais dormia...
Acostumado a viver em clima de conquistas e safadezas ele gritava: ‘’ essa mulher tem home , essa mulher tem home, se pego eu mato...esfolo...corto o pescoço...etc...etc...e Sara, em silencio seguia sua vida, a vida que ela amava: ‘’aqui num clic em começo e termino, quando quiser, aqui ninguém me enche se eu não deixar.’’

O pobre do João não sabia mais o que fazer, perdera a mulher.

Um dia, em casa de amigos, surgiu a conversa sobre internet e ele ficou de escuta, o amigo dizia pra filha: ‘’continue com esse bate papo sem fim, que te ponho um gravador neste computador, veja o que conversa ‘’ - ‘’ai ai ai , como não pensei nisso antes ? ‘’ – se ele fosse instruído ele dizia : EUREKA !!!, mas não era, dependia de outras pessoas pra descobrir algo mais e foi o que ele fez. Contratou alguém, gravava tudo que ela ‘’falava’’ imprimia e como se não bastasse jogar tudo na cara da pobre ainda saiu mostrando ‘’a prova dos nove’’ - ‘’ tão vendo ? ela tem home nessa tal de internet...eu mato... eu quebro... eu esfolo...eu isso......eu aquilo... e la´estava o inferno armado , bem em sua casa - Ahhh, Sara !!! e você que pensou que ninguém percebia ? viu Sara ? e agora ?

Mais do que nunca, segura de si, nem por um momento ela titubeou, diminuiu é bem verdade, mas não abandonou tudo que ela levara tempo pra construir. Se separaram após uma luta infernal, humilhação, danos morais pro resto da vida.

Mas o bom da vida é que nada fica assim no ‘’ora veja’’, o tempo mostra, o tempo cobra com juros e correção monetária e mais cedo ou mais tarde algo acontece e a realidade aparece.

Sara era uma mulher muito séria, bonita e batalhadora. Os colegas de trabalho ensaiavam uma intervençãozinha, tentavam arrancar algo dela, mas ela nem aí...até que uma colega mais ousada , cheia de coragem disse-lhe : ‘’Sara, não é justo que você fique assim, reaja , saiba que o ultimo caso de João terá um filho em breve, não é você a vilã, você foi usada, abra os olhos mulher, não sinta-se culpada.’’

E no mês seguinte mais um filho do João veio ao mundo, mais um pra penar,
E o João ??? ahhhh, o João, ‘’comprei um ‘’Note Buque’’ ultimo modelo’’.
E a Sara ? ah, ela continua com sua vidinha simples...
‘’Amélia não tinha a menor vaidade...
Amélia que era mulher de verdade !!!’’ nessa altura, ela deseja mesmo é ser feliz, mesmo que seja pela internet – Õ bicho difici é home sô !!! na minha cama, quero mais não !!! - mas o tempo Sara...o tempo...esqueceu ??? dá um tempo ao seu coração.











Eny Miranda
Enviado por Eny Miranda em 28/09/2009
Código do texto: T1837125
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